Até 1966, em Nova York, era proibido que a comunidade LGBTQIA+ se reunisse em locais públicos. Com o pretexto de "que causariam desordem" nas ruas, "dando mal exemplos" aos cidadãos americanos, as relações entre pessoas do mesmo sexo eram criminalizadas nos anos 60. Inclusive, era comum ver a violência dos policiais contra membros da comunidade LGBTQIA. Em 28 de junho de 1969, houve uma repressão violenta no bar Stonewall Inn, local que recebia a comunidade LGBTQIA+, quando agentes policiais tentaram prender 13 pessoas.
Nos dias seguintes, as pessoas foram às ruas, criando uma série de mobilizações, em diferentes pontos de Nova York. No ano seguinte, uma multidão de pessoas marcharam do bar até o Central Park, relembrando a violência e pedindo igualdade. Assim, surgia o Dia do Orgulho LGBTQIA+.
Mesmo estando no século XXI, em um tempo diferente do passado, o preconceito e a ignorância reinam pelo mundo todo. Segundo o Relatório: Observatório de Mortes Violentas de LGBTQIA+ no Brasil, em 2020, 237 pessoas LGBTQIA+ morreram violentamente, vítimas da homofobia: 224 homicídios (94,5%) e 13 suicídios (5,5%). O levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) divulgou, em 2020, que 175 pessoas transexuais morrem no Brasil - o número representa aumento de 29% em relação às 124 mortes registradas em 2019. É preciso lembrar sempre que o Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo! A cada 19 horas, uma pessoa LGBTQIA+ morre!
Para celebrar e compreender a importância de respeitar e apoiar a comunidade LGBTQIA+, o Desalinho separou algumas obras artísticas e eventos online que acontecem hoje e até o fim do mês de junho. Confira abaixo.
Leia também:
Músicas
I Am What I Am (Gloria Gaynar)
A canção de Gloria fala sobre aceitação e orgulho de ser quem é, sem pedir desculpas ou licença. Alias, foi com essa música que Cauby Peixoto declarou sua homossexualidade na boate Le Boy, no Rio de Janeiro.
Born This Way (Lady Gaga)
Um dos álbuns e músicas mais dançantes e importantes para a comunidade LGBTQIA+, a música fala sobre autoaceitação e que não existe nenhum problema ao ser você de verdade, independente do gênero e de quem você ama.
Flutua (Johnny Hooker / Liniker)
Retrata sobre o amor homossexual, porém, o clipe da canção, os atores Mauricio Destri e Jesuíta Barbosa são um casal homossexuais surdos que passam por violência - algo que ainda é marcante na sociedade brasileira. Ouvir e rever o clipe sempre para pensar no futuro.
Revezamento (MC Rebecca)
Motivos não faltam para ouvir e dançar o som de MC Rebecca. "Revezamento" é um funk que brinca com o duplo sentido entre pessoas e sexos.
Toda Forma de Amor (Lulu Santos)
Após assumir o namoro com Clebson Teixeira, Lulu Santos transformou a canção “Toda Forma de Amor” para todos os amores, independentes de sexo, gênero e crença.
Bixa Preta (Linn da Quebrada)
Linn da Quebrada retrata a sua vida e da comunidade LGBTQIA+ em suas canções. Em "Bixa Preta", a cantora canta o amor por quem se é, mesmo com todos os padrões colocados pela sociedade. O importante é ser feliz!
Braile (Rico Dalasam)
Gay, negro e funkeiro, Rico Dalasam traz em suas músicas muito do seu cotidiano. Em "Braille", por exemplo, ele canta sobre uma relação homossexual e inter-racial, com toda a complexidade que contém em romances.
Haja Cor (LoreB / Maju Shanii)
Misturando pop com indie, LoreB se junta com a drag queen Maju Shanii para celebrar a aceitação. O amor não tem cor, nem rosto e gênero - quando se sente, é verdadeiro!
Livros
Devassos no Paraíso (João Silvério Trevisan)
Em um diálogo com diversos campos de conhecimento e cultural, o autor constrói um completo estudo sobre a homoafetividade no Brasil. Ativista pioneiro do movimento LGBTQIA+, Trevisan produziu uma obra engajada, porque acredita que, assim como cada discurso homofóbico alimenta a violência e a intolerância, toda consciência que se movimenta em busca da emancipação inspira outras consciências.
Eu, Travesti (Luísa Marilac / Nana Queiroz)
Além dos traumas associados à transição de gênero em uma família conservadora e de classe baixa, Luísa Marilac levou sete facadas aos 16 anos e foi vítima de tráfico sexual na Europa. Luísa ficou conhecida pelo bordão “E disseram que eu estava na pior” e agora conta sua história no livro “Eu, Travesti”. Ativista das travestis, trabalha para combater o preconceito com humor e diálogo franco.
Viagem Solitária (João W. Nery)
A obra conta a história de João W. Nery, o primeiro transexual masculino no Brasil. "Viagem Solitária" narra a infância triste e confusa do menino tratado como menina, a adolescência transtornada, iniciada com a "monstruação" e o crescimento dos seios que fazia de tudo para esconder, o processo de autoafirmação e a paternidade.
