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A estrada psicodélica da Ventilador de Teto

  • Foto do escritor: Michele Costa
    Michele Costa
  • 7 de fev.
  • 6 min de leitura

"Eu sei o que preciso para contar uma história", a estrofe de "Marechal Hermes", presente em Debute (2018), descreve a banda carioca Ventilador de Teto. Com uma amálgama de gêneros e influências, o grupo mistura vivências, memes e piadas para narrar sobre a vida. 


Formada em 2015 por Elvis Gomes (guitarra/voz) e Marcos Gabriel (guitarra/voz), durante a juventude, a VDT, como é conhecida, surgiu a partir do hype daquela época, isto é, Arctic Monkeys, Strokes e Lupe de Lupe. Hoje, dez anos depois, a banda está transformada: além da dupla de amigos, a Ventilador de Teto conta com Lucas Boldrini (bateria) e Theo Ladany (baixo). Mesmo com o tempo passando, eles continuam fazendo graça, afinal, a vida já é cruel demais. 


Por e-mail, a banda falou sobre o tempo de estrada, letras, o início da nova turnê e a misticidade do significado da banda. 


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ventilador de teto
Créditos: Virginia Ballesteros

O nome da banda tem alguma história por trás? 

Elvis: Temos um combinado de que a resposta verdadeira pra essa pergunta não seja mais dita, então a cada pergunta a gente inventa uma nova. Essa confissão é exclusividade aqui. Mas a resposta da vez é: no quarto que ensaiávamos bem no início tinha um ventilador de teto, daí num desses ensaios em que você acaba de tocar, deitam todos no chão mesmo, olham pra cima em silêncio, o nome surgiu. Soa melhor essa história do que a original, juro.


São dez anos de Ventilador de Teto. Como se sentem ao continuarem na ativa por uma década? 

Marcos: Cansados.

Elvis: Aos trancos e barrancos.


No início a banda tinha uma sonoridade diferente do que é hoje. Vocês chegaram na sonoridade desejada?

Marcos: Nós tocamos bem juntos e somos uma boa banda, mas a tal sonoridade desejada só seria alcançada, seja ela qual for, se a gente tivesse tempo de realmente ensaiar, coisa que não temos no momento.

Theo: o Marcos é meio ranzinza né kkkkkk mas ele tem um ponto, a gente tem muita dificuldade de se reunir pra ensaiar e isso deixa as coisas mais devagar. Mas acho que a banda tá cada vez mais perto do que a gente se propôs a fazer quando a gente voltou há três anos: tocar indie rock, mas sem se alienar em relação ao que nossos vizinhos (e nós mesmos) escutamos. Sempre dá pra ficar melhor, mas acho que nunca esteve tão maneiro quanto nesse disco de agora por exemplo.


Em Desejo/Sufoco vocês cantam: "você ainda tem os seus sonhos com suas jaquetas de couro?". Hoje, na fase adulta, vocês ainda têm os mesmos sonhos e a mesma vestimenta do passado? 

Marcos: Se bem me lembro, esse verso era uma referência direta a uma certa tendência no nosso ensino médio (meu e do Elvis) que envolvia o uso de jaquetas de couro por garotos pubescentes que escutavam Arctic Monkeys. Eu não escutava, mas tinha uma. Elvis escutava e tinha. É o tipo de coisa que marca a vida de um nerdola socialmente atrofiado sob o risco constante de se tornar incel. Todo garoto é meio incel, se você deixar a coisa correr solta. Gosto de pensar que não sou mais assim hoje em dia.


As influências, obsessões e temas são variados. Como é o processo de criação? 

Theo: Marcos e Elvis têm uma planilha de músicas que eles escrevem. A gente vai filtrando quais que fazem mais sentido no momento e que combinam mais e daí vamos arranjar elas juntas no estúdio de ensaio.


Desde o início da banda, vocês pregam a ideia de nunca se levar tão a sério. Isso continua? O modo de não se levar tão a sério é consequência da falta de compreensão com as diferentes gerações?  

Marcos: Eu nunca concordei com a coisa de "não se levar a sério" porque eu me levo bastante a sério. Ninguém se mete nesse negócio de música e fica dez anos nisso se não se levar a sério, se não sentir que tem algo de bom pra compartilhar. Eu nunca curti muito a persona irônica-memética que a banda tinha nos idos de 2018. Isso era coisa do Elvis que tinha bastante tempo livre na época. Hoje em dia ele não tem, então sou eu que cuido das redes, mas nossos números não chegam nem aos pés do que costumavam ser naquele tempo, então tire as conclusões que quiser. De todo modo, nós somos pessoas bobas que gostamos de fazer bobeiras entre amigos. E pra além disso somos artistas. A questão é que existe um tipo de performance de falsa importância e de autopromoção nas redes que é um saco e do qual a gente não consegue fazer parte. Se isso quer dizer não se levar a sério, então é isso.


