Uma banda não surge rapidamente, leva tempo. Antes da cumbuca se tornar um grupo autoral eram apenas quatro amigos se divertindo tocando Novos Baianos. Após jams, improvisações e conversas, Deco Gontijo (vocal, guitarra, violão e sintetizador), Henrique Borto (vocal, guitarra e sintetizador), Júlio Madella (bateria, vocal e percussão) e Toni Morais (baixo) se juntaram para apresentar suas próprias canções.
Formada em 2023, a cumbuca mescla inspirações, vivências e observações para entregar um estilo musical que passa por diversos gêneros. Mesmo com pouco tempo, a banda sabe se comunicar: em seu primeiro EP, gravado entre julho e setembro de 2024 no Inhame Studio, com produção de Rubens Adati e Bianca Godoy, o quarteto aborda questões existenciais e pessoais em suas letras, dialogando com os ouvintes de maneira sincera. "Pensamos em apresentar as nossas referências de forma mais crua e direta, o que faz sentido em uma estreia", explica Deco.
Em quatro canções - as primeiras composições do grupo - é possível perceber as influências da cumbuca: Clube da Esquina, The Cure, Pavement, Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo e Boogarins. Por mais que seja o começo, vale a pena acompanhá-los.
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Foram os Novos Baianos que uniram vocês, né? Muitas pessoas que eu conheço começaram também tocando músicas dos Novos Baianos para, depois, iniciar uma banda autoral. Como foi iniciar com "Mistério do Planeta" para uma banda autoral e totalmente diferente dos baianos?
Henrique: A gente sempre se conheceu, porque a gente é da USP, né? Todo mundo. Então, a gente acabou todo mundo se conhecendo já antes da banda. E eu conheci o Antônio desde o início da faculdade. A gente já tocava junto em uma banda e tudo, mas uma banda de cover. A gente tocava mais pra curtir, pra brincar…
Toni: É, era mais um grupo de amigos. A ideia era se reunir, tipo, depois tomar cerveja, né?
Henrique: E aí, o Deco eu já conhecia também de outros rolês da USP e tudo, o Júlio eu conhecia, mas não conversava muito com ele. Aí, um dia eu acabei indo na casa do Deco pra gente fazer um som, dar uma brincada mesmo, porque a gente já tentava combinar isso fazia muito tempo… A gente foi lá e tiramos "Mistério do Planeta" juntos, ele no violão e eu na guitarra. Ele falou assim: "pô, vamos marcar de tocar aí com o pessoal e tal, fazer um som" e nesse mesmo dia a gente tinha postado em story aí o Júlio mandou: "ah, quero botar uma bateria nesse "Mistério do Planeta" aí" e aí, eu falei, "pô, conheço um baixista, o Antônio"... E aí, a gente marcou esse ensaio. A primeira música que a gente tirou foi "Mistério do Planeta", né? É uma música essencial da MPB e de toda a história da música brasileira, eu adoro essa música. Na verdade, os Novos Baianos são os meus artistas brasileiros favoritos. Eu acho que pra todo mundo da banda eles são muito referência. Eu acho que a gente começou muito nessa pegada, assim, de ser influenciado por eles… A gente acabou seguindo um caminho mais diverso, mas acho que sempre tem a influência deles lá. Influências não são coisas que você sabe, "nossa, tô sendo diretamente influenciado por isso", mas eu acho que tá lá até hoje.
Toni: Acho que foi a coisa engraçada desse primeiro ensaio… Acho que todo mundo focou... A gente tinha selecionado umas seis músicas para tocar. Mas o pessoal focou tanto em aprender o "Mistério do Planeta" certinho que a primeira vez que a gente tocou, tipo, já fluiu e as outras não fluíram. Tinha músicas muito mais simples, que são de timbre, que são de acorde. Foi meio mágico.
Henrique: É, foi muito legal isso.
Toni: Acho que todo mundo ficou a semana inteira meio que prestando atenção nessa música pra chegar lá e, tipo, desenrolar. Porque a gente não se conhecia tão bem também.

É curioso, porque vocês não se conheciam tão bem, mas ali tinha um elo pela música, né? A partir desse elo, como vocês deram um passo à frente?
Henrique: Eu e o Antônio já éramos bem próximos antes, né, a gente já era bem amigos. Só que com os outros meninos, eu acho que realmente foi uma interação mesmo por causa da banda, né, que ao mesmo tempo que é de amizade, né? A gente tem que ter certas responsabilidades que em uma amizade, às vezes, você não precisa ter… Eu acho que, ao mesmo tempo, que a gente vai se conhecendo através de conversas no ensaio, também é uma forma de conhecer a outra pessoa por meio do que ela traz, né? Acho que a gente tem uma profundidade na conexão, mesmo através da música mesmo, de ter um entrosamento entre a gente quando a gente vai tocar. Acho que foi realmente criando isso por conta dos ensaios, né, que a gente veio tendo, já faz o quê?! Uns quase dois anos, acho que um ano e meio, né?
