Escrever sobre o terceiro álbum do cantor e compositor Zé Manoel é difícil. É impossível não se emocionar, sentir o incômodo do pianista. Em seu novo trabalho, "Do Meu Coração Nu" (2020), Zé Manoel não está procurando ser amoroso, delicado, como foi o caso de "Delírio de um Romance a Céu Aberto" (2016), que contou com a participação de diversos cantores de peso. Agora, Zé Manoel reconta a história da população negra, fazendo de sua dor uma obra.
Em "História Antiga", primeiro música de seu terceiro álbum, o cantor pernambucano conta, em forma de crônica, a violência policial que a população negra continua passando: “Políticas ultrapassadas / E olhares atravessados para nós / Houve um tempo em que a / canção não impedia / Mais um jovem negro de morrer / Por conta da sua cor / Uma história tão antiga em 2019 / De uma civilização antiga de 2019 / Oh, mas que história tão antiga em 2019 / De uma civilização antiga de 2019”.
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Muita coisa mudou desde o primeiro álbum de Zé Manoel ("Zé Manoel, 2012) A transformação vai muito além do tom de suas músicas: o cantor está pronto para dizer sobre suas feridas, medos e angústias. Em "Notre Histoire", ao lado de seu piano e cantando em francês, o cantor repete: “Precisamos conhecer nossa história”. É o momento certo para refletir a sociedade doentia que vivemos.
Para acompanhar esse álbum tão delicado e necessário, ele não está sozinho nessa: o álbum conta com a participação de Beatriz Nascimento, Luedji Luna, Bell Puã, Gabriela Riley, Grupo Bongar e Letieres Leite. Seja em música ou em áudio de WhatsApp, sua única missão é ser livre, demonstrando os diferentes sentimentos que existe dentro dele.
Ao mesmo tempo que é um murro na cara, "Do Meu Coração Nu" é um respiro de esperança, afinal, a luta não está finalizada. Há muito para lutar. No fim, Zé Manoel é uma potência necessária para (re)contar sobre uma história em que brancos apagaram.
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