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Os 50 melhores álbuns nacionais de 2024
Após compartilhar os 50 melhores álbuns internacionais deste ano, chegou a hora de apresentar os 50 melhores álbuns nacionais de 2024. Por fim, uma breve lista com os dez melhores EPs brasileiros lançados também neste ano. Confira! Amaro Freitas - Y’Y Surgido a partir de um processo com a comunidade Sateré-Mawé, nas proximidades de Manaus, Amazonas. Y’Y é um trabalho diferente e inédito do pianista, pois o músico trabalha com a magia do lugar, desenvolvendo imagens fantásticas que nos relembram que o país é bonito. Hermeto Pascoal - Pra você, Ilza Por muitos anos, Hermeto Pascoal preencheu um caderno com partituras para Ilza, com quem foi casado por 46 anos e teve seis filhos. Mais de duas décadas após a partida da esposa, o bruxo resgata as músicas para celebrá-la em um disco poético. Giovani Cidreira - Carnaval Eu Chego Lá Impossível não se emocionar com a celebração que Giovani Cidreira faz a Ederaldo Gentil (1947-2012). A partir de uma releitura de grandes canções do músico, Cidreira leva o ouvinte para outros caminhos ao trazer pluralidade ao disco. Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Pirlo e iloveyouangelo - Maria Esmeralda Maria Esmeralda é a protagonista da obra coletiva que aborda temas como amor, família, medo, vingança, questões pessoais e sentimentais. Por mais que Maria Esmeralda seja o fio condutor da narrativa, as letras não estão ligadas, apenas a sonoridade que são construídas a partir de trechos de filmes, elementos e ruídos. Definitivamente uma obra que está em constante transformação. Alaíde Costa - E O Tempo Agora Quer Voar O segundo álbum da trilogia idealizada por Emicida e Marcus Preto, E O Tempo Agora Quer Voar revela oito faixas compostas especialmente para ela que está no auge da carreira. Milton Nascimento e Esperanza Spalding - Milton + Esperanza Gravado na cidade do Rio de Janeiro ao longo de 2023, com produção musical e arranjos de Esperanza, Milton + Esperanza é um disco bilíngue que aborda a força espiritual de Milton, engrandecendo a potência da cantora de jazz. Trago - TRAGO Os pequenos vídeos que Tulipa Ruiz gravou pelo celular foram o estopim para o álbum. A cantora encontrou potencial nos sons dos vídeos, quando tocadas em loop. Rica Amabis converteu esses loops em programações e samples, enquanto Alexandre Orion adicionou beats da sua MPC e Gustavo Ruiz gravou baixos e guitarras. Com as bases prontas, Tulipa criou as melodias e letras, dando vida às imagens escolhidas. TRAGO foi desenvolvido a partir do contexto urbano, mas ganha outro peso quando um elemento novo é adicionado. Saiba como foi o show de lançamento do disco. TAXIDERMIA - Vera Cruz Island Vera Cruz Island, o espaço, está localizado na Ilha de Itaparica, na Bahia, mas também se transforma em música por João Milet Meirelles e Jadsa. A dupla transita por diferentes estilos, revelando-se aos poucos a celebração ao povo baiano e a herança cultural. Thiago França - Canhoto de Pé Algumas músicas de Bodiado (2021) ficaram de fora, sendo aproveitadas agora, no novo trabalho. Canhoto de Pé mostra a personalidade de França e a ousadia com o seu instrumento. Liniker - Caju Com 14 faixas que vagam por baladas confessionais ao reggae, Caju mostra a potência da cantora que cresce a cada lançamento. Acompanhada por artistas renomados, Liniker passeia por diversos gêneros musicais para retratar o amor e a sofrência. Maria Beraldo - Colinho A provocação está nas onze faixas de Colinho. Nele, Maria Beraldo está livre para desejar e se insinuar para o ouvinte. Passando por diversos gêneros musicais, Colinho é um disco sobre a investigação da compreensão de sua identidade de gênero. Boogaris - Bacuri Esperado pelos fãs há anos, Bacuri é consequência da construção de anos da banda. O quarteto mistura psicodelia com experimentação com vozes carregadas de efeitos, potencializando o disco. Céu - Novela Primeiro registro de inéditas após cinco anos, Novela remete às memórias da carreira inicial de Céu, momento em que se descobriu compositora. Gravado ao vivo e de forma analógica, o disco retrata os sentimentos e histórias da cantora. Antonio Neves - Deixa Com a Gente Diferente de A Pegada Agora É Essa , lançado em 2021, Antonio Neves inaugura uma nova fase com Deixa Com A Gente . Leve e bem-humorado, o disco destaca a boemia do samba de gafieira carioca. Jota.pê - Se o Meu Peito Fosse o Mundo Lançado originalmente como um EP no ano passado, o álbum traz um Jota.pê maduro e seguro da própria arte, compartilhando suas observações e crenças. Crisin da Z.O - Acelero Chris Onofre e Danilo Machado se reúnem com o paranaense Marcelo Fiedler para compartilhar o fluxo intenso de pensamento que divaga pelas ruas do Rio de Janeiro a partir do funk carioca. Curumin - Pedra da Selva Durante a pandemia de Covid-19, Curumin viu a possibilidade de organizar (e reviver) as experiências vividas. As 17 canções são resultados do isolamento social, por isso, os temas existenciais e a natureza estão presentes. Lencinho - Só as Melhores Formado por Gabriel Otero, Fábio Baltar, Bernardo Cunha, Pedro Millecco e Vitor Brauer, o primeiro disco da banda de pagode alternativo combina guitarras com a atmosfera clássica do pagode dos anos 90. Malu Maria - NAVE PÁSSARO É possível ver Diamantes na Pista (2018) e Ella Terra (2019) em NAVE PÁSSARO (2024), porém, Malu Maria está em outro patamar criativo. Em companhia do produtor Dustan Gallas, o disco traz diversos símbolos que surgiram em sonho para a artista. Em batidas e bases dançantes, Malu conquista o ouvinte rapidamente. Leia a entrevista completa aqui . Teto Preto - Fala Sem seguir regras, Teto Preto segue fazendo história. Fala demonstra sua grandeza já nos primeiros minutos. Neste trabalho, os integrantes discutem as diferentes formas de violência em uma abordagem dançante. Cátia de França - No Rastro de Catarina Com 12 faixas inéditas, Cátia de França dialoga com o passado e o presente a partir de uma sonoridade intensa, mergulhando por quase seis décadas de sua vida artística. MADRE - Vazio Obsceno Após se afastar da música, Luiza Pereira se reencontrou com a veia artística na pandemia. Durante o isolamento social, aprendeu a tocar guitarra e voltou a compor surgindo, sem pretensão, MADRE e Vazio Obsceno , um disco agressivo que traz os sentimentos da artista vividos durante esse momento. Confira a entrevista com a artista aqui . Apeles - Estasis Um disco idealizado, pensado e desenhado encerra uma trilogia e apresenta o mundo aos ouvintes. Estasis conta com participações de artistas da Itália, Coreia do Sul, Reino Unido, Argentina, Grécia e, claro, Brasil, para dar um novo significado ao clube noturno imaginário. Negro Leo - Rela O desejo é o fio condutor de Rela . Vagando por diferentes estilos e ritmos, Negro Leo aborda o sexo de uma maneira criativa: as composições foram desenvolvidas a partir de uma experiência em aplicativos de relacionamentos. Ao buscar o sexo, o artista adiciona camadas instrumentais, sobreposições de vozes e batidas, entregando uma dança delirante e excitante. Reiner - Elã Criado a partir do termo de Henri Bergson, Elã foi pensado como uma viagem pelas diferentes sonoridades que Belém possui. A partir de observações, vivências, questionamentos e raiva, o músico navega pelas correntes de uma Amazônia futurista, apresentando sua cultura e grito político . Tássia Reis - Topo da Cabeça As rimas e o rap ficam em segundo plano para dar destaque ao samba e os mais diversos elementos da música brasileira. Bebé - Salve-se O amadurecimento de Bebé está exposto em Salve-se . A cantora se aprofunda em questões sexuais e conflitos de uma jovem adulta em um mundo selvagem. Ao compartilhar suas questões, Bebé se salva e ajuda o ouvinte a também se salvar. Rod Krieger - A Assembleia Extraordinária Produzido de forma solitária na pequena aldeia de Sobral de Pavilhão, no interior de Portugal, A Assembleia Extraordinária traz uma narrativa por vezes introspectiva, porém quase sempre irônica. Confira a entrevista com Rod Krieger aqui . Sue - Quando vc volta? Radicalizada no Brasil há 11 anos, Sue vai na contramão do capitalismo para estabelecer um contato profundo e reflexivo consigo mesma e com os demais em Quando vc volta? , um disco brilhante e extremamente sensível. Arthur Melo - Mirantes Emocionais Mirantes Emocionais , quarto álbum de Arthur Melo , inaugura um novo momento em sua carreira. Algumas faixas surgiram a partir de experimentações e colagens, criando músicas animadas e coloridas que abordam a conexão/desconexão e pertencimento através de vários pontos de vista. DJ Anderson do Paraíso - Queridão Com lançamento pelo selo Nyege Nyege Tapes, Queridão é o primeiro trabalho de estúdio do DJ Anderson do Paraíso. As 17 faixas levam o baile funk para outras vertentes, impactando o ouvinte desde o início. Nina Maia - Inteira Desenvolvido a partir de experimentações ao vivo e conversas com o produtor Yann Dardenne, Nina Maia compartilhou-se inteiramente com o público ao apresentar canções que retratam o seu crescimento. Kamau - Documentário Após vinte e dois anos, Kamau retorna à música com Documentário , dando continuidade ao trabalho iniciado em 2008, com o seu primeiro disco. As faixas são marcadas pelo reducionismo das bases, deixando as vozes em primeiro plano. Deize Tigrona - Não Tem Rolê Tranquilo A diversidade é o conceito de Não Tem Rolê Tranquilo. O álbum transita por estilos que dialogam com as letras e parcerias. Varanda - Beirada O primeiro álbum de estúdio da banda mineira chama atenção pelas cores escolhidas ao retratar possibilidades ao caminhar pelo rock alternativo e indie. Clara Castro - Perambule Como um registro documental e atmosférico do movimento de chegada a São Paulo, o novo álbum de estúdio da cantora e compositora mineira é intitulado a partir de sua principal ferramenta criativa. Perambule vem do ato de vaguear, andar sem um destino certo, e foi dessa maneira que o novo disco foi embalado. Pietá - Nasci no Brasil A brasilidade começa no título do álbum. Em Nasci no Brasil , o trio reafirma a beleza do país mesmo com as dificuldades e mazelas. Ná Ozzetti e Luiz Tatit - De Lua Em dez faixas inéditas, a dupla reafirma a parceria de décadas em um disco que ilumina as canções e relembra o passado com carinho, formando novos rumos. Nathan Dies - Laila Laila , segundo álbum de Nathan Dies , faz uma conexão com São Paulo e Nova Iorque. Abordando a saudade e a nostalgia do país de origem, o músico segue criando suas noites estreladas. Ale Sater - Tudo Tão Certo Em seu primeiro álbum solo, Tudo Tão Certo retrata conflitos pessoais, incertezas e angústias em versos confessionais. Juliano Costa - Vida Real Após navegar sem direção em Barco Futuro (2020), Juliano Costa apresenta uma crônica da vida a partir da realidade e da idealização, imitando o retrato do dia seguinte de uma festa. Zepelim e o Sopro do Cão - Caranguejo de Açude Após três mudanças na formação da banda, a Zepelim e o Sopro do Cão encontrou o seu som. O primeiro álbum da banda mistura todos os momentos históricos da ZSC, fincando a banda no rock e no hardcore. Com 8 faixas, o álbum permeia estilos que vão do hardcore e punk, ska e rap que se unem ao sotaque paraibano, às vivências no interior do Nordeste e garantem uma unidade sonora original à banda. Glote - Melancolia-Ultra Formada em 2021, a banda apresenta influências de math rock, art rock e até trilha sonora de videogame em canções que surgiram durante o isolamento social. A partir de colagens de diferentes riffs, a GLOTE reflete sobre temas da juventude dos anos 2000. Saiba mais sobre a banda aqui . Zé Manoel - Coral A delicadeza do músico pernambucano segue presente em Coral . Sem repetir a mesma fórmula em Do Meu Coração Nu , Zé Manoel celebra a ancestralidade negra. Fantástico Caramelo - Nas Colinas Astrais Ao longo deste ano, a Fantástico Caramelo apresentou singles que deram corpo ao álbum. O trabalho explora o lado mais místico do grupo, com letras que fazem referência a temas como astrologia, enquanto criam cenários surreais compostos por naves espaciais e pirâmides amazônicas. MOMO. - Gira O álbum Gira é o reflexo das transições que MOMO realizou durante os anos, além da paternidade que influenciou o músico a desenvolver um álbum mais leve e pautado pelo groove. Nabru - Desenredo Mineira radicada em São Paulo, Nabru lançou neste ano o seu primeiro álbum de estúdio. Desenredo destaca as rimas potentes que se aprofundam em questões existenciais, políticas e sentimentais. CACO/CONCHA - CACO/CONCHA Formado pelos primos André e Felipe Nunes, CACO/CONCHA apresenta a mistura de São Paulo com a tranquilidade do litoral. No