São os próprios autores da peça O Que Só Sabemos Juntos, Denise Fraga e Tony Ramos, que abrem as portas do Teatro TUCA. Sorridentes, acenam para o público que entra timidamente no teatro e escolhem pessoas aleatórias para conversarem - mas não é uma conversa qualquer: perguntam sobre a vida, ou seja, querem saber sobre o passado, medos e sonhos, iniciando o processo de misturar ficção com realidade, dando sentido para o título da peça.
Mas é possível que os dois atores consigam saber de tudo, juntos? Conseguimos ser pessoas no capitalismo? É possível celebrar a vida, algo tão precioso e doloroso, com estranhos que decidiram sair de suas casas para se divertirem? “Eu gosto de contar as pessoas quando tem muita gente porque eu gosto sempre de imaginar que, sei lá, quando se trata de gente, cem não é cem, são cem unidades, cem uns, cem cada um, cem pessoas com vidas, histórias e experiências muito diferentes umas das outras”, diz a atriz após dar um tempo de todos estarem no mesmo lugar mentalmente.
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O Que Só Sabemos Juntos aborda a trajetória de dois grandes atores, tantas outras que ouviram por aí e do próprio público. Quando Tony compartilha sua memória de infância ao lado da avó, que tirava os dois cruzeiros do sutiã para dar ao neto ir ao cinema, é possível que alguém da plateia não tenha passado pela mesma história; o mesmo acontece quando Denise relembra a necessidade de continuar vivendo após perder o tio. Mas não é somente isso: ao abordar aquecimento global, feminicídio, violência, desigualdade social, racismo e opressão, nos vemos em cena, em cada passo que os protagonistas dão.
Sob a direção de Luiz Villaça, O Que Só Sabemos Juntos convida o público a escutar - os próprios sentimentos e o outro. Ao ouvir as pessoas selecionadas, Denise e Tony colocam em prática o ingrediente fundamental da peça, para, em seguida, darmos continuidade a filosofia. A participação de musicistas deixa tudo mais vivo, incômodo e bonito.
Não são todos que encontrarão respostas para suas angústias e erros, mas a possibilidade de ouvir e se enxergar na atuação de dois artistas brasileiros já nos dá as ferramentas para melhorarmos.
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