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A roda da fortuna de Megan Duus

Foto do escritor: Michele Costa Michele Costa

A roda da fortuna representa os ciclos da vida, ou seja, as mudanças inevitáveis e o destino em constante movimento - nada é fixo, tudo muda e evolui. No entanto, e possível registrar esses momentos. A cantora, produtora, instrumentista e DJ chilena Megan Duus apresenta suas ideias sobre os ciclos da vida em The Wheel of Fortune, seu primeiro álbum que passa pelo post-grunge, pop rock e folk music, adentrando também o território de ambient music e rock progressivo.


Gravado e produzido em estúdios e home-studios no Chile, Brasil e Los Angeles (EUA) pela própria artista em parceria com o produtor instrumentista chileno Leo Mus Waver que assina a engenharia de som, junto a Tim Horner (The Ship Studios, Los Angeles, CA), o disco retrata diálogos internos sobre o desconhecido, além de investigar o mundo onírico e espiritual. Autobiográfico ou não, Megan Duus nos ajudar a enfrentar os altos e baixos da vida com mais sabedoria e equilíbrio.


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megan duus
(Créditos: Isabella Moriconi)

Você já apresentou músicas eletrônicas anteriormente e agora lança o seu primeiro álbum. São dois trabalhos autorais, mas diferentes. Como você os separa e inicia o processo de criação? 

Trabalhei com diferentes estilos musicais ao longo da minha carreira. Na verdade, em 2013 lancei meu primeiro EP, que era pop/rock. Depois me aventurei a experimentar uma sonoridade mais pop com alguns elementos eletrônicos. Enquanto estava no meio do processo de The Wheel of Fortune, nasceu meu projeto eletrônico Sonic Star Society (em parceria com Leo Mus Waver), que é um projeto focado em música para dançar, para festa.

Sempre achei fascinante os diferentes contextos em que a música é recebida — a interação com o público em um show de música folk vai ser diferente de uma festa disco, por exemplo. Como compositora, me apaixona explorar esses contextos e ver até onde isso pode me levar criativamente, não me limito.

A separação entre os dois projetos está muito clara para mim, e o primeiro motivo é a energia da música, que é muito diferente — é feita para a pista de dança. Já o meu projeto solo tem uma abordagem mais conceitual e contemplativa.

O processo de criação dos dois também é bem diferente: a forma como as músicas são construídas, os elementos que usamos para gravar, o jeito que eu escrevo, tudo isso muda. Fiquem atentos porque nos próximos meses também terei novidades sobre o Sonic Star Society, mas por enquanto estou totalmente concentrada no lançamento de The Wheel of Fortune.


Todas as músicas são em inglês. Existe um motivo, é mais fácil? 

Essa é uma das perguntas que mais me fazem sobre a minha música! Um dos meus principais objetivos com a minha arte é alcançar o maior número possível de pessoas, e o inglês é um idioma que está presente em quase todo o mundo, então sinto que ele me permite expandir geograficamente. Ao mesmo tempo, tenho uma conexão especial com o inglês — desde pequena gostava de falar e escrever nesse idioma — e até hoje é a língua na qual componho minhas músicas. Mas eu sou apaixonada por idiomas no geral. Na verdade, já escrevi músicas em português e estou super aberta a compor também em espanhol. Não acho que seja necessariamente mais fácil, mas por enquanto é o idioma no qual fluo melhor para escrever minhas letras.


Como foi trabalhar com Leo Mus Waver e Tim Horner? 

Trabalhar com Leo Mus Waver foi uma experiência enriquecedora e de muito aprendizado. Já havíamos trabalhado juntos antes, mas nunca em um álbum completo. Nos conhecemos muito bem e somos muito próximos, e eu acredito que isso teve um papel essencial no processo do álbum, já que é um disco bastante emocional e nebuloso. Eu precisava de alguém que pudesse sentir e entender o que eu queria expressar em nível conceitual e sonoro.

Sinto que fomos uma ótima equipe: gravamos todos os instrumentos só nós dois, viajamos juntos para Los Angeles, para o Brasil, trabalhamos no meu estúdio no Chile... Fomos construindo o álbum com muita dedicação e cuidado. Ele foi parte essencial para que tudo funcionasse. Admiro demais o Leo como produtor e músico — ele tem uma sensibilidade muito certeira e acho que isso é algo muito importante na hora de gravar. E ele respeitou em todo momento a visão que eu tinha para esse álbum em termos de produção, o que nos permitiu complementar muito bem um ao outro.


megan duus
(Créditos: Reprodução/Divulgação)

The Wheel of Fortune é biográfico, já que apresenta suas ideias sobre os ciclos da vida. Em que momento a ideia de trabalhar a roda da fortuna surgiu? 