primeiro disco da dupla, o duo explora temas como liberdade, pertencimento e a dualidade entre o corpo sólido e maleável, transformando experiências pessoais em músicas dançantes e divertidas. Quarteto Pizindim - O Choro nas Bordas da Metrópole Resultado de um projeto que percorreu escolas dos quatro cantos da cidade de São Paulo em 2023, O Choro nas Bordas da Metrópole é marcado por composições autorais inéditas de Rafael Esteves e Rodrigo Carneiro. Confira as impressões do disco aqui . Os 10 melhores EPs de 2024 Jup do Bairro - In.Corpo.Ração O corpo segue presente em In.Corpo.Ração, último EP de Jup do Bairro . Nele, a artista amplia a própria pesquisa, compartilhando os sentimentos (que muitas vezes soa como incerto) de suas observações e vivências. Lucas Higashi - Epílogos do Entardecer A ancestralidade é o fio condutor do EP de Lucas Higashi . Em 5 faixas, o músico conhece sua história para iniciar os próprios passos. Paira - EP01 Com lançamento pela Balaclava Record, o EP mistura diversos gêneros musicais, como o indie rock ao drum and bass, do breakcore ao UK garage para abordar os sentimentos da dupla. Lencinho - Belo Lo-Fi Após apresentar o primeiro álbum da banda de pagode alternativa, Lencinho apresenta Belo Lo-Fi , EP de quatro faixas clássicas do cantor Belo com guitarras e ruídos. Haroldo Bontempo - Indie Hippie Retrô Brasileiro Após o lançamento de Músicas para Travessia (2020), o músico retorna com novo EP. Intitulado Indie Hippie Retrô Brasileiro , o álbum segue dando continuidade ao seu trabalho poético e sensível. anaiis & Grupo Cosmo Usar o movimento como alicerce do processo criativo é o que inspira a cantora franco-senegalesa anaiis em suas composições. A artista leva consigo a pluralidade cultural dos diversos lugares em que já passou, como Toulouse, Dublin, Dakar, Oakland e Londres; e o Brasil acaba de integrar essa lista como fonte de expressão para o lançamento de seu novo EP, anaiis & Grupo Cosmo . O projeto transita pelo jazz, R&B, soul e até bossa nova, com grande foco em instrumentais que dialogam entre percussão e cordas, como violino, violão e baixo. O Cientista Perdido e UMZÉ - casa, aqui Após dividirem palcos em São Paulo e Brasília, a dupla se reuniu para revisitar o passado para andarem no presente sem medo e construírem uma nova casa. casa, aqui traz esse espaço seguro e confortável que o duo sempre buscou. Confira a entrevista com O Cientista Perdido e UMZÉ aqui . Yuri Costa - Anjo Elétrico Sempre inovando, Yuri Costa apresenta cinco novas versões de suas canções com banda de apoio em novo EP. O novo trabalho é uma mistura de passado e presente, sintetizando muitas das ideias do músico nessa trajetória do ‘ser artista’. Marcelo Segreto - Cinemúsicas, Vol. 1 Em Cinemúsicas, Vol.1 , Marcelo Segreto propõe um diálogo entre a canção popular e o cinema, além de homenagear os seus filmes preferidos. Thiago Elniño e GOG - SANKOFA Revisitar o passado para viver o presente, imaginando o futuro. É através do tempo que evoluímos. É com essa ideia que Thiago Elniño e o rapper GOG compartilham em SANKOFA , primeiro EP da dupla, que aborda memória, caminhos e trocas.
Os 50 melhores álbuns internacionais de 2024
2024 foi o ano das transformações, renovações e retorno de de artistas consagrados. Dando continuidade a lista dos melhores dos anos , trago os melhores álbuns internacionais de 2024. Laurie Anderson - Amelia No seu novo álbum, Laurie Anderson revisita a história de Amelia Earhart, pioneira aviadora feminina dos EUA, para imaginar sua história no céu e celebrá-la. Confira as impressões do disco aqui . Charli xcx - BRAT Charli está confiante e independente, levando a expressão "brat" para sua vida. O disco traz a evolução da cantora que continuou a desenvolver seu crescimento em Brat and it's completely diferente but also still brat , álbum remix com participações especiais. Billie Eilish - Hit Me Hard and Soft Outra cantora que cresce a cada lançamento é Billie Eilish. Hit Me Hard and Soft leva o ouvinte para diversos lugares - imagináveis ou não - através de sua voz e melodia que recorda o início da carreira da jovem. Tyler, The Creater - Chromakopia Desde Call Me If You Get Lost (2021), Tyler, The Creator vem se especializando na produção dos seus discos. Diferente do seu antecessor, Chromakopia aborda a vulnerabilidade do músico ao trazer questões pessoais. Kendrick Lamar - GNX Lançado de surpresa, o novo disco de Kendrick Lamar é uma obra-prima. As 12 faixas do álbum tratam de memórias afetivas, relações familiares, vivências, perdas e conquistas pessoais de forma sensível. Brittany Howard - What Now Diferente da sonoridade Alabama Shakes, Brittany encontrou espaço para apresentar uma sonoridade interessante aos seus seguidores. What Now resgata os elementos da música negra dos anos 1950 e 1960 com música eletrônica. Nick Cave & The Bad Seeds - Wild God Após viver o luto da perda de seu filho - presentes em Ghosteen (2019) e Skeleton Tree (2016) -, Nick Cave está pronto para viver e celebrar a vida. Wild God traz esse sentimento que se mistura com a euforia dos músicos. Bolbec - Victime de l'aube A dupla, composta por Axel Concato e Barth Corbelet, apresentou neste ano o seu primeiro álbum. Em Victime de l'aube , o duo atravessa suas diversas influências - folk, música clássica, eletrônica e jazz espiritual -, capturando a alegria do início do dia (como diz o título). Jack White - No Name No Name foi lançado de uma maneira inusitada: os vinis, não identificados, eram entregues para os clientes que compravam discos nas lojas físicas da Third Man Records. Cheio de arranjos sujos de guitarra, White segue potente nos acordes magnéticos. Kim Gordon - The Collective Aos 70 anos, Kim Gordon não mudou nada: ela segue consciente do seu papel e seus ideais. Grande fã da experimentação, The Collective surgiu desse ponto e das observações sobre a sociedade que está doente e sem esperança. Sleater-Kinny - Little Rope O 11º disco da dupla é marcado pelo processo de perda e luto sob riffs e distorções de guitarras. Em dez músicas , Carrie Brownstein e Corin Tucker compartilham novas maneiras de lidar com a tragédia através de suas potências. Beth Gibbons - Lives Outgrown The Cure - Songs of a Lost World Após dezesseis anos, a banda inglesa retorna com um novo álbum totalmente poético ao abordar solidão e deslocamento do mundo. Fantastic Negrito - Son of a Broken Man Explorando temas como família e lutas entre pai e filho, Fantastic Negrito faz uma reflexão profunda e sensível sobre as mentiras que o próprio pai o contou e como essas histórias moldaram sua vida. Além do tema pesado, o músico segue expandindo os limites da música, entregando uma explosão sonora. Jessica Pratt - Here In The Pitch O silêncio é o antagonista do álbum de Jessica Pratt, perdendo apenas para a voz doce da cantora. O disco traz a vulnerabilidade e a sensibilidade de suas angústias que dialogam com os fantasmas de seus ouvintes. Vasco Ribeiro & Os Clandestinos - Formas de Estar A vida segue diante de nossos olhos quando estamos parados, em movimento, entre quartos desarrumados ou uma “casinha velha” perto dos campos do Gerês e os estúdios Namouche, em Lisboa. Foi assim, em constante mudança, que surgiu Forma de Estar, segundo álbum de Vasco Ribeiro & Os Clandestinos. Confira as impressões aqui . St. Vincent - All Born Screaming Em constante transformação, St. Vincent segue em um território criativo que mistura calmaria, caos e estranheza, com o suporte do pop. Adrianne Lenker - Bright Future Friko - Where We've Been, Where We Go From Here NOR-BRA LOVE 3:3 - Paal Nilssen-Love A 13ª edição das Sessões Selo Sesc traz o resultado de uma residência artística intensa e colaborativa entre músicos noruegueses e brasileiros, liderada pelo renomado baterista Paal Nilssen-Love. Ocorrido no Sesc 24 de Maio, em 2023, o disco celebra a improvisação e diversidade musical. Beyoncé - Cowboy Carter A estética de Cowboy Carter soa como um disco country, mas não é. Nele, Beyoncé ultrapassa os limites (imposto por outras pessoas) e testa as sonoridades do gospel, rock e eletrônica, conservando o pop e o R&B. Vampire Weekend - Only God Was Above Us Após muitas tentativas, o Vampire Weekend lança um álbum direto e delicioso para ser ouvido, tendo Nova York como inspiração para as dez faixas do álbum. Fabiano Nascimento & Sam Gendel - The Room O músico brasileiro Fabiano se junta com o saxofonista estadunidense Sam Gendel para realizar um álbum rico que foca na conexão desses dois artistas. The Warning - Keep Me Fed Camera Obscura - Look to the East, Look to the West Camera Obscura precisou de um longo tempo para trazer ao mundo um novo projeto. O sexto álbum de estúdio da banda faz uma brincadeira com a pulsão de vida e morte que se misturam com outras temáticas, mas sem perder as diversas sensações que a banda traz ao ouvinte. Fabiana Palladino - Fabiana Palladino Após decidir como seria sua sonoridade, Fabiana Palladino se revela aos poucos em seu primeiro disco. Suas composições dialogam com os dias atuais, abraçando quem a ouve. Shabaka - Perceive Its Beauty, Acknowledge Its Grace Em 11 faixas, Shabaka cria o seu próprio mundo reflexivo e pensativo, completamente potente com o suporte de muitos amigos e flautas. Mdou Moctar - Funeral For Justice O golpe de estado em Níger inspirou Mdou Moctar a fazer um disco, fora de casa. Um disco político que reflete sobre o impacto do colonialismo europeu no continente africano. Gossip - Real Power Após dar um tempo, o grupo retornou a cena musical com as energia renovadas em um trabalho de inéditas, sem perder a essência da pista e das guitarras funkeadas. Mk.gee - Two Star & The Dream Police The Black Keys - Ohio Players Após muitas tentativas nos álbuns anteriores, Dan Auerbach e Patrick Carney reencontraram o ponto para fazer um álbum agradável aos ouvidos. Ohio Players é um frescor para a dupla que saiu do mesmo formato para realizar um disco animado. Abbey Blackwell - Big Big Motion Em novo disco, a ex-baixista de Alvvays mantém a intimidade de My Maze (2023), seu debut. Big Big Motion coloca a reflexão em primeiro lugar, indo contra o tempo corrido e agitado dos dias de hoje. Clairo - Charm Após trabalhar com vários colaboradores, Clairo encontrou Leon Michels para orientar a cantora na sonoridade minimalista. Midwife - No Depression in Heaven Mannequin Pussy - I Got Heaven Marisa Dabice, Kaleen Reading, Colins Regisford e Maxine Steen explodem em I Got Heaven , hipnotizando o ouvinte do início ao fim. Fin Del Mundo - Hicimos crecer um bosque Em oito canções, o quarteto feminino segue sendo uma banda indie-rock, mas sem esquecer suas raízes. Em novo álbum, Fin Del Mundo apresenta um espaço psíquico de dream pop com muitas distorções e emoções. Mutual Benefit - Growing at the Edges - The Demos Helado Negro - Phasor Helado Negro está em sua melhor fase: Phasor é minimalista, mas não perde a sensibilidade, característica presente nas obras do músico. Durante o disco é possível acompanhar o artista nos diferentes caminhos que criou. Four Tet - Three Three apresenta um lado calmo, contemplativo de Kieran Hebden que coloca a nostalgia dos anos 1900 e 2000 como narrador do disco. Future Islands - People Who Aren't There Anymore Após um disco cheio de alegria e paixão - As Long As You Are (2020), Future Islands apresenta um disco com letras melancólicas com arranjos animados, mostrando as oscilações que o quarteto passou durante os últimos quatro anos. SHOLTO - Letting Go of Forever Amyl and The Sniffers - Cartoon Darkness Três anos após o lançamento do último trabalho de estúdio, Amyl and The Sniffers retorna à cena com novo disco cheio de ferocidade e energia. Kali Malone - All Life Long Os estudos da liberdade sonora de Kali Malone estão presentes neste disco. All Life Long traz a artista em novos caminhos com diferentes colaboradores. Nailah Hunter - Lovegaze As paisagens musicais que Nailah desenvolveu em seu novo disco foram construídas a partir da beleza e a melancolia da harpa, seu instrumento. Chanel Beads - Your Day Will Come A essência do disco começa na capa com uma pintura antiga. Já as vozes são carregadas de efeitos, guitarras abstratas e sintetizadores que recordam um tempo no passado. Kali Uchis - Orquídeas Orquídeas é o sucessor de Red Moon In Venus , lançado em 2023. A artista segue investindo no neo-soul psicodélico, além de celebrar suas raízes. Parannoul - Sky Hundred O projeto sul-coreano aborda conflitos sentimentais e temas existenciais em novo disco, conversando com os ouvintes. Geordie Greep - The New Sound Ty Segall - Three Bells As harmonias de vozes se misturam com as guitarras ruidosas, entregando um ótimo resultado em um álbum psicodélico que captura a atenção do ouvinte. Philip Glass - Philip Glass Solo
