Em 1981, Simone de Beauvoir lançava A Cerimônia do Adeus, narrando os dez últimos anos de vida de Sartre, baseado no diário pessoal da autora e em vários testemunhos que recolheu. Se a leitura já é envolvente, imagine ouvir Fernanda Montenegro lendo trechos da obra quarenta e três anos depois!?!
Com um cenário simples - uma mesa, cadeira, um copo d’água e suas folhas -, a atriz celebra os 80 anos com o monólogo Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir, no Sesc 14 Bis. Com os ingressos esgotados, a renomada artista celebra as mulheres e a longevidade com as palavras da filósofa francesa.
No folhetim, entregue antes da peça, Fernanda explica como o monólogo surgiu: “O espetáculo, baseado em uma de suas obras, proposto a mim em 2007 por Sérgio Britto, já com a saúde extremamente debilitada, não se realizou. A ideia permaneceu em mim através de outra criação de Simone de Beauvoir - A Cerimônia do Adeus. Organizei rigorosamente essa importante obra durante dois anos. (...) Ao ler, no palco, Simone de Beauvoir, nós nos conscientizamos da liberdade que essa Mulher se impôs e propôs a todas as gerações que a sucederam”.
Os trechos selecionados falam, entre outros temas, do direito das mulheres serem ou não mães (um ponto importante à PL Antiaborto por Estupro), da descolonização da existência feminina e da crítica ao homem como centro do mundo, cabendo sempre à mulher o antagonismo. Dessa maneira, lembramos da famosa frase da filosofa: “não nasce mulher, torna-se mulher”.
Ao assistir Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir, nós, meros mortais, lembramos da morte, esse fantasma que nos assombra com o passar dos anos, mas que só ganha espaço na velhice. “Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é: já é belo que novas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo”, diz Fernanda com entonações potentes. A frase, escrita após a morte de Sartre, nos faz lembrar de amores que já partiram e da relação da atriz com Fernando Torres, com quem ficou casada há mais de cinco décadas. O corpo-espaço é alterado, mas o sentimento não.
Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir é um respiro em uma sociedade que não para. É sobre renovar as esperanças para seguir adiante.
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