Toni: Quase dois anos.
Já nesse primeiro ensaio que vocês tiveram, nesse primeiro encontro, em algum momento, vocês pensaram em ter uma banda? Teve aquele insight do tipo "isso pode se tornar outra coisa"?
Henrique: Uhum. Eu acho que, no início, a gente realmente não tinha ambição de fazer músicas autorais. Acho que todo mundo que toca, assim, algum instrumento, quando tá sozinho em casa, acaba compondo alguma coisa e tudo… Então, acho que todo mundo tinha umas composições. Mas a gente começou tipo “ah, vamos se divertir mesmo”, um negócio muito casual, acho que a gente nem pensou muito nisso. Teve uma hora que chegaram as composições mesmo, foi um negócio… Até tem um pouco de dificuldade de contar mesmo porque eu acho que foi muito do nada, assim, sabe? Tipo, foi de um ensaio pro outro, “ah, tô com essa música aqui, vamos tirar um som.” Aí foi indo, né? A gente começou com duas músicas que estão no EP, inclusive, foi “Resolução” e “Passear na Praia”. Aí, depois, já surgiram as outras duas que estão no EP, que foi “Descanse” e “Meus Problemas”. Hoje em dia, a gente já tá com 12 músicas aí, né? Junto com as do EP, que a gente toca nos ensaios, e ainda temos novas músicas pra tirar nos ensaios, que ainda nem conseguimos tirar.
Em que momento vocês perceberam que esses ensaios de covers poderia se transformar em algo autoral? O momento que vocês sentaram e decidiram montar uma banda, explorando as composições para, enfim, dar vontade ao sonho?
Toni: Acho que uma coisa que sempre rolou nos ensaios foi fazer umas jams no meio. Então, “ah, sei lá, vamos aquecer. Faz alguma coisa aí no baixo, sei lá, na bateria, e a gente acompanha.” Ou mesmo quando tocávamos covers, a ideia era que se eu tivesse em algum momento algum solo, e a gente fosse pra alguma coisa minimamente diferente. Então, acho que essa parte da gente ter entrosado hoje, e ter algumas músicas nossas, dá pra ver que surgiram basicamente com jams, em algumas partes das músicas. Tipo, alguém tava improvisando ali e a gente juntou em cima. Isso foi uma coisa muito legal, assim, também. Ou mesmo, tipo, às vezes, dessas 12 músicas que o Henrique falou, tem algumas que já chegaram um pouco mais prontas, assim com os instrumentos, mas a maioria foi algum riff ou alguma letra mesmo, que a gente foi encaixando todo mundo. Dessas 12 músicas, o que a gente costuma fazer é ficar tocando umas 5 vezes todas as músicas para ter uma ideia de onde nós vamos ou se vai ter uma virada ali… Até com instrumento que vai tocar ou não, em que parte, a gente tem muito essa questão de fazer progressões nas músicas. A ideia é realmente criar um clímax ali pra quem tá ouvindo, né.
Henrique: Eu acho que mesmo quando a gente já tem uma ideia mais concreta do que vai ser a música em si, a gente já pensou “nossa, a música vai ser desse jeito.” Acho que quando a gente chega pra tocar junto sempre acaba indo pra um lado diferente, né. Acho que a gente gosta muito de ter essa interação entre as ideias de todo mundo da banda, né. Sempre ter aberto essa possibilidade de que todo mundo pode contribuir pra uma música. Acho que é legal ver uma interação de influências, de mundos diferentes aí dentro de uma música.
A banda foi formada há pouquíssimo tempo, dois anos. E aí em dois anos vocês se juntaram, vocês se conheceram profundamente, vocês se descobriram uma banda autoral e já apresentaram um EP - é pouco tempo pra muita coisa. E agora que o EP foi lançado, como vocês estão se sentindo?