Os 25 melhores filmes de 2024
Lançamentos ou não, a lista dos melhores filmes de 2024 está aqui e contém dicas para todos os gostos. Além disso, uma breve lista dos 10 melhores curtas. Confira: Os 25 melhores filmes assistidos em 2024 Dias Perfeitos (Wim Wenders, 2024) É possível encontrar motivos para sorrir e sentir prazer nas pequenas tarefas da vida? Dias Perfeitos mostra que sim. Hirayama é um homem de meia idade reflexivo que vive sua vida de forma modesta como zelador e limpando banheiros em Tóquio, indo contra a maré do capitalismo. Saiba mais aqui . Omar and Cedric: If This Ever Gets Weird (Nicolas Jack Davies, 2024) "Se isso ficar estranho, prometa que podemos simplesmente parar, pois nada é mais importante do que amar você." Estas foram as palavras de Omar Rodríguez-López ao seu amigo de infância Cedric Bixler-Zavala em janeiro de 2000, às vésperas de gravar um álbum que mudaria suas vidas para sempre. Este pacto durou uma década, o suficiente para ser destruído pelo engano, a Cientologia e a traição. Levante (Lillah Halla, 2024) Sofia, uma jovem atleta de 17 anos que, às vésperas de um campeonato de vôlei decisivo para sua carreira como esportista, descobre estar grávida. Na tensão do momento, ela só tem uma certeza: não pode virar mãe no momento. Sofia, então, sem ver outra alternativa, decide interromper a gravidez de forma clandestina o que acaba à cruzando com um grupo fundamentalista que a tem como uma pecadora e estão dispostos a detê-la para que ela não realize o aborto custe o que custar. Limite (Mario Peixoto, 1931) Um barco está perdido no oceano com três náufragos - um homem e duas mulheres. Sem ter o que fazer e com pouquíssimas esperanças de salvação, cada um deles passa a contar para os demais a história de suas vidas, relembrando os acontecimentos que os levaram até ali, três destinos à deriva, confinados em um espaço onde tudo é limite. Que Bom Te Ver Viva (Lucia Murat, 1989) O filme de Lucia Murat conta a história de ex-presas políticas da ditadura militar brasileira que analisam como puderam enfrentar as torturas e prisões, relatando as situações e como sobreviveram a esse período, onde delírios e fantasias são recorrentes. O filme intercala cenas documentais com um monólogo ficcional, que é um amálgama dos relatos e das memórias dessas corajosas mulheres. Assistir para não esquecer o passado sombrio do país. Mil e Uma Noites, Vol. 1: O Inquieto (Miguel Gomes, 2015) O primeiro volume da série é realizado a partir de um argumento de Gomes com Mariana Ricardo e Telmo Churro. A longa-metragem é uma adaptação moderna do clássico, retratando os efeitos da crise financeira de 2010 em Portugal. Ainda Estou Aqui (Walter Salles, 2024) Lançado este ano, Ainda Estou Aqui foi desenvolvido a partir do livro de Marcelo Rubens Paiva que retrata suas memórias ao lado do pai Rubens Paiva e da mãe Eunice Paiva, uma advogada que acabou se tornando ativista política na sequência da prisão e consequente desaparecimento de seu marido pela ditadura militar brasileira. A Substância (Coralie Fargeat, 2024) Considerada velha para continuar na TV, Elisabeth Sparkle decide experimentar uma droga do mercado clandestino que promete replicar suas células, criando temporariamente uma versão mais jovem e aprimorada de si mesma. Agora, a atriz se vê dividida entre suas duas versões que devem coexistir enquanto navegam pelos desafios da fama e da identidade. Fernanda Young: Além do Meu Controle (Susanna Lira, 2024) O documentário resgata a memória e o fluxo de pensamento único da escritora Fernanda Young. Com vídeos caseiros, trechos de livros, poemas, imagens, colagens e trechos do cinema mudo, a obra propõe ao espectador uma viagem poética pelo pensamento de Fernanda para resgatar a voz da escritora que faleceu precocemente em 2019. Retratos Fantasmas (Kleber Mendonça Filho, 2023) Disponível na Netflix, o documentário reflete sobre o centro do Recife durante o século XX e hoje. A partir de imagens de arquivo, fotografias e registros em movimento, o filme busca explorar a história do centro da cidade, contada a partir das salas de cinema que movimentavam a população e ditavam comportamentos. Atravessando a Ponte: O Som de Istambul (Fatih Akin, 2005) Alexander Hacke, integrante da banda alemã Einstürzende Neubauten, torna-se um duplo do diretor no filme . Passeando pelas ruas de Istambul em busca da diversidade da música local, o músico busca traduzir a cultura dos antepassados de Akin. Black Future, Eu Sou o Rio (Paulo Severo, 2023) Eu sou o Rio, álbum de estreia da banda Black Future, constou em todas as listas de melhores lançamentos do ano em que foi lançado, em 1988. Os ex-integrantes e pessoas próximas contam a história da banda e do movimento. Andança: Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho (Pedro Bronz, 2022) Durante sua vida, Beth Carvalho registrou seus encontros e suas andanças. O documentário narra a história da madrinha do samba que amou a vida até o último suspiro. O Caso dos Irmãos Naves (Luís Sérgio Person, 1967) A reconstituição de um caso real, ocorrido no Estado Novo em 1937, na cidade de Araguari, em Minas Gerais, durante a ditadura de Getúlio Vargas. Tudo começa quando um homem foge, levando o dinheiro de uma safra de arroz. Os irmãos Joaquim e Sebastião Naves, sócios do fugitivo, denunciam o caso à polícia. De acusadores eles passam a réus, por obra e graça do tenente de polícia que dirige a investigação. Presos e torturados, os Naves são obrigados a confessarem o crime que não cometeram. Pedágio (Carolina Markowicz, 2023) Suellen é uma mulher que leva uma vida simples trabalhando como cobradora de um pedágio. Um dia, ela percebe que pode usar o emprego como uma forma de fazer uma renda extra - mas de maneira ilegal. Ela decide arriscar, mas acredita ter um motivo muito bom para tal: o dinheiro seria totalmente destinado a uma caríssima “cura gay” para seu filho Tiquinho, ministrada por um pastor estrangeiro muito conhecido. Eu Não Sou Tudo O Que Quero Ser (Klára Tasovská, 2024) A partir de relatos de seu diário, do encadeamento e sonorização de suas fotografias, o filme apresenta a vida e o trabalho da tcheca Libuše Jarcovjákové. Confira as impressões da obra . Stop Making Sense (Jonathan Demme, 2024) Lançado pela primeira vez em 1984 e é considerado pelos críticos até hoje como o melhor filme-concerto de todos os tempos. Ele acompanha a banda Talking Heads em seu auge, com o lançamento de Speaking in Tongues , quinto álbum de estúdio, em três apresentações em dezembro de 1983 no Pantages Theater em Hollywood. O filme foi restaurado em 4K e dirigido pelo renomado cineasta Jonathan Demme. Paul e Paulette Tomam um Banho (Jethro Massey, 2024) Selecionado para a "Competição de Novos Diretores" da 48º Mostra Internacional de Cinema, a obra narra o encontro ao acaso entre Paul e Paulette em uma praça parisiense cria uma amizade incomum entre esse jovem fotógrafo americano e a garota francesa, em uma relação que cresce em torno de um jogo sombrio: reencenar cenas de crimes famosos do passado nos locais onde ocorreram. Anatomia de uma Queda (Justine Triet, 2023) Conta a história de um homem que é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra, uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. A viúva é indiciada, tendo seu próprio filho no meio do conflito: entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, pois o menino é a única testemunha do acontecido. Tár (Todd Field, 2022) Tendo alcançado uma carreira invejável com a qual poucos poderiam sonhar, a renomada maestrina/compositora Lydia Tár, a primeira diretora musical feminina da Filarmônica de Berlim, está no topo do mundo. Como regente, Lydia não apenas orquestra, mas também manipula as pessoas ao seu redor. No entanto, seus segredos vão sendo revelados, acabando com o seu império. All Of Us Strangers (Andrew Haigh, 2022) Baseado na obra literária Strangers (1987), de Taichi Yamada, a trama segue o roteirista Adam que, em uma noite em seu prédio quase vazio em Londres, tem um encontro casual com seu misterioso vizinho Harry, o que acaba abalando o ritmo de sua vida cotidiana. À medida que Adam e Harry se aproximam, o roteirista é levado de volta à casa de sua infância, onde descobre que seus pais falecidos estão vivos. Confrontos sobre as questões de perda, amor e o significado da realidade dominam a vida do protagonista. Clique aqui para ler as impressões do filme. This Much I Know to be True (Andrew Dominik, 2022) Gravado durante as gravações de Ghosteen (2019), de Nick Cave and The Bad Seeds, e Carnage (2020), de Nick Cave e Warren Ellis, o documentário explora o processo criativo dos amigos e a maneira que Cave lidou com o luto de seu filho. O Homem Crocodilo (Rodrigo Grota, 2024) Um dos expoentes da Vanguarda Paulistana, Arrigo Barnabé é o foco deste filme-experimento que aborda seus anos em Londrina, antes de se estabelecer em São Paulo. Com uma mistura de interferência sonoras e visuais, o diretor apresenta, em diversos fragmentos, o inconsciente estético na obra e música do criador de Clara Crocodilo (1980). Serpico (Sidney Lumet, 1973) Na Nova York dos anos 70, Serpico é um policial jovem e idealista que, ao contrário de muitos de seus colegas, se nega a aceitar dinheiro oriundo da extorsão de criminosos locais. Com isso, ele passa a enfrentar a resistência de seus superiores em aceitar seus métodos pouco ortodoxos de combate ao crime, deixando clara a sua indignação diante da corrupção generalizada entre seus colegas da polícia, passando a colocar a própria vida em risco. Mutiny in Heaven: The Birthday Party (Ian White, 2023) Esta é a breve e terrível história de The Birthday Party, o grupo pós-punk australiano impulsionado pela relação incendiária entre o vocalista Nick Cave e o guitarrista Rowland S. Howard. Da vibrante cena de Melbourne dos anos 1970 passando pelos anos de desnutrição e heroína em Londres até a fuga final para Berlim. Os 10 melhores curtas assistidos em 2024 Dammi (Yann Mounir, 2023) Extremamente intimista, o curta evoca uma visão única e transportadora de Paris em sua exploração onírica da identidade cultural e dos laços familiares. Utopia Muda (Júlio Matos, 2023) Exibido no É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários deste ano, Utopia Muda é baseado no material de arquivo do próprio diretor, um ativista e programador da Rádio Muda que desafiou o sistema para defender a liberdade de expressão. A Dama do Estácio (Eduardo Ades, 2012) Zulmira é uma velha prostituta que um dia acorda obcecada com a ideia de que vai morrer, e precisa adquirir um caixão. Assim, ela conclui a vida. Cama Vazia (Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet, 2023) Cama Vazia foi produzido durante uma das internações de Jean-Claude Bernadet que reflete sobre a indústria da medicina e a produção da longevidade no sistema capitalista. A Invenção do Nordeste (Pedro Fiuza, 2023) Inspirado no livro A Invenção do Nordeste e Outras Artes - listado nos melhores livros de 2024 - aborda a ideia de que para se inventar uma região é preciso criar uma cultura, sobretudo com a ajuda do cinema. Macaléia (Rejane Zilles, 2023) Escrito e dirigido por Rejane, esposa de Jards Macalé, o curta-metragem explora a relação de amizade e parceria entre Hélio Oiticica e Macalé, dois artistas anárquicos, com obras experimentais e inovadoras, que conviveram no Rio de Janeiro nos anos 1970. Sertão, América (Marcela Ilha Bordin, 2023) Em 18 minutos, a obra traz o registro do processo de criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde desenhos rupestres desafiam a teoria corrente de como o homem chegou às Américas. Infinita Tropicália (Adilson Ruiz, 1986) Com Zé Celso, Chiquinho Brandão, Jards Macalé, Gilberto Gil e Rogério Duprat, o curta narra como o movimento tropicalista assimilou e reproduziu os conceitos da antropofagia cultural, inaugurada por Oswald de Andrade. Manifesto Roda de Samba (Celso Lobo, 2024) Iniciado em 2017 a partir da paixão do encontro com amigos e música, o curta documenta a cultura de ocupação pública das rodas de samba do Rio de Janeiro. A Casa dos Pequenos Cubinhos (Kunio Katō, 2008) A animação conta a história de um velhinho que vive solitário em uma cidade inundada. À medida que a água sobe, o senhor eleva sua casa com pequenos tijolos em forma de cubos, para se manter fora do nível do lago sobre o qual vive. Até que um dia, seu cachimbo favorito cai e vai parar em um andar mais baixo de onde sua real moradia encontrava-se naquele momento. Ao mergulhar, passa a reviver toda a história dele, de sua família e, claro, a da casa, cujos vários andares, agora estão todos submersos.
