Em 2014, Owerá levantou a bandeira "Demarcação Já" na abertura da Copa do Mundo, minutos antes da partida entre Brasil e Croácia. Alguns anos depois, estrelou o documentário "My Blood Is Red" (Prime Video/Vimeo On Demand) com as participações de Criolo e Sônia Guajajara, onde mostra a realidade dos indígenas brasileiros, o álbum "Todo Dia É Dia de Índio" (Bico do Corvo, 2018), além dos singles "Demarcação Já - Terra Ar Mar" (Matilha Cultural, 2019), "Xondaro Ka’aguy Reguá" (Independente, 2020) e "Jaguatá Tenondé" (Let’s Gig, 2021). No mês passado, o músico lançou "Mbaraeté" (Natura Musical, 2022), um disco cheio de revolta, dor, amor, esperança e acolhimento.
O disco é um grito contra a violência indígena que sofre desde a colonização dos portugueses. São 500 anos de crueldade, porém, segundo o relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, os crimes (palavra aplicada neste texto como sinônimo de violência) aumentaram 180% no governo Bolsonaro. Ao entoar as nove canções do álbum, o rapper dá voz aos povos indígenas e suas lutas, buscando o fortalecimento para lutar diariamente.
"Este é um disco que eu fiz para os povos indígenas", comenta Owerá que convidou para estar ao seu lado seus familiares, Pará Retê, companheira e parceira musical, Tupã, seu filho, Olívio Jekupé, o pai, e, além deles, Kelvin Mbarete e Bruno Veron (Brô Mc’s), Célia Xakriabá, Djuena Tikuna, Txana Ibã e OzGuarani. Sim, é um disco para as tribos indígenas, mas também é um álbum para entendermos e, consequentemente, apoiar a causa, afinal, não é aceitável perder 355 indígenas como foi no ano passado.
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"INTROWerá" abre o disco, é essa música que dá o tom ao disco, trazendo os temas que serão compartilhados nas próximas canções ("Vou te contar a história verdadeira / que nas escolas não te contam o que fizeram com o meu povo"). Mas é em "S.O.S Amazônia", com a participação de Olívio Jekupé, quarta canção do álbum, que Owerá nos relembra a importância da mata - "Sem a natureza não existe nada".
Misturando português e o guarani, "Mbaraeté" é uma obra que traz para o primeiro plano a diversidade de povos existentes no Brasil, pois reúne as etnias Guarani Mbyá, localizada no sul da cidade de São Paulo, Huni Kuin e Tikuna, da Amazônia, Xakriabá, de Minas Gerais, e também Guarani Kaiowá, que está em uma das regiões mais violentas do país, Mato Grosso do Sul.
O rap nativo que Owerá faz nada mais é do que a manifestação do rap em uma língua nativa, no caso a Guarani Mbya, em um ritmo que traz o beat embalado por sons da natureza e outros instrumentos tradicionais, como o violão, djembé e o maracá. "O rap nativo é uma raiz do rap indígena. Nós falamos diretamente da nossa Terra, do nosso Território, com a nossa Língua, que resiste há mais de 500 anos para se manter viva", explica.
"Mbaraeté" é um grito de resistência. O álbum já está disponível em todas as plataformas de músicas.
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