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Foto do escritorMichele Costa

A Eutrópica de Andrezza Santos

Sapopemba, São Paulo x Juazeiro, Bahia. Sudeste e Nordeste. Brasil. São 31 horas de viagem de carro; de moto 45 horas. A cantora e compositora, Andrezza Santos, conseguiu diminuir a longa distância dos dois lugares ao trazer alguns cenários sonoros em "Eutrópica", primeiro álbum da trilogia que será desenvolvido ao longo de 2021. "Eutrópica" conta com as diversas vivências que Andrezza viveu no bairro da capital paulista, até se acolher em Juazeiro, norte da Bahia, em 2015.


Seis anos depois, Andrezza, que é uma multiartista - além de ser cantora e compositora, também é atriz, produtora musical e professora -, retorna a cidade de pedra para mostrar suas diversas Andrezzas em "Vagão Vazio", videoclipe recém-lançado. Suas canções remetem às diferentes facetas que refletem os altos e baixos através de peso, leveza, drama e alegria, do jeito que é vida. Além disso, a cantora quer que suas canções cheguem ao máximo de pessoas, furando bolhas, pois, assim, a vida fica mais fácil, porque a arte salva.


Variando entre estilos musicais, a cantora e compositora busca passar a mensagem que é possível ser verdadeiro e a aceitação é o primeiro passo para sentir tudo que a vida entrega: "É esta a mensagem que sempre busco passar para o meu público: que não tem nada mais lindo do que ser quem a gente é, principalmente quando permitimos nos conectar para evoluir ainda mais", explica por e-mail. Segure a mão de Andrezza, pois vamos viajar com ela e conhecê-la por completo.


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Você começou cedo na vida artística. De lá para cá, muitas coisas mudaram?

Sim! Desde pequena, já tinha a compreensão de que as coisas não seriam fáceis, principalmente sendo mulher, pobre e periférica, tentando sobreviver de arte, uma área extremamente privilegiada e elitista. Mesmo assim, a cada passo tenho tentado ocupar espaços através do conhecimento (minha formação gira em torno de instituições públicas), furando bolhas e ocupando espaço com a minha voz. Neste sentido, sempre estive com os olhos e ouvidos bem atentos para aprender. Hoje vivo o meu sonho de criança. Trabalho, crio e sobrevivo com o que eu amo fazer.


Como é ser uma artista mulher e criar arte no Brasil?

Criar é o único lugar que nos liberta, porque fora isso… Basicamente é tentar “matar um leão por dia”, pois o fardo é pesado demais. Ter que lidar com assédio, ser comparada, testada o tempo todo, receber menos, ser invisibilizada, se culpar por não estar desenvolvendo mais na sua área… Isso só vai piorando dentro de outros contextos (no caso de mulheres trans, lésbicas, indígenas, etc). Não é fácil.


Suas canções misturam diversos gêneros musicais. Como tem sido misturar esses estilos e o que você deseja causar no ouvinte?

Um grande desafio, até porque o meu trabalho tem sido construído por referências distintas no que diz respeito a arranjos e sonoridades. É um processo trabalhoso, alquimia pura! Entretanto, tenho a felicidade de dividir este desafio com meu produtor musical, Iago Guimarães, há quatro anos. Juntos, conseguimos chegar em uma estética que reflete no que sou e nas coisas que acredito. Estamos todos conectados! Logo, é esta mensagem que sempre busco passar para o meu público: que não tem nada mais lindo do que ser quem a gente é, principalmente quando permitimos nos conectar para evoluir ainda mais.


"Alto Astral", seu primeiro álbum, tornou-se uma Aula Espetáculo, sendo apresentado em muitas escolas. Como foi ver o impacto do álbum nas escolas?

Só comprova o quanto pautas relacionadas às minorias precisam estar mais presentes no contexto escolar, principalmente no que diz respeito às escolas públicas. Por mais que todas as informações do mundo estejam na palma das nossas mãos, é importante haver diálogos. A arte é um dos portais para isso. Neste sentido, foi uma experiência incrível, pois ao final de cada apresentação, eram muitos os relatos de identificação com as canções e com situações trazidas nas letras, vindo de discentes e docentes.