Os 25 melhores livros lidos em 2024
Literatura, filosofia, filosofia, música e cinema são alguns dos diversos gêneros que compõem a lista dos melhores livros lidos em 2024. Confira abaixo. Os melhores livros lidos em 2024 Fé, Esperança e Carnificina (Nick Cave e Seán O’Hara, Terreno Estranho) Durante a pandemia, o jornalista O’Hara conversou com Nick Cave sobre religião, música, família e arte, temas que impulsionam a vida e a criatividade do músico. Por meio de um diálogo honesto , a obra oferece janelas de esperança e inspiração aos leitores. A Invenção do Nordeste e Outras Artes (Durval Muniz de Albuquerque, Editora Cortez) O que é o Nordeste? Através dessa pergunta, o professor busca responder sua invenção, o surgimento de um recorte espacial, de um lugar imaginário e real no mapa do Brasil, mas que nunca pudemos imaginar como uma existência tão recente. O Perigo de Estar Lúcida (Rosa Montero, Todavia) O que leva um indivíduo a se dedicar à escrita? A natureza solitária dos escritores os levam à loucura ou é a loucura que os levam para a literatura? Rosa Montero responde esses questionamentos a partir de estudos sobre as ligações entre a criatividade e a instabilidade mental. Confira as impressões da obra aqui . Lutas e Metamorfoses de uma Mulher (Édouard Louis, Todavia) A violência familiar é o tema central das obras do escritor francês. Neste livro, Édouard narra a história de sua mãe, uma mulher "que lutava pelo direito de ser mulher contra a não existência que lhe impunham." Utilizando uma fotografia antiga de sua genitora como tempo-espaço, ele traça a arqueologia de sua mãe, chegando a conclusão que para se libertar, ela precisou ser destruída pela violência social e econômica. Jack Kerouac & Allen Ginsberg: As Cartas (editado por Bill Morgan e David Stanford, L&PM) Em 1961, Kerouac escreveu uma carta para Lawrence Ferlinghetti falando sobre as correspondências que trocava com o amigo Ginsberg: "As cartas de Allen Ginsberg para Jack Kerouac vão fazer a América chorar." Não se sabe se a América chorou, mas é impossível não se emocionar, rir, vangloriar e discordar dos escritores beats. Durante anos, os dois escreveram sobre suas vidas, escritos, angústias, viagens, festas, encontros, isolamento e vícios, retratos dos autores que lideraram o movimento artístico definidor de toda uma geração. O Filósofo no Porta-Luvas (Juliano Garcia Pessanha, Todavia) O primeiro livro de Juliano Pessanha mistura realidade com ficção. Os ideais de grandes filósofos seguem como inspiração para narrar a história de Frederico, protagonista do livro. Deslocado no mundo, ele encontra na figura de um guru a salvação. No decorrer das páginas, Juliano compartilha a ascensão e a queda de seu personagem com humor e melancolia. Cinema Vivido: Raça, Classe e Sexo nas Telas (bell hooks, Elefante) Apaixonada por cinema, bell hooks se dedicou a assistir, debater e escrever sobre filmes, analisando o que via nas telas a partir de um olhar aguçado para questões de raça, classe e gênero. Com um linguajar acessível, a autora questiona e celebra filmes e diretores, relembrando que é possível transformar a cultura e os telespectadores. 24/7: Capitalismo Tardio e os Fins do Sono (Jonathan Crary, Ubu Editora) Os termos "capitalismo selvagem" e "sociedade cansada" são sinônimos para o livro de Jonathan Crary. O ser humano não suporta mais consumir, trabalhar, compartilhar, responder durante as 24 horas por dia, 7 dias por semana. No decorrer do livro, Crary discute a falta de sono e o impulsionamento de grandes empresas em métodos para acabar com o descanso visando o lucro. Os Crânios de Júpiter (Robson Ashtoffen, Editora Urutau) A literatura de Ashtoffen é consequência de um tempo-espaço absurdo e misterioso. A partir do imaginário, os contos dão voz aos corpos esquecidos e marginalizados, um universo repleto de jeitos e gestos, de linguagem, de misticismo, superstição, de semântica, sintática e sentido. Eu Amo Dick (Chris Kraus, Todavia) Uma relação obsessiva e imaginária se inicia quando Chris Kraus, uma cineasta independente e falida, apaixona-se por Dick, um respeitado crítico cultural, e tenta seduzi-lo com a ajuda do marido. Quando Dick se recusa a responder suas cartas, marido e mulher continuam a escrever um para o outro, imaginando uma aventura que leva Kraus para muito além de sua paixão. Abalar a Cidade: Música e Capitalismo, Espaço e Tempo (Alexander Billet, Sobinfluencia Edições) A música sempre foi vista como uma ameaça, afinal, ela dá forças para uma multidão ocupar as ruas para viver e protestar. A partir deste ponto, Billet explora a relação entre a música e a mudança social radical. Caminhar, uma Filosofia (Frédéric Gros, Ubu Editora) Nietzsche, Rousseau, Thoreau, Gandhi, Kant e Rimbaud tinham o hábito de caminhar diariamente para auxiliar na construção de pensamentos e histórias. Em Caminhar, Uma Filosofia, Gros reflete ao longo de 25 ensaios filosófico-literários sobre as muitas formas de percorrer um trajeto, narrando as idas e vindas na longa amizade entre a caminhada e o pensamento, e mostrando o que a caminhada tem a nos oferecer hoje, do ponto de vista filosófico e humano. O Casamento do Céu e do Inferno (William Blake, L&PM) Imitando o tom profético da bíblia, mas expressão a visão personalíssima, revolucionária e romântica, Blake estuda a moralidade convencional, proclamando que o homem não se reduz à dualidade alma (bem) e corpo (mal). Olho por Olho: Os Livros Secretos da Ditadura (Lucas Figueiredo, Record) Após ficar sabendo de um dossiê que o exército montou para rebater a obra Brasil: Nunca Mais , Lucas Figueiredo investiga Orvil, o livro de quase mil páginas que o exército produziu. Por que o Tempo Voa: Uma Investigação Sobretudo Científica (Alan Burdick, Todavia) "Por que o tempo parecia durar mais quando éramos crianças? Será que o tempo realmente parece passar mais devagar quando você está envolvido num desastre de automóvel? Como e por que o tempo voa?" É a partir dessas indagações que o jornalista iniciou sua investigação sobre o tempo. Com clareza e curiosidade, ele procura na biologia, na filosofia e na física respostas para esse que é um dos grandes mistérios do universo. Intermezzo (Sally Rooney, Companhia das Letras) Além do fato de serem irmãos, Peter e Ivan Koubek não parecem ter muita coisa em comum. Enlutados pela perda do pai, cada um encontra uma maneira para lidar com o vazio e com os sentimentos que nunca foram ditos. Para os dois e as pessoas que eles amam, esse é um novo intermezzo ― um interlúdio de desejo, desespero e possibilidades ―, uma oportunidade de descobrirem o que uma vida pode conter sem se quebrar. Crocodilo (Javier A. Contreras, Companhia das Letras) O suicídio é o tema principal da obra de Javier. Um pai enlutado inicia um caminho único que aborda temas como a relação pai-filho, o caos do mundo moderno e as expectativas que nutrimos e frustramos no decorrer da vida. Vamos Nessa (Para Podermos Voltar): Memórias de Discos e Discórdias com o Wilco, etc. (Jeff Tweedy, Terreno Estranho) Neste livro, Jeff Tweedy não esconde nada: o vocalista do Wilco escreve abertamente sobre seu passado, suas canções, a música e as pessoas que o inspiraram nessa aguardada autobiografia. Além de apresentar sua vida, o músico fala sobre o seu processo criativo. África Brasil: Um dia Jorge Ben Voou para Toda a Gente Ver (Kamille Viola, Edições Sesc) O disco de 1976, África Brasil , representa um marco na carreira de Jorge Ben. Contando a travessia do músico, disco por disco, até África Brasil , a jornalista Kamille Viola entrevista músicos, produtores, pesquisadores e até (homenageado na faixa "Camisa 10 da Gávea") para reconstruir a história do artista e os bastidores da produção do álbum. A Amiga Genial (Elena Ferrante, Biblioteca Azul) Conhecido por ser o primeiro volume da tetralogia napolitana, A Amiga Genial narra a amizade de Elena Greco (Lenu) e Raffaella Cerullo (Lila), da infância até a adolescência. A obra abrange as principais ideias sobre a vida: arte e política, classe e gênero, filosofia e destino. Um Estranho no Ninho (Ken Kesey, Record) Inspirado nas próprias experiências do autor quando participou de pesquisas com drogas psicoativas no centro psiquiátrico do Menlo Park Veterans Hospital, na Califórnia, EUA. Protagonizado por R. P. McMurphy, um preso que escapa da condenação ao fingir-se de louco. Aos poucos, McMurphy percebe que o hospício pode ser muito pior que a prisão, nesse novo universo cercado de pacientes inseguros, ansiosos e constantemente dopados. Liberdade Vigiada: As Relações Entre a Ditadura Militar Brasileira e o Governo Francês: do Golpe à Anistia (Paulo César Gomes, Record) Em 2011, com a Lei de Acesso à Informação, o acervo documental do período finalmente pôde ser consultado e ficou evidente que havia muito a ser investigado nesse campo, incluindo, por exemplo, como o governo francês procurou manter sob constante vigilância os brasileiros que se encontravam em seu território, sobretudo aqueles que tinham participado de ações de grupos armados de esquerda. Maldito Invento dum Baronete: Uma Breve História do Jogo do Bicho (Luiz Antonio Simas, Mórula Editorial) Não é um livro sobre a história do jogo do bicho, mas uma obra que busca no passado elementos para continuar se debruçando sobre a ex-capital da República, livre das amarras das normas, dos jargões e das hipocrisias acadêmicas, mas encantado pelas dobras, frestas e esquinas. Madame Bovary (Gustave Flaubert, Antofágica) Após uma jovem sonhadora se casar com o médico da região, a realidade à sua volta se transforma: o que Emma Bovary encontra no matrimônio, longe das paixões emocionantes dos livros que lê, é uma rotina pacata e até tediosa. Inconformada e sedenta por aventuras românticas idealizadas, Emma começa a adoecer e não vê outra saída senão buscar as emoções que deseja — por métodos que a sociedade conservadora ao seu redor não poderia compreender, muito menos aceitar. Sobre a Terra Somos Belos por um Instante (Ocean Vuong, Rocco) A obra traz uma carta de um filho para uma mãe que não sabe ler. A carta traz à luz uma história de família que começou antes de ele nascer – uma história cujo epicentro tem suas raízes no Vietnã e que chega a Hartford, no Connecticut – e que serve como porta de entrada para partes da vida dele que a mãe jamais conheceu, tudo levando a uma inesquecível revelação.