Henrique: [risos] É, eu acho que a gente tá muito satisfeito. A gente conseguiu divulgações, graças a Malu [assessora], que fez um puta trabalho, na assessoria, e conseguiu muito espaço, mais do que a gente estava esperando. Muita gente tá gostando das nossas músicas. Acho que uma das coisas mais legais que tem é quando a gente vê alguém comentando no Instagram: “ah, tava no Spotify, apareceu [a cumbuca] e gostei de todas as músicas e vim aqui seguir”, sabe? É meio doido, porque antes a gente só tinha nossos amigos que sabiam da banda e que curtiam o som… Isso dá uma animada, né. Mesmo estar aqui, fazendo uma entrevista, já acho que é um negócio muito divertido porque não é um negócio que costumava acontecer. Então é muito legal e acho que a gente só tá mais animado pro futuro da banda. Estamos ensaiando bastante agora, com todas as músicas que a gente tem, pra tocar ao vivo, entregando um show legal nos próximos meses. Acho que a ideia seria no fim do ano tentar começar a gravar o álbum para, possivelmente, lançar ele no ano que vem, né… Acho que isso ainda tá um pouco nublado, mas se tudo der certo… [risos]
Júlio: Sempre foi meu sonho ter algo gravado e realizar isso com o Borto, Deco e Toni tem sido muito legal. São muitos gostos e referências que se complementam.
O processo continua da mesma forma? Surgem a partir de ensaios e jams que vocês começam a fazer? Ou ainda não se sabe muito?
Henrique: Então, eu acho que são muitas músicas que a gente ainda tem pra tirar, né, antes de fazer esse álbum. Mas toda vez, a forma de tirar a música, eu acho que é a mesma: a gente chega lá com uma ideia nova e todo mundo vai lá e tira a sua parte junto, dentro do ensaio, né. Mesmo que às vezes tem algumas coisas, assim, que já estão mais fechadas na música. Eu acho que a gente sempre acaba indo lá e tirando e descobrindo coisas novas sobre a música mesmo, né. Teve duas músicas que a gente tirou mais recentemente que chegaram de uma forma e hoje já estão de uma forma nova que era impossível da gente pensar. Eu acho que as próprias músicas do EP eram músicas que a gente via de uma forma e aí quando a gente foi gravar elas deram uma transformada também. Se o Antonio quiser falar um pouco mais sobre essa transformação…
Toni: Antes de começar a gravar, a gente teve uns quatro ensaios basicamente pra ficar tocando essas quatro músicas e tentando encontrar alguns pontos, sei lá, da guitarra no segundo verso e na terceira estrofe. A gente pensava em alguma coisa - e isso é uma coisa que sempre tem - dá pra gente ficar pensando mesmo sobre a música, em que momento eu posso colocar sei lá, algum dedilhado ali que ficaria legal?! Acho que as próprias influências, embora elas se convergem no final, você pega cada um dos integrantes que tem algumas coisas mais diferentes e acaba trazendo. Acho que um exemplo que é um pouquinho mais diferente é o Júlio, que é o baterista, ele tem uma influência muito grande de samba e de rap, que ele traz pra gente, geralmente comparado com a minha base, a do Boto tem muito mais um rockzão, toda a base de MPB e um gótico ali, tipo, sei lá… Escuto The Cure desde os quatro e não comparei muito pra algum rap samba, até, tipo, encontrar algumas referências um pouco mais velhas. Acho que o Júlio nasceu numa casa que tocava [rap e samba] o tempo inteiro, então às vezes tem alguns toques e algumas levadas que ele dá na bateria que muda bastante a música, pelo menos o jeito que você interpreta lá no começo comparado com o que a gente tinha. Uma coisa que foi bem bacana também foi ter uma outra experiência, né. Quando a gente foi gravar de fato, a gente escolheu um estúdio que alguns amigos tinham gravado que é o Inhame, a gente gravou com o Rubens, que tem um nome artístico nada parecido com isso [Meu Nome Não É Portugas], e foi muito engraçado porque a gente conhecia ele por causa de uma música que ele fez com um artista que a gente achava legal, mas não conhecia direito o trabalho do cara fundo e quando fui ver, o cara é muito gênio, conversa muito com com o que a gente se propunha a fazer de música… Então uma das coisas que foi mais legal foi gravar tudo no analógico e também queríamos uma pessoa que desse toques sobre as músicas e acho que isso ele fez bem os instrumentos, o cara sabe tocar tudo mas já começa ali [risos] ele não pára não, ele toca literalmente todos os instrumentos do mundo.A Bianca também ajudou a gente, é uma super baterista…
Henrique: Toca tudo também
Toni: Então é muito engraçado, porque no começo, ficávamos ouvindo a música aí ele parava “toca essa nota aqui em vez disso porque você não faz um slide agora”, aí você faz e ficava perfeito [risos] o cara sabe um pouco mais do que eu [risos].
