O elã - termo definido por Henri Bergson, que designa a um desejo de criação, um impulso produtivo - de Reiner começa na capa do disco: são seis indivíduos ao redor da mesa, mas somente uma pessoa olha para a câmera, justamente é aquela que dá voz ao álbum. Preste atenção no peixe pirarucu: ele se mistura com as cores e com os símbolos da região norte, apresentando uma Amazônia futurista. É assim que o elã é apresentado, no primeiro momento, ao outro.
Composto por lado terra e lado água - ou A e B, como um vinil - ELÃ (Selo Caquí) é um barco, ou seja, durante as 11 faixas Reiner deixa fluir um som que reverencia o passado, mas olhando diretamente para o futuro, enquanto mescla o local e o global. Ao trazer o carimbó e influências da música negra e indígena, o músico compartilha o seu mundo que mistura realidade com fantasia, encantando quem o ouve. Relembro das palavras de Reiner: "Essa cidade tem um negócio muito mágico: a gente tem contato com o passado o tempo todo. A gente vive em um portal. Pisamos nos mesmos lugares que meu avô e o avô do meu avô passaram. A Amazônia tem um lance de encantaria, o rio e a mata te abraçam. Acho que é fundamental a gente falar sobre isso, o que eu sinto por Belém, pela minha cidade, é uma paixão - e cada vez que o tempo passa, fico cada vez mais encantado por essa cidade."
Para enriquecer o Elã (desejo e disco), Reiner convidou a cantora quilombola Mainumy, o músico Jayme Katarro (Deliquentes), a rapper marajoara Bruna BG, o poeta roraimense Eliakin Rufino, o cantor Íris da Selva, e o saxofonista francês Benoit Crauste. A produção musical é assinada pelo artista ao lado de Léo Chermont, que conta: "Há muitos caminhos nesse álbum, com momentos de energia muito alta e outros mais calmos. Acredito que quando o público sentar para escutá-lo será uma experiência muito bonita". O trabalho foi gravado durante várias estadias no estúdio Floresta Sonora, que fica dentro de uma reserva ambiental em Benevides.
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"GATILHEIRO" abre o disco, reverenciando a figura de Quintino Lira, agricultor e ativista que marcou a luta contra grileiros no Pará no final da década de 70 e início da década de 80. A parceria com Mainumy ganha potência quando a dupla firma a ideia ao recitar "Nenhuma bala vai contar mais alto do que o seu Quintino." "ELÃ", faixa-título, evoca a criação de Reiner que é baseada na cultura nordestina. "PALAVRAS" traz a raiva do cantor sobre como as pessoas enxergam sua cultura. Os riffs de guitarra e o texto de Iah Araújo, que trás como os sudestinos se portam em relação aos nordestinos, são fortes. "eu sou o €LÃ" é um interlúdio que diminui a energia do disco por um momento antes de caminhar para os seus próximos estados de espírito.
A música de ELÃ retorna com "MITOS Y GRITOS", fruto de uma parceria com a rapper marajoara Bruna BG. A música faz uma viagem experimental para refletir sobre a vivência (pessoal e artística) de Reiner com a natureza, a água e os povos originários. O texto do poeta Eliakin Rufino serviu como inspiração para "¿brasil PROFUNDO". Dessa forma: "Brasil profundo somos nós."
O lado B, o lado da água, inicia com "indauê-tupã". A releitura conta com a participação de Patricia Bastos, trazendo uma saudação a Tupã, deus dos raios na mitologia indígena. Soa como uma permissão para iniciar uma nova fase. "cor" reflete a respeito da vivência do artista como um pardo amazônida e questiona o não-lugar as fronteiras raciais.
O carimbó é exaltado em "tambor", com a participação de Íris da Selva. A estrofe "Meu pai é um tambor que vigia" mostra o poder do instrumento. A despedida do disco se inicia em "<<urybóka>>", penúltima música de Elã. Por fim, "Coisa de Louco" ganha uma nova roupagem, dando fim ao percurso. Porém, o barco continua navegando dentro do ouvinte, fazendo com que a Amazônia futurista cresça diariamente.
Ficha técnica de ELÃ
Produção musical: Léo Chermont e Reiner
Voz, Guitarras, sintetizadores e contra-baixos exceto onde indicado por: Reiner
Percussões e Bateria: Isma Rodrigues
Maracas por Mainumy em "GATILHEIRO".
Coro gravado com crianças voluntárias da ONG Barca Literária, localizada na comunidade Vila da Barca em Belém do Pará em "ELÃ"
Texto falado por Iah Araújo em "PALAVRAS"
Saxofone por Benoit Crauste em "MITOS Y GRITOS"
Trompete por Johab Quadros, baixo acústico por Felipe Sequeira, violão por Pedro Imbiriba, órgão e rhodes por Pratagy e coros e backing vocals por Arthur da Silva na faixa "cor"
Violões, guitarras e synth bass por Léo Chermont em "indauê tupã".
Voz e banjo por Íris da Selva em "tambor".
Mixagem: Diego Fadul
Masterização: Felipe Tichauer
Preparadora Vocal: Otânia Freire
Branding e Identidade visual: Buzz Content e Be Lobo
Fotografia e vídeos: Duda Santana
Diretor Criativo: Vinny Araújo
Figurino: Maíra Martins
Maquiagem: Ísis Penafort
Modelos: Rosana Portal, Camilo Sarrazin e Rosy Lueji
Produção de Base: Gabriel Darwich e Igor Gurjão
Design da capa: Rodrigo Cantalicio
Social Media: Flávia Ferreira
Distribuição: Shake Music
Assistente Fonográfico: Elder Effe
Realização: Selo Caquí
Projeto selecionado pelo Edital de MÚSICA – Lei Paulo Gustavo
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