Os 20 melhores shows de 2024
Pela primeira vez, o site montou uma lista sobre os melhores shows assistidos neste ano. Conheça, a seguir, os 20 melhores espetáculos. Caetano & Bethânia - Rioarena, Rio de Janeiro O Rio de Janeiro foi o local escolhido para iniciar a turnê - tão sonhada pelos fãs - dos irmãos. Com um setlist cheio de clássicos, Caetano e Bethânia se surpreenderam com os fãs que cantavam as músicas em plenos pulmões e se emocionaram com as homenagens para Gal e Gil. Jorge Ben Jor - Espaço Unimed, São Paulo Assim que Jorge Ben Jor entra no palco, o local ganha uma nova energia. Assim que os primeiros acordes foram tocados, o público se animou e gritou com os sucessos do mestre da simpatia. Ludovic - City Lights Music Hall, São Paulo Este ano Servil , primeiro álbum do Ludovic, completou vinte anos. Em comemoração, a banda saiu em turnê para tocá-lo e celebrá-lo com fãs antigos e novos. Um show explosivo do início ao fim, lembrando que ainda existe pulsão de vida. C6 Fest - Parque Ibirapuera, São Paulo Após o sucesso da primeira edição no ano passado, o C6 Fest retornou com a missão de misturar diferentes públicos em São Paulo. Realizado em maio deste ano, no Parque Ibirapuera, o festival colocou a música no centro das atenções, ou seja, sem ações marqueteiras e locais instagramáveis. No domingo , 19 de maio, o festival recebeu na Tenda MetLife, Jair Naves, Squid, Noah Cyrus, Cat Power e Pavement. Trago - Sesc Vila Mariana, São Paulo As imagens foram o tema principal para Tulipa Ruiz, Rica Amabis, Alexandre Orion e Gustavo Ruiz desenvolverem o projeto Trago. Com ingressos esgotados, o quarteto apresentou as canções do disco TRAGO (Selo Sesc) em um show maravilhoso e único, assim como é o projeto musical. Felipe Aguiar + Jair Naves + Vitor Brauer - Bar Alto, São Paulo Os três principais compositores do chamado "rock triste" se juntaram para apresentar suas canções em formato power trio. Em duas sessões no Bar Alto, o trio fez uma apresentação potente dos clássicos do Ludovic, Lupe de Lupe e gorduratrans. Jadsa + Antonio Neves - Sesc Pinheiros, São Paulo As primeiras experimentações de Big Buraco, próximo álbum de Jadsa, aconteceram no ano passado. Neste ano, ela se reuniu com Antonio Neves, Felipe Galli e Paulo Emmery para dar os passos decisivos para o disco. Cida Moreira + Helio Flanders - Bona Casa de Música Amigos de longa data, Cida e Helio se uniram para celebrar a contracultura. Inspirado no poema de Allen Ginsberg, Uivo, o espetáculo contou com um repertório que mistura músicas autorais e de outros artistas. Confira as impressões do show no Sesc Avenida Paulista aqui . Kiko Dinucci - Sesc Belenzinho, São Paulo Em 2020, durante a pandemia, Kiko Dinucci lançou o melhor álbum do ano , Rastilho foi bem aceito pela crítica, mas poucos shows foram realizados. Este ano, o músico o apresentou no Sesc Belenzinho com Juçara Marçal, Dulce Monteiro, Graça Reis e Maraísa, mostrando que a potência do disco continua a mesma. Antonio Neves - Sesc Belenzinho, São Paulo Após o lançamento de Deixa Com a Gente , um dos melhores álbuns lançados este ano, Antonio Neves levou o disco para o Sesc Belenzinho. Com a participação de grandes músicos da cena carioca e paulista, o multinstrumentista apresentou um repertório que mistura jazz, samba, gafieira, choro e a boemia do Rio de Janeiro. Marisa Monte + Osusp - USP Após o sucesso da turnê Portas , Marisa Monte se apresentou na USP com a Orquestra Sinfônica da USP (Osusp). Reunindo uma multidão na praça do Relógio, a cantora apresentou os maiores sucessos da carreira, sob a regência do maestro André Bachur. O repertório contou com "Bem que se Quis", "Vilarejo", "Ainda Bem" e "Infinito Particular", além da presença de Arnaldo Antunes recitando Eça de Queirós. Jair Naves: O Significado se Desfaz no Som - Centro da Terra, São Paulo Por um mês, Jair Naves se apresentou no Centro da Terra. O objetivo dos quatro concertos era fazer um apanhado de sua carreira, ressaltando o caráter experimental dessas performances, todas com um certo grau de ineditismo. Na terceira noite, o músico se apresentou com sua banda, fazendo um espetáculo emocionante e inesquecível. Interpol - Audio, São Paulo Com os ingressos esgotados para a primeira noite, o Interpol realizou dois shows em duas horas. Com a participação do público, a banda apresentou os discos Turn on the Bright Lights (2002) e Antics (2004), clássicos da banda. Batuqueiros e sua Gente + Douglas Germano - Sesc Santo André, São Paulo Em 2021, Douglas Germano se uniu com os Batuqueiros e sua Gente para gravar o álbum Partido Alto . A parceria manteve intacta a essência deste estilo de samba em uma obra sofisticada e simples. Cátia de França + Juliana Linhares - Sesc Bom Retiro, São Paulo Aos 77 anos, Cátia de França segue com a mesma energia que começou. Durante o show, Cátia revisitou sua discografia, apresentou músicas do disco No Rastro de Catarina (que saiu meses depois) e agradeceu o apoio do público (a maioria jovem). Para aumentar a potência do espetáculo, Juliana Linhares subiu ao palco para cantar canções do seu álbum Nordeste Ficção (2021), além de fazer coro com os hits de Cátia. Confira as impressões do show aqui . Zeca Pagodinho + Xande de Pilares - Clube Atlético Aramaçan, Santo André Dois artistas consagrados se uniram para um show épico, cheio de sucessos. Na plateia pessoas de todas as idades curtiam o espetáculo que renovou energias. Nina Maia - Sesc Avenida Paulista, São Paulo Após debutar o seu primeiro disco, Inteira (Seloki Records), Nina Maia o levou para o teatro do Sesc Avenida Paulista. Com ingressos esgotados, a cantora colocou o público para dançar. Kiko Dinucci + Juçara Marçal + Suzana Salles - Sesc Bom Retiro, São Paulo Em apresentação única no Sesc Bom Retiro, Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Suzana Salles - que dividiu o palco com Itamar nos anos 80 na banda Isca de Polícia - se uniram para homenagear Itamar Assumpção (1949-2003). Com óculos escuros, o trio cantou canções emblemáticas do artista, como "Nego Dito" e "Prezadíssimos Ouvintes". Fin del Mundo - Sesc Avenida Paulista, São Paulo O grupo feminino argentino Fin del Mundo fez sua estreia no Brasil em fevereiro com um show explosivo no Sesc Avenida Paulista. Com ingressos esgotados, o quarteto apresentou as canções do álbum Todo Va Hacia el Mar , além de músicas novas, hipnotizando o público. Otto - Cine Joia, São Paulo Para comemorar os quinze anos do álbum Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos , Otto realizou uma turnê em São Paulo para cantar o clássico disco. Mesmo com a desorganização e o atraso, o show emocionou os presentes.
A casa d'O Cientista Perdido e UMZÉ
A palavra casa vai além da estrutura física de moradia: o termo pode ser associado ao corpo e à psique humano. A princípio, a casa é desenvolvida pelo outro até que o indivíduo tenha consciência do seu próprio corpo. No decorrer dos anos, o espaço vai sendo transformado a partir das vivências e necessidades. É com este conceito que O Cientista Perdido e UMZÉ apresentam o EP casa, aqui , lançado pelo selo Flwvlw dos integrantes da Tuyo. A amizade entre Rodrigo (O Cientista Perdido) e Luiz (UMZÉ) começou online, através da Tuyo - trio que é referência para ambos. Este ano, os músicos (sob os seus projetos musicais) tocaram juntos em São Paulo e Brasília, estreitando laços; mas foi Paula Pereira Silva, produtora executiva do EP, que enxergou o potencial de um disco - assim surgiu casa, aqui . O disco foi desenvolvido a partir de uma investigação honesta sobre o desejo de comunidade e partilha que O Cientista Perdido e UMZÉ sempre procuraram. As quatro faixas capturam o processo contínuo de se encontrar no outro e construir, em si e em conjunto, um espaço seguro e confortável para que eles e o ouvintes possam existir e pertencer com amor e sinceridade. Para desenvolver casa, aqui, a dupla revisitou o passado para olhar o presente sem prospectar o futuro, já que esse tempo é uma incógnita para a população LGBTQIA+: segundo os dados divulgados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil lidera o ranking de países que mais assassinam LGBTQIA+. Por isso, viver o aqui e o agora é importante. Leia também: A nova faceta de Matheus Who A nave pássaro de Malu Maria All Of Us Strangers Como foi a construção dessa casa que possui confiança e de bem-estar que vocês construíram? O Cientista Perdido: Amiga, eu não sei, se você ficar sabendo, me avisa. [risos] Esse EP, ao mesmo tempo que a gente bota muita fé no que a gente tá falando no sentido de que vivemos isso, a gente tá também construindo o nosso espaço conforme o tempo vai passando. Eu acho que a gente quis bater uma foto dessa casinha que a gente tem e que a gente criou, a gente olhou pra trás ao mesmo tempo - como uma das faixas ["a casa que me criou"] diz: "a casa que criou a gente" - para entender a referência de casa que a gente tem. Esses dias, o UMZÉ trouxe um ponto para entender essa base, ele começou a assistir a série Pose, que fala sobre a vida LGBTQIA+ nos Estados Unidos, nos anos 90, começo da cena ballroom e ela é toda feita a partir de casas, né, são várias casas, que na real são abrigos, para pessoas que foram colocadas em situação de vulnerabilidade por conta das casas que nasceram. A gente entrou nessa pira de olhar e falar "é muito intrínseco, muito queer, essa busca por um lugar que possa se sentir em casa" e aí a gente começa a cruzar nossas vivências, acho que qualquer demarcador social que seja lido como marginal e periférico, ele vai ter essa busca - seja na escola, porque você não vai andar com todo mundo; seja em casa, porque os seus pais não entendem quem você é; seja na igreja, porque eles também não entendem quem você é… Todos os lugares que a gente tá, a gente nunca tá plenamente em casa. Esses dias a gente sacou muito essa perspectiva queer do disco, de flagrar esse sentimento que é muito identitário da nossa comunidade. Quando a gente percebeu que a gente tinha isso, a gente construiu isso, achamos esse sentimento nas pessoas que estavam ao nosso redor e a gente viu que precisávamos expor isso. Como foi revisitar as casas que vocês viveram e pensar, hoje, nas casas que vocês são e querem estar? UMZÉ: Dor, dor, dor, dor, dor e dor. Esse rolê de consciência em saber que eu tô vivo é mais recente pra mim, tenho a plena consciência de que estou vivo e que estou vivendo aqui e agora… Sabe quando você percebe que tá vivo? Eu tenho isso agora. Quando percebemos isso, olhar o passado é, depois, se perguntar: "o que eu faço com isso que fizeram de mim?" Não existe uma manobra que eu faça que mude as coisas que aconteceram, elas já aconteceram… É olhar e [se perguntar] "o que eu faço agora?" O Cientista Perdido: O principal refrão desse disco é: "abre o peito pra entender / que o presente é sofrer" [estrofe da canção "de passagem"] . Eu acho que a gente tem dois caminhos pra gente chegar nesse refrão: a gente pode ficar curtindo esse sofrimento, no sentido culinário da palavra - a gente vai ficar deixando isso marinar na gente - ou eu vou perceber… Se o presente é isso aqui, se eu sei que fora da minha casa, da minha válvula de escape, vai dar merda, eu vou trocar o meu olhar; eu vou olhar pra minha casa, vou saber que minha casa tá lá, sabe? Por mais que ela seja nova e que ela vai mudar - e que esteja mudando -, eu sei que agora eu posso contar com ela até quando eu me sinto fora de casa. É doido porque a gente parte desse lugar, a resposta do UMZÉ é muito amarga, a minha também é, mas esse disco é um grande exercício de não olhar para esse lugar, sabe? Perceber que a gente não merece olhar para esse lugar pelo menos uma vez, é político não olhar para esse lugar nesse momento, sabe? Se a gente for olhar para nossa história recente, é a primeira vez que a gente tá tendo o luxo [frisa a palavra] de poder se perceber politicamente como não sendo um alvo. UMZÉ: Acho que são grandes pílulas de coragem, tipo, "crie coragem de andar pela cidade" e várias outras frases de impacto que tem nesse trabalho porque, justamente, a gente precisou [encontrar] formas de hackear o nosso dia a dia, a nossa própria cabeça, esse sistema para a gente imaginar possibilidades. Acho que olhar para a casa do passado e desenhar uma casa no presente é um espaço de privilégio também, porque você pode imaginar um presente e um futuro - muito mais um presente -, pés no chão e pés no agora, um presente de muitas coisas boas