Isso mostra também o trabalho meticuloso que vocês têm porque é muito comum o primeiro trabalho de bandas estar um pouco cru, já que o orçamento é curto, as possibilidades são poucas e tal, mas a cumbuca já vem com os dois braços e as duas pernas na porta sem brincadeira. Inclusive, as composições do grupo abordam questões pessoais existenciais, ou seja, do mundo e etc, então tem todo esse cuidado.
Henrique: Sim, eu acho que a gente tenta… Primeiro, obrigado pelo elogio [risos] Acho que nem eu tinha pensado dessa forma. Acho que a gente tenta sempre tirar todas as possibilidades que existem em uma música… Acho que, às vezes, é mais difícil quando é uma música que tem inúmeras possibilidades. Você fala “nossa, dá pra fazer tal coisa” e aí você fica até meio perdido, mas tem músicas que a gente fala, “vamos dar uma simplificada”, “vamos deixar esse momento pra ser mais complexo e o resto mais simples”. Eu acho que o Rubens ajudou muito a gente ver todas essas questões, de quando tal instrumento tem que entrar na música… Acho que em “Passear na Praia”, por exemplo, foi fundamental isso. Acho que era uma música que quando a gente chegou lá pra gravar ela era uma música que não parava nunca tava toda hora pá, pá, pá [mexe as mãos no ritmo] a música, sabe? Faltava um pouquinho de calma em alguns momentos pra dar uma estourada e o Rubens sacou isso muito bem também em termos de timbre dos instrumentos, ele fez um trabalho muito bom! Foi sensacional, esperamos poder trabalhar com ele novamente. Acho que sobre essa questão dos temas das músicas é uma coisa que a gente leva bastante a sério, a gente gosta desse tipo de letra que é bem pessoal mesmo. Pessoalmente pra mim quando eu vou escrever uma letra é mais uma forma de desabafar mesmo, sabe, tipo..
Toni: Deixa baixo, deixa baixo…
Henrique: [risos] Eu acho que é uma forma de… Tipo tô triste, sei lá vou escrever uma música feliz agora pra tentar dar uma lembrada de como é estar feliz e equilibra tudo. Eu gosto de escrever.
Então as composições surgem através de incômodos e/ou pelo momento também?
Henrique: Eu acho que as composições das músicas, no geral, são concebidas mesmo no ensaio. Mas eu acho que às vezes algum riff ou alguma estrutura de música, que eu tenho alguma ideia aqui em casa, uma letra… São coisas assim que eu faço aqui em casa, pego o violão e letra da mesma forma aqui em casa… Acho que principalmente essa parte da letra, que é algo muito pessoal de cada um, acho que é uma parte que não tem muito como a gente fazer junto dentro de um ensaio - é uma coisa que cada um tem que chegar em casa e tirar um tempo pra pensar na letra.
As composições, além de ser um grande desabafo, tira também esse peso das costas, auxiliando o ouvinte que também passa por essas questões. Vocês mostram que todo mundo está no mesmo barco?
Henrique: Eu espero que existam pessoas que consigam se relacionar com elas, acho que é um objetivo muito legal. O mais legal das letras é que elas permitem que cada pessoa possa ter uma interpretação a sua maneira. Eu pessoalmente não gosto, por exemplo, se alguém me perguntar sobre o que exatamente é tal música e eu não gosto de falar “é sobre tal coisa e acabou”.
Toni: Eu perguntei isso semana passada [risos]
Henrique: Eu acho que não dá pra um artista ficar falando “a música é sobre isso e acabou” porque depois que a música tá no mundo, ela é do mundo! Cada um faz o que quiser, em termos de interpretação… Eu acho que existem interpretações que podem ser erradas, mas também não existem interpretações certas, né? Sobre as letras, [tem vezes] que você quer falar sobre um sentimento seu, como felicidade que é “Passear na Praia” ou um sentimento de dúvida como eu acho que é em “Resolução” ou um sentimento de melancolia como é em “Descanso”, existem diversas formas de como trabalhar isso.
Você falou em “Meu Problemas” e eu separei uma estrofe que me chamou bastante atenção: “eu já consigo ver além”. Ela dá diversas interpretações. Dito isso: o que vocês enxergam quando olham o além?