Revolucionário e Gay: A Extraordinária Vida de Herbert Daniel (James Naylor Green)
Herbert Daniel foi um importante personagem na luta pela democracia. Na juventude, integrou grupos políticos de esquerda, como o Polop, Colina, VAR-P e VPR. Mas a atuação revolucionária no campo político, contrastava com a repressão de sua homossexualidade, que sentia como um "exílio interno", como descreveu depois. Apenas em seu segundo exílio, na Europa, foi capaz de assumir o relacionamento com o homem que se tornaria seu companheiro e o amor de sua vida, Cláudio Mesquita.
Retorna ao Brasil em 1981, engajando-se na política eleitoral e no ativismo em defesa do meio ambiente e dos direitos das mulheres, dos homossexuais e da população negra e indígena. Herbert foi um dos responsáveis por articular em todo o país o movimento pela garantia dos direitos de pessoas que vivem com HIV/Aids - ação que lhe deu reconhecimento internacional.
História do Movimento LGBT no Brasil (James N. Green / Marcio Caetano / Marisa Fernandes / Renan Quinalha)
O livro busca reconstruir alguns temas e momentos privilegiados da história de quatro décadas de importantes atos políticos do Brasil contemporâneo, atentando para a diversidade de sua composição e de perspectivas no interior do movimento. A obra também pretende contribuir para traçar um panorama interdisciplinar dos 40 anos do movimento LBTQIA+ brasileiro.
Ditadura e Homossexualidades: Repressão, Resistência e a Busca da Verdade (James N. Green / Renan Quinalha)
O objetivo central do livro é contribuir para uma análise interdisciplinar das relações entre a ditadura brasileira e a comunidade LGBTQIA+. Pretende-se discutir de que maneiras a ditadura dificultou tanto os modos de vida das pessoas quanto a afirmação do movimento no Brasil durante os anos 60, 70 e 80.
Cinema
Moonlight: Sob a Luz do Luar (Barry Jenkins)
Black trilha uma jornada de autoconhecimento, enquanto tenta escapar do caminho da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro melhor.
Carol (Toddy Haynes)
Therese Belivet tem um emprego entediante em uma loja de departamentos. Um dia, ela conhece Carol, uma mulher elegante e misteriosa. Rapidamente, as duas mulheres desenvolvem um vínculo amoroso que terá consequências sérias.
Bixa Travesty (Claudia Priscilla / Kiko Goifman)
Em uma hora e quinze minutos, conhecemos a trajetória da cantora Linn da Quebrada, além de conhecer a cena musical produzida por artistas trans em São Paulo.
Me Chame Pelo Seu Nome (Luca Guadagnino)
O jovem Elio está passando por outro verão preguiçoso na casa de seus pais na Itália e com dúvidas da sua sexualidade. Tudo muda com a chegada de Oliver, um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai.
Divinas Divas (Leandra Leal)
Em mais de uma hora, conhecemos a primeira geração de artistas travestis do Brasil. Rogéria, Valéria, Jane di Castro, Camille K, Fujica de Holliday, Eloína, Marquesa e Brigitte de Búzios formaram o grupo que testemunhou o auge da Cinelândia repleta de cinemas e teatros.
Azul É A Cor Mais Quente (Abdellatif Kechiche)
Adele é uma adolescente que enfrenta os desafios da chegada da maturidade. Sua vida toma um rumo inesperado ao conhecer uma encantadora garota de cabelo azul, com quem começa uma intensa relação e uma viagem de descobertas e prazer.
São Paulo em Hi-Fi (Lufe Steffen)
As histórias das noites em São Paulo nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Fazendo uma viagem ao passado, os personagens do filme mostram as histórias das dançarinas e transformistas que se apresentavam nas famosas casas noturnas que marcaram época e tudo o que elas tiveram que passar, como a ditadura militar e a explosão do vírus HIV.
Dor e Glória (Pedro Almodóvar)
Inspirado na vida de Pedro Almodóvar, Salvador Mallo, diretor de cinema em declínio, relembra sua vida e carreira desde sua infância na cidade de Valência, nos anos 60. Salvador tem lembranças vívidas de seus primeiros amores, seu primeiro desejo, sua primeira paixão adulta na Madrid dos anos 80 e seu interesse pelo cinema.
Laerte-se (Eliane Brum)
A cartunista Laerte passou quase 60 anos se expressando e sendo identificada como homem, até que decidiu revelar sua identidade de mulher transexual. Laerte conta sua história pessoal e artística.
Na televisão
28/06 - Falas de Orgulho: hoje, a Rede Globo, apresenta o programa “Falas de Orgulho", onde reúne histórias de pessoas de diversos estados do país que convivem com os desafios e orgulhos da comunidade.
28/06 - Shows: com apresentação de Gil do Vigor, o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ será celebrado pelo Multishow com show de MC Rebecca, Preta Gil e Aretuza Love.
até 30/06 - Canal Brasil: até o dia 30 de junho, o Canal Brasil exibirá filmes brasileiros com a temática.
Lembremos que homofobia é crime! Respeito e apoio são mais do que necessários nos dias de hoje.
Commentaires