Seu novo projeto, "Eutrópica" traz a relação entre o interior da Bahia e a zona leste de São Paulo. Como foi criar essa narrativa? Por que os locais que você passou são tão importantes para você?

Em razão do isolamento social, pude olhar com mais calma e atenção para o passado - tanto meu, como de quem veio antes de mim - para entender como eu sou hoje. O "não pertencimento" é um sentimento estranho pois é muito difícil acolher quem a gente é quando nossa história está presente em tantos lugares diferentes. "O que é meu? E o que não é?" Durante o processo de escrita deste álbum, fui entendendo que cada chão que pisei, cada encontro, cada experiência fazem parte de quem eu sou. E eu sou uma colcha de retalhos, uma passarinha que carrega sonhos por aí. Eu sou EUTRÓPICA! Logo, este álbum é a minha forma de fincar uma bandeira neste mundo.


"Eutrópica" foi dividido em três partes. "Sapopemba" foi o primeiro lançamento. Como aconteceu essa divisão e o que podemos esperar das duas próximas partes?

Desde quando comecei a pensar no álbum, eu queria trazer estas divisões, pois cada parte homenageia, através dos títulos, alguns lugares importantes por onde passei. Além disso, contém narrativas e sonoridades distintas que se complementam no todo. "Carranca" e "Atlanta", as próximas partes do disco, estão sendo produzidas com muito carinho e vocês podem esperar feats incríveis, canções gostosinhas para dançar, acalmar o coração e curtir um chameguinho.



Andrezza também vai além do seu papel de artista: em seu novo clipe, "Vagão Vazio", a cantora veste roupas de brechós de Juazeiro, onde mora, e de Petrolina, Pernambuco. A participação das lojas foi uma maneira que a cantora encontrou de expandir a cadeia de profissionais locais que atuam em "Eutrópica", que conta com produtores musicais, musicistas, designers, fotógrafos e videomakers de Juazeiro e região do Vale. A escolha de usar vestimentas de segunda mão é também uma maneira de acender o alerta para o consumo de moda sustentável.


Abordar temas sociais em seu disco é a melhor forma para compartilhar as ideias que acredita e conscientizar o seu público. O clipe de "A Gente Ia Longe", foi feito com tradução em libras e com a participação de um ator surdo. "Sempre penso o meu trabalho como um canal de reflexão para temáticas necessárias. É um processo que estou vivendo/aprendendo já faz um tempo e achei pertinente trazer para o audiovisual", completa.


"Vagão Vazio" apresenta inúmeros "eus" que existem dentro de você. Como foi colocá-los para fora e apresentar aos ouvintes?

Foi fácil porque eu já faço isso no meu dia a dia. Tem dias que estou mais a vibe "mulherão", tem outros que já estou mais "romântica" e outros mais "nerdizha". Tudo isso eu transpareço na minha forma de me vestir e é super divertido ver a reação das pessoas com estes inúmeros "eus". Logo, "Vagão Vazio" é sobre amor. E o amor é a liberdade para ser o que é.


O clipe de "A Gente Ia Longe" conta com Anderson Silva, um ator surdo, e tradução em libras. Um avanço e tanto para a cena musical! Podemos esperar novas inclusões em seu trabalho?

Por ser artista independente, a forma de sustentar o meu trabalho musical é através de editais de cultura. Por isso, nós artistas batemos na tecla sobre a importância de políticas públicas para a cultura (numa perspectiva regional, estadual e nacional), pois só assim conseguiremos acessibilizar ainda mais nossos trabalhos alcançando todos os públicos.


Quais os planos pós-pandemia e para o futuro?

Levar o show "Eutrópica" para os quatro cantos e continuar criando!


"Eutrópica" é uma colcha de retalhos: ao mesmo tempo que foi costurada entre altos e baixos, ela traz a quentura necessária que precisamos. A arte continua resistindo e salva. O álbum está disponível em todas as plataformas de streaming de músicas.


"Eutrópica" tem apoio financeiro do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia, via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.


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