Nos últimos oito meses, Joni Mitchell não sai dos meus ouvidos. "Blue" e "Clounds", meus álbuns preferidos, são tocados constantemente. Acho que cheguei no momento em que preciso ouvir, pelo menos, uma música dela para tentar sobreviver. No meio de uma pandemia, genocídio de negros e indígenas, crise ambiental, social e econômica, é ela que tem me salvado. E é aqui, já no primeiro parágrafo deste texto (ou seria uma carta de confissão?) que digo: a arte salva.
Roberta Joan Anderson. Esse é o seu nome verdadeiro. Adotou o Mitchell de seu primeiro marido, o cantor folk Chuck Mitchell, e nunca mais parou de usar. O casamento não durou muito tempo (não vou entrar nessa questão pois, assim como Ted Hughes, nunca se importou com a esposa, apenas com o seu trabalho e ego), no entanto, a artista começa a colocar as dores para fora de diversas formas: através de poemas, pinturas e canções. Em algum momento do passado, ela disse que não seria ser cantora, apenas pintora. Também não queria ser famosa.
Em seu primeiro álbum de estreia, "Song To A Seagull" (1968), a música "I Had a King", que abre o álbum, foi escrita para o Chuck. O rei da estrada, que ficava com grande parte dos holofotes, recebe uma boa (e ainda poética) resposta sobre o relacionamento que durou um ano e meia: "I had a king in a tenement castle / Lately he’s taken to painting the pastel walls brown / He’s taken the curtains down / He’s swept with the broom of contempt / And the rooms have an empty ring".
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Foi em 1970 em que ela alcançou o sucesso, fazendo música influenciada pelo jazz (principalmente por Miles Davis) e folk. Suas canções abordam romances, desilusões, separações, confusão e alegria - um misto de tudo; assim como estamos vivendo. Após premiações e um Grammy, Joni se sente sufocada e reduz o ritmo, focando naquilo que a faz bem, como é o caso das pinturas.
A criação de sua obra-prima
No meio desse isolamento, surge "Blue", um dos álbuns mais importantes da história da música. Em dez músicas, Joni Mitchell aborda amor, distâncias e perdas, mostrando aos fãs a sua verdadeira face: de uma mulher que faz arte com suas dores. Além disso, ela traz uma questão importante nos anos 70, o fim da contracultura. O que seria do futuro sem as revoltas e questionamentos dos jovens? Como continuar? O que será dos Estados Unidos que é comandado por Richard Nixon?
O álbum foi escrito, na maior parte, durante uma viagem pela Europa. Ao respirar novos ares, Joni consegue colocar no papel suas questões, seus sentimentos. É impossível não se enxergar em suas músicas.
Em 2010, a artista multimídia foi considerada a 62º artista mais importante de todos os tempos pela Rolling Stone EUA. Dez anos já se passaram e ela continua conquistando as novas gerações, afinal, suas músicas são tatuagens.
Ser contagiada por Joni Mitchell é uma sorte, uma dádiva que deve ser celebrada todos os dias. Obrigada pela arte, Joni.
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