porque eu mereço. Como a gente comentou: esse disco, quem tem o alvo nas costas, demarcadores sociais e outras coisas, se identifica justamente porque a gente divide em comum essa vontade de ter um espaço de segurança, sabe? Como vocês acham que a casa de vocês estará daqui um tempo? O Cientista Perdido: Eu não falei que a Michele ia fazer umas perguntas assim? Eu juro que mandei mensagem pra ele falando "se prepara porque a Michele sabe o que ela tá fazendo sim." [risos] Eu vou te responder artisticamente: a gente tem encarado casa, aqui como um disco trampolim para outros lugares. Acho que a grande pergunta que esse disco deixa para o futuro é: se, agora, a gente tá em casa, o que eu posso falar agora que eu não podia antes? Acho que o que a gente prospecta dessa casa é um lugar com um pouco mais de liberdade, com menos amarras para falar algumas coisas… Os nossos próximos trabalhos têm pegadas muito diferentes do que a gente tava fazendo… Acho que antes da gente chegar com uma mensagem um pouco mais densa em relação a alguns aspectos, valia a gente comunicar isso ao público, tipo: "tipo, agora, a gente tá entrando em um lugar que você talvez ache um pouco diferente" mas a provocação que eu jogo para você é: "será que de fato as coisas estão diferentes ou você só tá acessando um negócio meu que antes você não acessava e isso tá te causando um desconforto?" Prospectando o casa, aqui para o futuro e o que a gente vai fazer daqui pra frente, ele vem pra levantar essas perguntas, sabe? Se quiser soltar das nossas mãos, o momento é agora… Ou não, fique à vontade. Saiba que daqui pra frente o que eu vou falar vem de um lugar de conforto, um lugar que estou em casa. A gente tem um público, a gente gosta desse público, o público gosta da gente, então, acho que vale dizer, sabe? UMZÉ: Aproveitando o gancho aqui, preparar o público pra um diálogo que esse espaço não existia antes. Com esse trabalho, a gente tá conversando muito com a base que já existe - e é bizarro o sentimento de conforto que eles têm e a abertura em chamar a gente pra abrir umas coisas… É muito legal ver o pessoal se sentir confortável para falar coisas pessoais… No meu trabalho anterior [o EP Caçula (2023)] , eu não tive isso, foquei mais em vender a personalidade. (Créditos: Daniel Aquino) Vocês falaram que tiveram espaço somente agora para ter essa casa. Como vocês se sentem sobre isso? Imagino que vocês tem muitas coisas para compartilhar e que esse sentimento estará nos próximos trabalhos. UMZÉ: To-tal-men-te! Minha psicóloga, grande Poly, falou um negócio comigo muito louco! Quando a gente fala sobre conquistar esse espaço de casa, tanto no campo artístico quanto no pessoal, a gente luta depois da conquista o sentimento de "como eu usufruo isso?" A gente passa tanto tempo prospectando como a gente poderia usar isso quando tivermos [esse espaço] , quando a gente tem, ficamos travados. Eu lutei muito tempo, por exemplo, pela questão da sexualidade em casa e tudo mais e ao partir do momento que eu consegui essa segurança psicológica e essa liberdade de ficar de boas, eu fiquei muito travado! Eu virei uma rocha, uma muralha e várias coisas… E Poly falava: "você lutou por esse direito há tanto tempo que agora que ele está em suas mãos, você não sabe nem como usar." Então, no campo da arte é a mesma coisa: a gente guardou coisas que a gente sempre quis dizer e a gente até trava no momento "como eu vou ser claro o suficiente pra falar isso?" Acho que é muito bonito, porque mesmo depois de casa, aqui , a gente se apoia muito no processo criativo de falar um para o outro como vai ser esse próximo passo, a gente transmite de maneira clara esse próximo passo. O Cientista Perdido: Esse ano eu li Édouard Louis [mostra o livro Monique se Liberta (Todavia, 2024)] e o que a gente tem pra trabalhar é a realidade. Do que mais eu falaria? É também um exercício para olhar a realidade e saber como lidar com isso. A gente foi perceber esse sentimento de estar em casa quando o disco tava quase pronto, sabe? Não foi uma encomenda, não foi sobre isso que a gente ia falar, era um disco para trazer uns traumas… Mas esse tom mais doce do disco, de trazer outra perspectiva para isso, veio depois. Com o disco lançado, a gente tá descobrindo outras coisas porque vem a vivência de outras pessoas. Cabe a nós reinterpretar essa realidade, não trazer a realidade meramente crua, mas trazer a nossa perspectiva para ela. Por que nos apegamos as coisas negativas e esquecemos das coisas positivas? UMZÉ : Eu não sei, mas… Não que eu sei, mas uma coisa que eu converso muito com a Poly… Eu falo assim: "eu me preparo para o pior cenário para quando alguma coisa próxima aquilo já vier, eu fico 'eu já sabia'." Eu abraço o cacto e qualquer furo de prego não é nada! Já tô calejado, mas isso não é uma maneira legal de lidar com as coisas, não é uma maneira saudável de prever o futuro e de viver a vida. O Cientista Perdido: Trazendo um contraponto para isso: sim, é realmente mais fácil abraçar o cacto, mas somos adultos, a gente sabe que a realidade não vai ser nenhum dos espinhos desse cacto, a realidade vai ser outra coisa. E esse é o momento de retornar para casa para conversar. "Hoje, o que me traz paz é saber que eu tenho poucas certezas." (O Cientista Perdido) A primeira vez que vi o conceito do disco, veio em minha cabeça aquela música infantil, "A Casa" de Vinícius de Moraes, porque vem as imagens de vocês pequenos em uma casa que vai sendo construída no decorrer dos anos. Hoje vocês firmaram essa casa e aproveitam para convidar outras pessoas a visitá-las. Como vocês se sentem? O Cientista Perdido: Quem tá na minha casa fica de boas com o fato de que a minha casa não tem cama?! Eu tô aqui e tô mostrando a minha casa, quem tá a vontade com o fato de que essa casa não tem uma cama, mas tem dois colchões… UMZÉ: Ele tá tão confortável que ele nem deveria ficar grilado com isso. Acho que a gente tem que mudar o significado de host… Acho que a gente é bem transparente com as nossas fragilidades e acho que é isso que causa a quebra de ciclo geracional. Estamos falando muito de casa, inclusive, vocês compartilharam um vídeo no Instagram perguntando para as pessoas o significado de casa, mas aqui, nessa conversa, ainda não definimos o significado para vocês. Dito isso: o que é casa? [longa pausa] O Cientista Perdido: Eu acho que casa, primeiramente, é uma conquista. Não tô falando que todas as minhas definições de casa até então não valem de nada, foram distorcidas, não, inclusive tem uma faixa do disco que fala sobre isso… "a casa que me criou" tem essa estrutura, as estrofes [abordam] a gente olhando para trás - e daí que veio a ideia da capa, inclusive - sem esquecer esses traumas, mas apesar desses traumas, perceber que essa casa que criou a gente… Acho que a grande questão dessa música é perceber que a gente tá correndo atrás disso até agora. As referências de casa que a gente tem, a gente carrega até hoje, a gente tá buscando isso, tentando achar isso - por isso a capa: a gente em casa e a cidade atrás engolindo a gente, tudo isso em uma perspectiva muito infantil também [solta um leve riso] , sabe? Não infantilizada, mas infantil, sabe? Então, casa é esse negócio que eu tô procurando desde que eu me entendo por gente, que eu tô usando referências muito parecidas desde que eu me entendo por gente e percebendo isso em outros lugares. Agora, eu não moro mais com a minha família, eu moro só, mas os meus amigos estão aqui, minha família de sangue vez ou outra tá aqui e aí a gente tá botando nomes novos para as coisas, né? Família, até muito tempo, era minha mãe, agora, se eu contar com a minha mãe para uma família, ela está a mil e tantos quilômetros de distância, então, eu preciso atualizar essa questão. Talvez casa signifique me atualizar isso o tempo todo. UMZÉ: E entra em rota de colisão com a definição de outros, né? Principalmente com os que são da nossa casa sanguínea. Pra mim, [essa questão] se expandiu mais, principalmente, porque eu estou fora de casa desde os meus 15 anos. Com 15 anos eu fui para Presidente Prudente estudar, aí voltei, aí com 17 anos fui pra faculdade, na pandemia voltei pra casa, depois da pandemia voltei pra faculdade de novo… É uma grande peregrinação. Quais são as pessoas que tão com a gente, que caminham com a gente nessa peregrinação? Quem são os nossos aliados e quem a gente suspeita? Casa talvez seja o lugar onde você corra pra não precisar sustentar tantos desconfortos. O Cientista Perdido: Depois dessa, eu convido - quem estiver lendo esse texto - para ouvir a última canção desse disco, chamada "a casa que me criou". Como está sendo buscar esse significado de casa aos vinte e poucos anos? O Cientista Perdido: Eu acho que a gente não tá encontrando nada! Eu acho que a gente se flagrou enquanto perseguidor dessa questão. O grande pin que a gente coloca para lançar esse disco é que a gente se percebeu como alguém que tá buscando isso e a gente jogou isso para o mundo. A gente tem uma música chamada "nem quero saber", a gente não tá procurando as respostas definitivas para as coisas. E ainda tem isso que o UMZÉ falou: isso é muito de escolas que a gente vinha e que adoeceram a gente, ter que ter esse peso de todas as respostas o tempo todo, sabe? Eu quero ter o privilégio de não saber uma resposta. Agora, o grande x da questão é você jogar a dúvida para o pessoal e o pessoal não jogá-la de volta pra você, falar assim: "eu também não sei." O "eu também não sei" é um papo que a gente já teve… Essa vulnerabilidade também agrupa, ela traz gente que também tá nos mesmos questionamentos - que é a grande razão dos nossos projetos existirem. Nesse quesito, eu não vou dizer que eu não encontrei nada, o que eu encontrei foi que eu me percebi enquanto sujeito nesse processo de busca e tamo aí na atividade [risos] . UMZÉ: Essa percepção de buscar uma casa e como a gente encontra a casa nessa idade… Pensa que essa percepção de casa, quando você é dentro da igreja e tudo mais, ela é moldada sob uma comunidade de fé e a sua casa é esse lugar, mas você nunca se sentiu em casa nesse lugar porque você é um corpo estranho ali dentro, você se vê sempre como um erro, e aí você começa a ver o que pode mudar em você, aí você começa a mutilar o seu corpo e a sua personalidade por conta disso e aí você tem várias perguntas que eles dizem ter a resposta, mas não são respostas que te contemplam, porque eles cortam você para jogar nessas respostas e aí você se vê diante de um beco sem saída. E está sozinho encarando a parede desse beco sem saída e toda vez que você fala pra alguém "esse beco não tem saída" e eles falam "tem sim, pula ele", mas você fala que é impossível e eles falam que não… Tá entendendo? A questão do casa, aqui é olhar esse beco sem saída, que é sem saída mesmo, e falar para alguém sentar do lado e é só isso. Esse dilema filosófico talvez não tenha uma saída - olha que loucura é a vida! O Cientista Perdido: A gente fala de trauma, mas olha que EP bonito que a gente fez! [diz sorriso e aumentando a voz] Olha que legal que a galera se colocou ali dentro, dá pra rebolar o popô também… São assuntos pesados, mas acho que a gente tá dentro dessa brincadeira toda achando formas de falar sobre eles e tomar uma cerveja depois. É desmistificar essa questão do pesado, é pesado, mas a gente lida com o pesado também de uma forma saudável, sabe? E tá tudo bem! UMZÉ: É tipo compartilhar um meme triste com a sua amiga e dando risada da desgraça. Na canção "casa, aqui", vocês passaram pelo passado para viver o presente, sem pensar no futuro. Como tá sendo o presente de vocês? UMZÉ: Vou te ensinar uma técnica ancestral, minha amiga Michele, para você não olhar para o futuro: o futuro está nas suas costas e você anda para ele de costas. Você olha o seu passado, você vive no seu presente e anda de costas para o seu futuro. A única coisa que você vê é o presente se deslocando para o passado e esse grande backlog de história passando na sua frente, sabe? O que tem no futuro? Eu não sei! Eu sei que os meus pés estão no presente agora e com base nos eventos que aconteceram no passado, eu vou viver aqui no presente, entendeu? Quando a gente coloca "e o que vem do futuro eu não sei" [estrofe da canção] acho que é muito de uma escola que a gente veio em que o futuro era muito iminente, o futuro ia cair nas nossas cabeças e que a gente tinha que se preparar para esse futuro, sabe? O Cientista Perdido: Foi muito