Deco: “Meus Problemas” foi uma letra engraçada porque ela foi muito debatida, porque foi a letra mais em conjunto. A melodia e o acorde a gente já tinha há muito tempo, já tocava há muito tempo, mas a gente meio que enrolava muito na letra. Lembro que teve uma vez que a gente sentou na casa do Borto e a gente definiu uma primeira letra e depois disso, a gente foi revê-la durante a gravação também…. Acho que “Meus Problemas” foi mudando o significado ao longo do tempo, até pelo fato de que antes da gente começar a gravar, eu tava solteiro, e depois quando a gente começou a gravar eu tava num relacionamento - então, isso já mudou muita coisa também. Acho que “Meus Problemas” é justamente isso: estar em uma amarra meio que pessoal, do tipo de não se entregar, que acho que era algo que eu vivia bastante antes, e se deixar levar pelo mar que é essa pessoa. Acho que “ver além” é justamente ver o futuro, ver uma certa certeza quando você encontra uma pessoa que é do seu jeito.
Júlio: Acho que no curto prazo alguns shows, mas já estou ansioso para começar a gravar o próximo projeto.
Vocês acham que os sentimentos que vocês possuem eles transbordam e por isso viram músicas?
Henrique: Eu acho que acho que sim. Muitas das composições são resultados de momentos da vida, né? São sentimentos que você tá tendo em algum momento da sua vida. Algumas composições, falando musicalmente, sem contar com a letra, já são um pouco mais melancólicas, refletindo o momento da vida que você tá mais ansioso… Então, você acabou fazendo uma composição combinasse com aquele sentimento que você tava tendo em algum momento.
Além do imaginário, as letras carregam um pouco da autobiografia. Não dá medo de colocar muito de vocês e uma pessoa que conheça vocês profundamente perceba o que estão falando?
Henrique: Acho que sim. No início eu tinha muito essa trava “não vou me expor muito nas letras porque meus pais vão ouvir e vão achar que eu tô triste”, sei lá, tem muitas coisas, né? Com o tempo você vai desamarrando porque acho que todo mundo acaba enfrentando problemas parecidos, né? Acho que não são coisas… O ser humano tem problemas coletivos, então, muitas pessoas acabam entendendo a letra.
Deco: Acho que tem outro ponto, pelo menos pra mim, quando eu vou escrever uma letra, eu não falo de mim, crio um personagem. Não necessariamente precisa falar de você, pode falar de outra pessoa, você pode falar como se fosse um diálogo com alguém ou com uma pessoa que você viu na rua… No final das contas não tem como diferenciar os sentimentos do cantor, de algo que ele queria falar, com o ouvinte.
Henrique: O que o Deco falou é verdade. Existem letras que você realmente não viveu uma experiência, mas você fala dela… Eu penso “como eu me sentiria se tal coisa acontecesse?”
Toni: Que você consiga transmitir isso de alguma forma. Esse fim de semana a gente ensaiou umas cinco horas, deu pra ouvir bastante todas as músicas [risos] e é um show bem sentimental no final do dia. Todas as músicas tentam evocar um sentimento mais claro.
Em “Passear na praia” vocês cantam: “muita coisa pra saber, muita coisa pra sentir” Os sentimentos de vocês transbordam e por isso viram músicas?
Júlio: Acho que é bem por aí. É característico do nosso som e da letra ter muito sentimento. Tudo é um pouco do que a gente vive e como cada um interpreta a vida. Até por isso são composições bem diferentes, com sentimentos diferentes. É um pouco do que a gente pensou pra esse EP.
“Resolução” explora a ideia de novos começos. Agora que vocês concluíram e lançaram o EP, para onde desejam ir?
Henrique: A gente tem um plano muito concreto de fazer o álbum agora. Gostaríamos que fosse algo mais coeso, talvez que o EP, em termos estéticos ou temáticos, acho que mais temáticos seja mais difícil porque nossas músicas… São muitos temas que a gente tenta abordar, porque é resultado do que a gente tá sentindo no momento.
Júlio: Acho que agora é continuar focado no som, a gente tem ensaiado muito pra começar a fazer show, queremos trazer mais composições e uma apresentação que as pessoas se divirtam também. E já temos planos de começar a gravar um álbum, mas isso é um pouco mais pra frente.
Sobre a capa de cumbuca

Deco: A arte da capa do disco foi feita pela minha irmã, ela é artista visual e o nome dela é Marcela Gontijo. Sobre o processo: basicamente a gente mandou pra ela um punhado de referências de capas que a gente gosta e ela juntou isso e nos propôs algo. Gostamos muito do resultado! Eu acho que chama muita atenção esteticamente - é uma pintura impactante e bem interessante aos olhos.
Além disso, contém algumas das coisas que a gente queria: uma representação de São Paulo (no caso o Edifício Banespa) e uma espécie de colagem representando simbolicamente cada um dos integrantes da banda. Acho que tem também um sentido figurativo bem interessante: o Banespa (São Paulo) tá meio desfigurado e também e há uma indicação para ver (olho) e escutar (orelha) a cumbuca.
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