Os símbolos dizem muito sobre uma pessoa. Para Natania Borges, os signos foram desenvolvidos após um mergulho (intenso e longo) interno e, agora, apresentados em I (Uma/One), álbum solo de estreia. A narrativa, composta em 14 faixas que mesclam afrobeat e afropop, foram criadas a partir de vivências intra e interpessoais que provocaram uma revisão pessoal e um despertador animal sobre si mesma.
Recomeçar nunca é fácil, mas Natania mostra sua coragem logo no início: em "Who You Are", canção que abre o disco, a artista relembra (e nos faz relembrar) de sua (e nossa) trajetória: "See the reflection into you, inside you / Is what will return to our consciousness / In every moment, in every feeling / With the power of our voices, our hearts / And our minds / Remember you / Remember your name / Remember who you are!". Assim, I (Uma/One) mostra os ciclos da artista que segue inovando sem medo.
"Após a composição das seis primeiras faixas, fui entendendo quais os gêneros iriam reger o trabalho, mas também não estipulei um tema ou nome. Eu queria compor um disco completamente inédito e que trouxesse uma essência natural de quem eu sou hoje como pessoa e artista", explica.
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Em entrevista para o site Cultura Preta, você comentou que sua carreira começou quando você nasceu. Como foi percorrer esse sonho?
Foi um desafio, como todo projeto que temos na vida, mas eu encaro como projeto pessoal também e isso transforma o caminho e como vejo esse processo. Parando para analisar tudo o que fiz até agora, consigo perceber uma linha produtiva de projetos e atividades em todos esses anos; estou ativa à 10 anos com projetos e obras que foram muito relevantes para meu crescimento artístico e pessoal, com isso, eu vejo que faço uma caminhada crescente e satisfatória em todos os sentidos.
O release de I diz que "o ano de 2024 é dela e ninguém tasca". Como tem sido o seu ano e o que falta alcançar?
Tem sido muito intenso! Estamos ainda na metade do ano e aconteceu muita coisa! O ano iniciou com a produção do disco e fizemos tudo isso em um tempo recorde, diante de tudo o que tinha produzido na música até aqui. Foram seis meses de planejamento, produção, captação audiovisual, pré-lançamento e lançamento, eu sinto como se estivesse no meio de uma corrente de muito fluxo e consequentemente chegou o momento de dar só uma pequena desacelerada para deixar tudo isso perpetuar, mas também caminhar para as atividades do segundo semestre. Estou em produção para fazer o encontro presencial de Uma com o público, esperamos encontrar vocês em breve para cantar e compartilhar nossas vivências e energias.
Para compor I, você precisou criar do zero, a partir de elementos sonoros que você já estava ouvindo e pesquisando. Conte mais sobre o processo.
Bem, eu estava em um momento de análise e reprogramação sobre minha jornada, desta vez sozinha, com isso, eu não queria delimitar nada, somente fluir no que sairia naturalmente e consequentemente se ligaria até o conceito do disco e assim foi. Fui reunindo tudo o que estava ouvindo e estudando a nível de música e brincando em cima dessas bases sonoras, como consequência da linha de estilo musicais que consumo, eu estava apenas ampliando gêneros que fazem parte do que já faço na música negra e da minha terra. O afrobeat por exemplo, para mim se ligou com as raízes daquilo que trago da música baiana e do afropop, foi como olhar para as raízes ancestrais e ligar o afropop com o que vem dos nossos ancestrais. Neste caminho fui unindo R&B/soul, afrobeat e o pagode baiano, construindo essas interseções que geraram cada música do disco. O processo básico de criação se baseou em bases sonoras, composição de letra, arranjos e paisagens vocais e depois foram encaminhadas para a produção dos beats e acréscimos de instrumentos orgânicos.
Você fez uma imersão muito profunda e particular sobre autoconhecimento a partir de vivências. Como foi esse mergulho? Ele te auxiliou no seu eu de hoje?
Foi um processo necessário de reflexão pessoal e espiritual, eu considero particular, mas ao mesmo tempo, quando a gente cria algo a partir das nossas vivências, em um momento se torna independente da gente também, porque vai a público e gera diversas leituras e conexões. Se levado para o lado mais cósmico, se torna energia e todo esse mergulho para mim foi isso, energia e espiritual, no sentido mais cósmico possível, para não ficar no espectro religioso e não é. Tudo isso, com certeza, me transformou muito, como artista e pessoa. A cada mergulho e mudança que fazemos, seja ela física, pessoal e profissional, traz para nós muitos desafios e aprendizados, a Natania de hoje certamente está mais pronta, madura, convicta e diferente da de ontem, e também está aberta a aprender e fazer muito mais.
"Protegida" é uma canção potente onde você narra o seu relato de vida. Foi difícil se expor?
Acho que para nós artistas autorais, e não só, a exposição é algo que é inerente ao nosso trabalho. Eu não ligo muito para o quesito de me expor nas minhas letras, elas existem por conta das minhas vivências, pra mim é natural, é o que torna a música sincera, aberta a identificação, como a letra mesmo fala, "nada disso determina meu caminho", tudo faz parte do que vivemos e sentimos, aprendemos e seguimos. Acho que uma das partes mais importantes para mim na hora de compor, está no fato de compartilhar o que já vivi, senti e aprendi, porque vamos construindo e comunicando com quem vive semelhante, ou não.
Agora que o seu primeiro álbum está no mundo, como você se sente?
Me sinto realizada, orgulhosa e motivada para continuar as próximas jornadas de conquistas. Principalmente grata, ao universo, aos meus mentores e mentoras, a todas as pessoas que participaram e participam dessa jornada comigo, aos fãs, seguidores, curiosos e haters (kkk), por estarem de alguma forma recebendo esta mensagem e grata a mim mesma por insistir, acreditar, trabalhar muito e pela oportunidade de ser uma artista, negra, nordestina, trans e que está viva fazendo arte, cultura, história e política.
I (Uma/One) é um disco que aborda o passado para viver o presente e pensar no futuro. Natania Borges ocupa os espaços, colocando todos para dançar e celebrar os recomeços.
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