engraçado ver você falando sobre essa questão dessa música que olha muito para o passado para chegar na conclusão que de que "e o que vem do futuro eu não sei", porque essa música, não sei se você pegou isso, poucas pessoas estão flagrando essa questão da letra, a letra dessa música - quase inteira - são referências aos nossos trabalhos: tem versos que a gente já usou em outras músicas. Eu jurava que isso ia ficar nítido, claro, evidente [faz gestos com as mãos] , mas quase ninguém tá pegando isso. Quando UMZÉ diz: "contemplei tudo isso em segredo" é uma faixa dele ["Aprenda a Ouvir a Voz"] ; "fui na beira do mundo e voltei" é " Queda Livre " - a gente tá realmente olhando pra isso, olhando para o que a gente já colocou no mundo, que são muitas inseguranças e, agora, a gente coloca isso no lugar de “isso não me atinge mais”, isso tá descansando, porque eu tô olhando para o presente e o que vem do futuro eu não sei. Agora me veio à mente uma questão: vocês gostam da versão que vocês são hoje em dia após revisitar o passado e deixá-lo longe? O Cientista Perdido: Amiga, sim. Não é porque existe um poço de autoestima pra gente mergulhar e nem nada do tipo, mas porque era babado o negócio. Se eu não sou um poço de autoestima hoje, eu já fui um poço de baixa autoestima, sabe? Na versão de hoje em dia, eu me vejo mais confortável, mais em casa. Eu tô com pessoas que me entendem e que me amam, eu tenho o meu espaço pela primeira vez, eu atingi coisas que há muitos anos eu queria e já coloquei como impossível… Então, seria muito ingrato e muito imaturo não visualizar essa parte. Vale dizer que você tá fazendo perguntas que foram sequestradas pelo lugar da autoajuda, do Instagram, do empoderamento… Porra! Não sou empoderado coisa nenhuma, não tenho poder nenhum sobre mim para além do poder de conseguir me expor, de conseguir falar sobre o que eu sou. É muito importante reconhecer um espaço de casa, de identidade, de autoestima, fora desse sequestro do coach e da superficialidade que esses assuntos tiveram. Eu acho que me sinto muito na função de tomar pra mim, pra gente, assuntos que foram sequestrados e que são seríssimos: autoestima é um assunto sério, saúde mental é assunto sério, se sentir em casa é um assunto muito sério e são assuntos que eu vejo que são tão banalizados e pior: eles são banalizados porque tem alguém lucrando em cima disso. Se é pra alguém lucrar em cima disso, que seja a galerinha que a gente tá construindo agora pra lucrar com isso daqui pra frente, porque se não tá errado. Em "de passagem", vocês cantam: "eu me vejo no lugar de minha imagem / vi um corpo estranho pronto pra dialogar". Qual era a imagem que vocês definiram para vocês no passado e como é essa imagem nos dias de hoje? O Cientista Perdido : Amigo, eu não me atrevo a responder essa pergunta, a música é toda sua. Vai lá! UMZÉ: Eu ia pedir ajuda nessa, amigo, nem eu sei o que escrevi ali. Essa música é um todo, né? Mas essa parte aí… É muito complexo, mas eu acho que é muito do lugar do autoreconhecimento, me ver no lugar da minha imagem, mas qual imagem? A imagem que eles falaram que eu deveria ser? A imagem que eu penso e prospecto pra mim? "Dissociado de toda realidade / encontrando os vestígios presos no lugar" [recita uma estrofe da música] nessa busca de casa eu vou me procurando, me encontrando, pode ser uma interpretação também… Aí me vejo no lugar dessa minha imagem, me vejo nesse reflexo aí, só que ao mesmo tempo, eu vejo o contraste desse corpo estranho que tá aí pra dialogar, né? Sou eu, mas também não sou eu, pode ser o outro… O Cientista Perdido : Essa criança que também tá aí. UMZÉ: Teve um dia que eu tava no trem e eu olhei para o meu reflexo e eu falei "nossa, sou eu!" e aí eu fiquei me olhando um tempo e é muito louco porque o que eu tava vendo era diferente da minha cabeça, não fisicamente, mas o tempo-espaço psicológico tá muito a frente do tempo-espaço físico. Acho que isso é um bom exemplo porque mostra que esse corpo estranho está pronto para dialogar. Essa música veio todo de um descaralhamento muito grande, mas vou esperar você fazer as perguntas para eu ir respondendo soltando isso. Fala aí Cientista a sua interpretação. [muta o microfone e sorri] O Cientista Perdido: Eu concordo. UMZÉ : Amém. Existem definições para o termo corpo estranho, podemos analisar pela visão de Judith Butler ou da Jup do Bairro, mas o que corpo estranho significa para vocês? O Cientista Perdido: Esse corpo estranho é o lugar que eu me identificava que hoje eu olho como um corpo estranho, é uma coisa, uma grande substância, sabe? É uma distorção de imagem mesmo. Eu olhei para esse passado, para quem eu era e eu não me reconheci, eu vi um corpo estranho que tava querendo falar comigo, que tava querendo me falar sobre a perspectiva que esse corpo estranho do passado tinha sobre vida, sobre morte, sobre existência, sobre cosmovisão… Não adianta, eu vou ter que dialogar com ele em algum momento, até porque ele tá pronto e eu que não tô. Acho que "de passagem", que se chamava “corpo estranho” é o momento em que eu converso, que eu percebo sua influência sobre mim. UMZÉ: Eu vou dar um de aulas de humanas, que roda um montão para poder falar de uma coisa… A forma como essa música foi escrita, ela veio de uma cadência lógica muito clara, foi muito bonitinho: verso, verso, o refrão demorou pra vir, rap e tudo mais. O eu-lírico dessa pessoa - brincadeira! [sorri] Essa música é tipo assim: o Luiz voltou do interior pra cidade dele com outro corpo, outra cabeça, outro ser; ao voltar para essa cidade que ele tinha medo, por conta das pessoas, cabeça fechada, é um bairro pequenininho, pessoal muito… Sabe? Eu vejo o que me dava mais medo - as esquinas do meu bairro, as pessoas, as congregações - não me dá mais medo, eu cresci. Eu não preciso viver mais de passagem, dando desculpas, me esquivando, sabe? Eu não preciso mais dar uma desculpa para sacrificar a minha versão antiga de mim. Quando eu chego no bairro sendo outro, outro corpo, outra pessoa, eu não preciso ficar me justificando que eu sou uma outra pessoa que se veste diferente e que fala diferente. Eu não preciso mais inventar uma desculpa para sacrificar essa mudança e quem sou no agora também, aí eu me dissosio de toda realidade e vou encontrando os vestígios presos… Apesar de eu ser outra pessoa, eu ainda não sei quem eu ainda sou por completo, eu tô buscando isso ainda - mas eu sei que eu não quero ser o que eu era antes. Nessa busca de me ver "no lugar da imagem, vi um corpo estranho pra dialogar". [recita estrofe da música] O Cientista Perdido: É também esse outro total. UMZÉ: Exatamente! Esse histórico de coisas que eu era contra o que eu quero ser, na minha cabeça, se confrontam no espelho para um diálogo todo dia de manhã. Quando a gente fala de corpo estranho nessa música, nesse recorte, é você se ver no passado, se ver agora e ver o que você quer prospectar, por isso que o pré-refrão é: "vou ser sincero, eu quis acelerar / fazer escolhas já tão ideais” Como eu quebro essa corrente? O refrão é a grande interpretação: “abre o peito pra entender / que o presente é sofrer", essas grandes transformações aí são grandes sofrimentos que a gente vai passando, entendeu? O Cientista Perdido: Esse verbo sofrer a gente demoniza muito ele, né? Sofrer é estar sob ação de outra coisa, isso é sofrer! É tão estranho esse verbo porque se eu falar agora que eu estou sofrendo numa entrevista, a gente vai achar que está sendo uma merda, mas é isso que tá acontecendo: todos nós aqui estamos sofrendo um diálogo, tô ali provocando um negócio, Michele provoca outro, UMZÉ provoca outro e a gente tá aí, porque sofrer é estar sob a ação de outra pessoa ou de outro contexto. Isso é sofrer! Quando a gente entende que o presente é sofrer, eu vou entender que o presente é estar sob a ação do passado, sob a expectativa das pessoas, sob as minhas expectativas que foram geradas no passado e aí eu vou organizar isso. UMZÉ: Nesse processo todo de você tá prospectando uma nova pessoa e lidando com essas alterações e tudo mais, eu sei que a gente tenta se esconder para se proteger desse processo que é doloroso, mas não adianta, o futuro vai chegar, ele chega por consequência, por sofrimento, é uma ação. Me custou ter que desgastar a minha vida pra caber e acabar em contextos que só machucavam, mas eu peço que você não se assuste ao me ver mudando os planos a partir de agora, porque eu nem sei desde quando você me acusa, porque o meu corpo esteve por tanto tempo nos seus tribunais que eu gastei a minha vida pensando que ao me mudar para o lugar que você me atribui… Não faz mais sentido essa dinâmica. O Cientista Perdido: Quem disse eu tô mudando? Pra você eu tô mudando, mas pra mim não tem nenhuma novidade, eu sempre fui isso aqui, você não quis… UMZÉ: Quando eu digo essa questão de mudança, eu digo muito na perspectiva do outro mesmo, da nossa parte é mais a coragem de assumir quem a gente é, né? Querendo ou não, ser autêntico é sustentar um desconforto, não incomodar ninguém. Talvez essa autenticidade cause raiva porque a gente bate no peito pra ter coragem de ser quem a gente é, sem precisar de desculpas, sem precisar dos arcabouços que eles usam pra poder podar a própria vida e poder caber em um lugar que eles acham que é bom pra eles. Ao olhar no espelho vocês percebem que existe um corpo que vocês sempre quiseram. Como foi enxergá-lo e assumi-lo? O Cientista Perdido: [solta uma risada nervosa] Eu não me vejo nesse lugar, de que esse corpo existe. Não vejo que essa plenitude foi alcançada, de novo, ainda tô no lugar de mostrar que esse corpo ainda tá em processo, ele é um corpo sem juízo - adorei que você trouxe a referência da Jup porque ela se comunica muito bem. Eu ainda não olho para o meu corpo e falo “achei o que queria”, até porque, e a gente volta em um negócio que o UMZÉ falou mais cedo, por muito tempo eu não sabia que esse corpo podia existir. A grande conquista aqui é perceber que esses corpos estão se unindo e indo para um caminho de mais conforto. UMZÉ: São muitas camadas, mas de uma maneira geral: como a gente vai imaginar um futuro quando existem outras comunidades [que te odeiam?] Agora, em 2024, casais homoafetivos, cuidando de suas crianças é inédito pra mim! O demonstrar de uma figura, de uma representação positiva, custa a quem quer mostrar também. A gente apresenta que a gente quer chegar lá, mas não nos colocamos nesse lugar que chegamos porque ia custar muito pra gente sustentar isso. O Cientista Perdido: Não sendo verdade. UMZÉ: Eu acho que é muito mais legal falar: "ó, tá aqui", sabe? A gente tá nesse estado e quando estivermos em outro estado, a gente comunica de outra forma, sabe? (Créditos: Daniela Monteiro) Agora que vocês lançaram o disco, como se sentem ao verem que quebraram paradigmas que foram ditos e determinados para vocês e que a repetição familiar ficou para trás? O Cientista Perdido: Valeu, Elis Regina! [risos] Vou conectar com a última música ["a casa que me criou"] . Essa música veio da sensação "tá faltando alguma coisa". Até que um dia eu conversei com uma amiga sobre as nossas infâncias e percebemos isso: a gente tava olhando pra trás pra tentar descobrir alguma coisa agora. Eu tava olhando para um sentimento de muitos anos atrás e que não era real, era muito infantil para ser real… Como é que eu jogo isso para o presente? Aí veio essa música. Agora, a gente tá vendo que isso tá chegando nas pessoas, a galera tá olhando para esse disco - a galera que também tem um alvo nas costas ou que o alvo está em vários lugares – e é essa galera que a gente consegue dialogar. Esse disco é uma conquista pra gente, a gente tá celebrando isso. Agora que vocês estabeleceram essa casa e compartilharam com outras pessoas, como se sentem? O Cientista Perdido: Em casa, pela primeira vez em muito tempo. UMZÉ: Concordo. "Você queria me matar com a sua palavra e o seu fardo? Eu tô vivendo! A melhor vingança é viver." (UMZÉ) Para a filósofa Judith Butler, o corpo precisa se constituir como uma existência palpável que acontece pela performatividade. Além disso, o gênero, para ser reconhecido como tal, necessita da referência de outros corpos do mesmo gênero. Quando essa aliança não ocorre, os corpos não são reconhecidos e respeitados por outros. Por isso, casa, aqui é tão importante: é um espaço de proteção para que todos - principalmente os mais vulneráveis - possam ser verdadeiros e construir suas próprias casas.