The Wheel of Fortune é biográfico e ao mesmo tempo não é, porque é essencialmente sobre uma jornada emocional na qual quase todo mundo embarca pelo menos uma vez na vida (se não várias vezes). A natureza cíclica das coisas e, por consequência, o inesperado, são elementos presentes durante toda a vida — e o álbum retrata justamente isso. Os diferentes momentos dessa roda: estar perdido, encontrar lampejos de luz por breves instantes e depois se perder novamente, até entender que a roda nunca para de girar.

Comecei a escrever o álbum em uma viagem de camping que fiz ao Vale do Elqui (Chile), no começo de 2020... Não foi algo planejado, eu não tinha na cabeça "agora vou fazer um disco". Eu só sabia que estava com uma urgência criativa muito forte e que precisava atender a essa urgência. E foi assim.


Em "Assistance is at Hand" você se pergunta se está no lugar certo. Você acha que está alcançando os espaços que desejou? 

Acho que as expectativas vão mudando com o tempo, o que eu tinha em mente cinco anos atrás já mudou. Acredito que alcancei muitos espaços com os quais sonhei, mas me considero uma pessoa ambiciosa e sempre quero mais.

No âmbito pessoal, sinto que superei várias expectativas em relação a mim mesma — a experiência me permitiu lidar com situações que antes eu jamais conseguiria. Isso só o tempo dá. Em termos criativos, tenho uma infinidade de coisas para fazer e explorar. Acho que nunca vou estar completamente satisfeita e estou em um momento de imersão total na minha música e nas minhas expressões criativas. Preciso me manter ativa e continuar buscando fontes. "Assistance is at Hand", para mim, é sobre ouvir a voz interior — nossa voz mais sábia


"Mind Pool" e "Loving Myself" são canções sobre se perder no meio da trajetória, um momento comum da vida. Como se reencontrar novamente? 

Os momentos em que nos perdemos são muito valiosos, porque nesse caos precisamos aprender a continuar à tona. E nas tentativas, vamos descobrindo aos poucos quem somos e por que somos assim. Para nos "reencontrarmos" novamente, acho que primeiro temos que aceitar que estamos em constante mudança — talvez esse "eu" que eu encontrar não seja o mesmo "eu" de antes, e aceitar esse fato é importante. Se entregar conscientemente ao caos também — e não digo isso de forma figurativa, mas bem real. Tem momentos em que continuar resistindo à realidade e lutando contra ela não faz mais sentido, e só nos resta ir com a corrente. O que sempre me ajudou foi estar na natureza, onde consigo ouvir meus pensamentos com menos ruído e enxergar o mundo com mais clareza.


Em "Glow" você diz que a esperança continua em você. Ela te ajuda a seguir adiante? 

"Glow" marca a metade do álbum e é a primeira vez que começo a ver “a saída do túnel” nessa jornada de que falo no disco. É uma música de aceitação e também de esperança.

Num mundo como o que vivemos, acho que viver sem esperança seria impossível. É uma decisão que a gente toma, uma visão que escolhemos ter diante da vida. Preciso escolher olhar para o lado luminoso das pessoas, me agarrar ao que me faz bem. Sem esperança, limitamos a experiência de viver.


"Blood Red" é uma canção forte, porque retrata questões que foram vividas. Ao cantá-la, o que você sente? 

"Blood Red" é uma música que carrega raiva dentro dela. Quando eu a canto, sinto como se fosse um “desabafo”, essa raiva consegue sair e se transforma em outra coisa: uma sensação de leveza. A música é terapêutica para mim — é quase sempre o canal pelo qual consigo me expressar da forma mais crua.


"My path is bright" você canta em "Father Sun", encerrando o disco. Como você visualiza o seu futuro? 

"Father Sun" é a música que encerra o disco porque é uma música de entrega total à vida, onde já não existe mais resistência e consigo seguir meu próprio ritmo interno… As últimas frases do álbum são "The mist is gone, my path is bright" e gosto de ver isso como um feitiço... Visualizo meu futuro com muita fé e abertura. Que a vida me surpreenda.


The Wheel of Fortune, de Megan Duus

O debut do disco acontecerá na próxima sexta-feira, 4 de abril, em todas as plataformas de músicas. Além disso, é possível comprar The Wheel of Fortune pelo Bandcamp da cantora. Acompanhe através do Instagram e esteja preparado para entrar no mundo de Megan.



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