Vizinhança foi feita durante a pandemia. Como foi fazer um disco durante o isolamento? A sonoridade daquele período mostra muito o que passamos… 

Elvis: Acredito que reinventar a proposta da banda foi uma urgência e necessidade daquela época. As coisas que dávamos muito peso anteriormente deixaram de importar, havia algo de muito estranho e desesperador acontecendo no mundo pra que valesse a pena pensarmos tanto e, consequentemente, travarmos tanto. A partir daí, virou algo fundamental que a gente se divertir no processo, fazer a música que quiséssemos, com qualquer influência possível, incluindo as intercorrências involuntárias do gosto musical dos nossos vizinhos de isolamento, que eventualmente se tornaram bem-vindas e inclusive parte do processo criativo.



Vizinhança Pt. 2, novo EP da Ventilador de Teto 


ventilador de teto
Arte: Anna Brandão

Recém-lançado, o EP Vizinhança Pt. 2 é uma sequência do projeto iniciado em 2023. Em quatro faixas, a banda transita entre o pop e as influências particulares da banda. 


Se o primeiro Vizinhança misturava o indie rock característico do grupo ao tecnobrega, ao samba e ao piseiro, Vizinhança Pt. 2 representa, a um só tempo, uma continuidade e uma mudança de marcha. Isso porque as misturas são menos radicais: com a saída da tecladista Grisa, a banda convocou o músico PH Mazza para se ocupar das teclas, o que conferiu um caráter mais jazzista a algumas das faixas. 


"Os dois EPs na verdade são um só. O único motivo por trás desse lançamento fracionado é a grana. Era preciso arrumar dinheiro para gravar o restante do material. No meio do caminho, a gente se enrolou com nossos respectivos empregos e com toda a sorte de conta pra pagar", compartilha Marcos. 


Vizinhança Pt. 2 dá continuidade ao EP anterior, mas com uma pegada mais pop e jazzista e com uma nova formação. Como foi esse desenvolvimento? 

Theo: Muito parecida com a anterior, na verdade. Talvez um pouco mais estendida. A gente fez uma pequena pré produção antes dessa vez pra poder se familiarizar com as músicas ouvindo-as sem ser só tocando-as, acho que isso ajudou a ter algumas ideias que não rolariam de outra forma - como doenças dermatológicas, que cresce a beça ao longo da música e tal. A formação é o mesmo núcleo, a maior diferença foi a falta da Grisa - que é uma pessoa e artista fenomenal, mas agora mora em Juiz de Fora. No pt 1 ela tava aqui no Rio quando a gente começou a ver as músicas, então foi mais fluido. Com ela lá, e permanentemente agora, com o trabalho dela, acabou que não deu pra seguir, mas foi tudo numa boa.

A maior diferença mesmo foi a inclusão do Victor Damazio (Manchester Fluminense, Sereno, Um Quarto ¼) como produtor, ele é um gênio, pô. Sabe quando segurar no arranjo, onde ser maximalista, como arrancar o máximo de uma gravação dentro de um armário. Ele é o verdadeiro camisa 10 desse Ep. Além disso, o Ph Mazza, que destruiu nas partes de piano dele, em ambas as "Doenças..."


A turnê acontecerá em breve. O que podemos esperar dos shows?

Theo: Que a gente fale besteira, eu tropece e derrube algo, Marcos use o fuzz alto demais e boldinho faça uma piada de duplo sentido após o show.

Elvis: Theo não citou nenhuma ação minha, o que me deixa magoado.


Turnê Homens Trabalhando 


É difícil conciliar shows com o trabalho - por isso o título da turnê. Elvis Gomes passa a maior parte do tempo dividido entre as ocupações de psicólogo clínico e acompanhante terapêutico do CAPS. Theo Ladany e Marcos Gabriel Faria, por sua vez, seguem carreiras acadêmicas: o primeiro como mestrando em Engenharia Química, o segundo como doutorando em Comunicação. Já Lucas Boldrini é barista e gerente de um café. 


"A gente só pode viajar aos sábados, basicamente, porque na segunda o Boldo precisa abrir o café e o Elvis tem que atender”, explica Faria, que organizou as datas da tour. “Ou seja, precisamos voltar no domingo logo cedo. Isso limita as distâncias que a gente pode cobrir. Não dá pra ser um Vitor Brauer e viajar 24/7, pelo menos não ainda, mas essa é a meta", arremata.


Confira as datas:


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