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Foto do escritorMichele Costa

Desalinhando Sylvia Plath: a escritora imortal

Se estivesse viva, Sylvia Plath completaria 88 anos hoje, nesta terça-feira. Foi no dia 11 de fevereiro de 1963 que a escritora se suicidou ao colocar sua cabeça no forno do fogão com o gás ligado. Ao morrer, Sylvia ganhou o reconhecimento que sempre buscou. Ao morrer, tornou-se uma escritora imortal, que está presente em tantos outros escritores, obras, jovens e essa jornalista que escreve. Sylvia foi tudo após sua morte.


Sylvia nasceu em 1932, filha de Aurelia e Otto Plath. Três anos após seu nascimento, nasceu Warren, seu irmão mais novo. Com um pai alemão, Sylvia aprendeu desde pequena a conviver com a ordem, obedecendo a última palavra de Otto. Mesmo morando na mesma casa, pai e filha não tinham uma convivência, apenas se suportavam. De acordo com Carl Rollyson, autor da biografia "Ísis Americana: A Vida e a Arte de Sylvia Plath", Otto não era carinhoso e não tinha paciência com os filhos - com a falta de amor, a filha descobriu ser capaz de conquistar a admiração do mais velho escrevendo poemas para ele. Assim que aprendeu a escrever, não parou mais.


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Otto morreu em 1940, devido a complicações de uma diabete diagnosticada tardia. Morreu uma semana e meia após o aniversário de oito anos da filha. Aurelia fica sozinha com duas crianças e proibiu os filhos a irem ao enterro. A proibição deixou marcas em Sylvia, nunca superando a morte do pai desconhecido. Os problemas com a mãe começam em seguida: ela culpa a mãe pelo vazio em seu peito e que era obrigada a pagar a dívida que tinha com a mãe, que fez de tudo para que os filhos tivessem conforto na vida. Por não conseguir dizer o que sentia, Sylvia acreditava que a mãe era culpada por suas dores, perdas e sentimentos.


"- Para mim, o presente é para sempre, e o eterno está sempre mudando, fluindo, se dissolvendo. Este segundo é vida. E quando passa, morre. Mas você não pode recomeçar a cada novo segundo. Tem de julgar a partir do que já está morto. Como areia movediça… invencível desde o início. Uma história, uma imagem, pode reviver algo da sensação, mas não o bastante, não o bastante. Nada é real, exceto o presente, e mesmo assim já sinto o peso dos séculos a me esmagar. Uma moça, há cem anos, viveu como vivo. E ela está morta. Sou o presente, mas sei que também passarei. O momento culminante, o relâmpago fulgurante, chega e some, contínua areia movediça. E eu não quero morrer." (Os Diários de Sylvia Plath: 1950 - 1962)

Entra na Smith College em 1950 e começa a sentir a pressão da faculdade. Durante o primeiro ano, Plath enfrentou diversas crises de ansiedade, já que era perfeccionista e não queria reprovar em nenhuma matéria. No mesmo ano, encaminhou uma carta para a mãe, onde menciona pela primeira vez o suicídio. Muitos amigos relataram aos diversos biógrafos de Sylvia, que ela perdia o controle constantemente na faculdade.


Após ganhar uma bolsa de estudo, vai para Nova York e escreve para a revista Mademoiselle. Sua vivência em nova cidade é retratada no livro "A Redoma de Vidro" sob o pseudônimo Esther Greenwood, único romance da poeta americana. No mesmo ano, Sylvia teve um bloqueio criativo e foi a primeira vez que a escritora pensou em suicídio. A ideia de não ser boa o suficiente ou (pior), ficar sem as palavras, sua escrita, preocupava Plath. Tente tirar a escrita de um escritor - ele morre.


"Mas eu não tinha certeza. Eu não tinha certeza de nada. Como eu poderia saber se um dia - na faculdade, na Europa, em algum lugar, em qualquer lugar - a redoma de vidro não desceria novamente sobre mim, com suas distorções sufocantes?" (A Redoma de Vidro)

Sylvia escrevia sobre a realidade, sua vida. Nostalgia, tristeza, morte, perda, amor são alguns temas que a escritora trouxe para suas obras. Em seu livro de poesia, "Ariel", Sylvia aborda a figura paterna, assim como o ciúmes e a frustração de estar casada com aquele que era (e deveria continuar) seu herói, Ted Hughes. Inclusive, o escritor nunca se importou com a ex-esposa, aproveitava sua fragilidade para tirar proveito - Sylvia datilografava e encaminhava seus poemas para veículos e críticos. Ele também criticava o trabalho de Sylvia, alterando algumas palavras. A cumplicidade do casal tinha acabado.


Foi com a morte prematura que Sylvia ficou famosa. Alguns dizem que foi mais pelo significado do feminismo do que por suas obras. Não consigo opinar sobre o caso, no entanto, acredito fielmente que Sylvia não queria morrer - ela só queria ser salva. Ela precisava preencher o vazio que carregava desde pequena. Ao entregar sua vida ao herói britânico, Sylvia acreditava que receberia tudo.


"Julho de 1950 - Talvez eu nunca seja feliz, mas esta noite estou contente. Nada além de uma casa vazia, o morno e vago cansaço após um dia ao sol plantando estolhos de morango, um doce copo de leite frio e um prato raso de mirtilos cobertos com creme. Agora sei como as pessoas conseguem viver sem livros, sem faculdade. Quando a gente chega ao final do dia tão cansada precisa dormir, e ao amanhecer haverá mais morangos para plantar, e vai-se vivendo em contato com a terra. Em momentos assim eu me consideraria tola se pedisse mais…" (Os Diários de Sylvia Plath: 1950 - 1962)

Diversas biografias e críticas literárias foram escritas sobre Sylvia e sua escrita, no entanto, nós nunca conhecemos a verdadeira Sylvia Plath: por falta de um testamento, tudo o que ela possuía foi para Ted, ou seja, tudo que ela escreveu foi para o ex-marido. Ted alterou palavras, cortou frases e retirou tudo que mencionava ele antes de publicar. Recebemos o "original" da escritora anos depois, quando Frieda Hughes, filha de Sylvia com Ted, relançou "Ariel", com os manuscritos e ordem original, do jeito que a mãe deixou antes de morrer.


Sylvia foi embora cedo, mas suas obras continuam presentes. Sua força também. Suas palavras potentes continuam ecoando em um mundo que a redoma foi quebrada.

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