Conheça: Gabriel Acaju
O trabalho musical de Gabriel Acaju é baseado em três pilares: a música, a composição e a dança. Ao serem misturadas, o artista apresenta o seu mundo artístico, livre de amarras e com todas as suas características. Este ano, Gabriel lançou seu novo disco A História de Criança Em Sagacidadinheiro , que conta com três formatos diferentes: quatro curtas-metragens, um livro, e o álbum com nove faixas. Para compreender o segundo álbum de Gabriel Acaju é necessário um mergulho na história criada pelo artista, idealizada a partir de 2020: a trajetória de Criança, uma Profeta Agênero que vive em Sagacidadinheiro, cidade que, embora aparenta perfeição, é na verdade o reduto totalitário de Filho do Cosmo, o Líder Supremo de Sagacidadinheiro. Criança, que vive em Realidade, é uma personagem contemplativa, nostálgica, valente e atenta às questões sociais. É ela quem protesta em voto de liberdade contra o regime opressor, o Estado Central e o controle exercido pelas instituições dominadas por Filho do Cosmo, que usa uma tecnologia específica para controle da população. Chamada de Neural, uma BCI (Brain Computer Interface, ou Interface Computo-Cerebral), ela representa a vigilância constante do regime sobre os moradores de Sagacidadinheiro através do monitoramento Socioneural 24h por dia, 7 dias por semana. O intuito em todos eles é o mesmo: retratar A História de Criança em Sagacidadinheiro e sua saga contra o Estado Central, e assim fornecer múltiplas maneiras de adentrar nesta saga e sua potente mensagem de resistência, questionamentos e liberdade. O uso/apelo às artes é a ferramenta usada por Criança, que faz da música e das artes a sua forma de expressão e protesto. Leia também: Conheça: Franque O outro lugar do céu de Nicolas Geraldi O Hiperdrama de Dani Bessa "Água" abre A História de Criança Em Sagacidadinheiro , no qual Criança retrata o desejo de escapar da poluição e do caos causados pela degradação ambiental e social de Realidade. Já em "Sagacidadinheiro", acontece a realização da Criança sobre a perfeição da cidade utópica, com toda sua superficialidade e falsa liberdade de expressão. "Paz" é um convite da personagem à introspecção e à busca por tranquilidade, motivado pela sobrecarga de informações e isolamento, ao mesmo tempo. Já em "Tudo", Criança questiona o valor das pessoas e das coisas, já que reflete sobre a perda de significado em um mundo corrompido. Em meio às dificuldades, Criança celebra em “Para Milton e Tom, Interlúdio 01;” (5), a arte como resistência, homenageando dois grandes nomes da música brasileira. “Anseio” (6), Criança protesta de forma ácida contra o Estado Central e suas instituições, com clamor de justiça e liberdade, é quando sua captura acontece em meio ao Teatro Central de Sagacidadinheiro. Em contraste com os tempos difíceis e a vida adulta, “Criança” (7) celebra a inocência e alegria da infância na imaginação da personagem, de modo completamente imaginário, sendo a mente o último lugar “nem tão livre” mais. A relação complexa e conturbada de Criança com o Líder Supremo de Sagacidadinheiro é explorada em “Filho Do Cosmo” (8), onde Criança passa por uma lavagem cerebral repleta de tortura e isolamento, nas piores condições conhecidas pela humanidade, na esperança de torná-la um ser humano funcional dentro da sociedade do Estado Central. Por fim, o álbum se encerra com “Desapareço” (9), no qual estão a angústia do isolamento e a última tentativa desesperada de se libertar do sistema opressor. Mesmo com as dificuldades, Criança celebra a arte como resistência em "Para Milton e Tom, Interlúdio 01". "Anseio", sexta faixa do disco, a Criança protesta de forma ácida contra o Estado Central e suas instituições, com clamor de justiça e liberdade, é quando sua captura acontece em meio ao Teatro Central de Sagacidadinheiro. Em contraste com os tempos difíceis e a vida adulta, “Criança” (7) celebra a inocência e alegria da infância na imaginação da personagem. A relação complexa e conturbada de Criança com o Líder Supremo de Sagacidadinheiro é explorada em “Filho Do Cosmo”, onde Criança passa por uma lavagem cerebral repleta de tortura e isolamento, nas piores condições conhecidas pela humanidade, na esperança de torná-la um ser humano funcional dentro da sociedade do Estado Central. "Desapareço" é a música que encerra o disco de Gabriel Acaju, no qual estão a angústia do isolamento e a última tentativa desesperada de se libertar do sistema opressor.
A invenção de Flávio Vasconcellos
Desde 2020, Flávio Vasconcellos esteve inventando o seu mundo sobre as idealizações da vida e o despertar. Durante o processo, o multinstrumentista revisitou histórias e imaginou outras, imitando os processos da vida. O resultado dessa narrativa está em Tudo Que Eu Mesmo Inventei (ybmusic), o primeiro álbum do músico. "O álbum trata sobre o reconhecimento das idealizações que criamos no amor e na própria ideia da falsa linearidade da vida. É sobre saber admirar, enxergar a verdade e se expressar de maneira inventiva", conta. Com direção artística de Romulo Fróes e participações especiais de Ná Ozzetti, Paulo Ohana e Pauline Hanot (FR), Tudo Que Eu Mesmo Inventei é um disco libertador, onde Flávio pode se expressar sem medo. A sonoridade passa pela influência orquestral presente no trabalho do artista, com arranjos de sopros e metais fluindo, ao mesmo tempo que evoca a MPB das décadas de 60 a 80. "De 2020 A 2022 compus e gravei no meu estúdio na zona rural de Limeira. Eu mesmo fazia tudo e tocava todos os instrumentos. Ao notar esse processo DIY e a letra de uma das canções ("Tudo que eu mesmo inventei"), entendi que havia um disco que queria contar uma história", divide. Em 2023, as músicas foram apresentadas a Romulo Fróes, e encontros quinzenais foram lapidando o que se tornaria o repertório do disco. "Foi um trabalho produzido com muita calma, num tempo muito fluido", divide Flávio. As gravações contaram com grande elenco, com participação dos prestigiados músicos Biel Basile e Marcelo Cabral. Leia também: A vida real de Juliano Costa Eu Não Sou Tudo O Que Quero Ser O plural de Abril Belga Flávio, antes da gente falar do seu álbum, eu queria voltar um pouquinho no tempo com você e falar sobre o processo dele, porque ele foi iniciado em 2020, durante uma pandemia. Como foi construí-lo durante aquele momento de incertezas e lançá-lo em outra realidade? Então, foi uma doideira tudo isso porque ele quase que já esteve pronto antes, né? Vou começar até pelo nome dele, né? O centro da temática de Tudo Que Eu Mesmo Inventei tem essa coisa das nossas idealizações, dessa... Naquele período da pandemia isso veio muito forte, né? Porque é um período que vimos coisas diferentes, horríveis, mudando totalmente a sociedade, mas alguns lapsos de esperança de uma mudança mais concreta, assim, que depois não se sustentou, né? Essa mudança não mudou nada efetivamente do que foi um pouco pensado e sonhado naquele momento; mais uma vez eu caí naquela das idealizações, eu me vi aquela pessoa que se apaixonava por alguém, mas na verdade estava idealizando a pessoa e não sacando exatamente quem era, e me vendo eu errando mesmo, né? Aí a pandemia concretizou, fez essa relação dessa coisa mais individual, pessoal, com a nossa própria visão da sociedade, do mundo, da esperança e até com essa própria não-linearidade da história e das coisas, né? Não é que eu comecei a sacar, assim, não é porque a gente está vindo daqui que a gente vai estar evoluindo para um lugar necessariamente, né? É tudo muito complexo… Daí eu comecei a ver que tinha um tema ali, uma coisa para ser, apesar de até parecer óbvio, tinha uma coisa para ser concretizada, para ser desenvolvida, né? E paralelamente a isso, tinha uma coisa do tudo que eu me inventei no sentido de eu comecei a gravar tudo sozinho em casa, eu tinha poucas coisas de estúdio, um home studio, e comecei a investir um pouco mais no que eu poderia e eu comecei a fazer tudo sozinho, gravar vários instrumentos, tocar vários instrumentos, fazer… Então eu cheguei a ter um álbum completo eu tocando tudo, sabe? Fazendo várias coisas, mas na hora que enfim [breve pausa] , a gente olhou as músicas ali e falou "putz, isso merecia a gente dar mais um talento e fazer de um jeito um pouco mais", enfim, melhorar algumas coisas, não que estivessem ruins, mas pelas canções a gente achou que mereciam. O que eu quero dizer com isso é que ele chegou a ficar pronto, mas com outra versão dele. Essa coisa de ter começado naquele período e estar sendo lançado num outro mundo… Eu acho que é isso: até o álbum é outro, né, ele é já uma outra versão da mesma coisa, e [é essa versão] que eu decidi entregar pro mundo. Qual é a sensação também de ter inventado um álbum sozinho e depois ter entrado outras pessoas? E hoje em dia, qual é a sua visão sobre a solidão do passado pro plural do disco, com Rômulo, com Cabral, com Ná e outras pessoas? Eu aprendi muito nesse disco uma coisa que é que é valorizar muito as parcerias, as pessoas que vêm pra somar, mas também a escolhê-las bem, focar também a direção, né? Por exemplo, a direção artística do Romulo Fróes mudou muito a vibe do disco, porque eu meio que comecei a fazer com ele essas conversas, essas prosas que a gente ia mostrando as canções e a gente foi escolhendo o que ficava ou não e isso tudo era quase uma mentoria, onde eu senti que eu cresci muitos, muitos anos rapidamente, do que ficar sozinho pensando em tudo. Principalmente algumas decisões, alguns caminhos ambíguos, coisas que ambas são legais, mas, nossa, o olhar de alguém olhando de fora ajuda você muito - eu acho que ajuda muito a gente a ganhar tempo, passar de uma maneira mais forte, mais intensa, mas com mais sustentação e também mais rápido, né. Então, pra mim é isso, é muito importante a gente conseguir entender colaborações que façam isso, né? Mas eu também aprendi isso, de entender colaborações pontuais, porque eu sempre fui muito de... Nos outros trabalhos que eu tive, de parceria, outros álbuns que eu gravei, [eu era] muito de ficar pedindo muitas opiniões pra muita gente, e eu tenho... Eu acho que com esse eu não fiz isso, eu até mostrava algumas coisas pra alguns amigos, assim, mas eu não fazia nesse lugar de, "ah, o que você tá achando" agora foi "ó, ouça aqui, é o que eu tô fazendo." [risos] Não é sobre não se importar, mas é direcionar a energia para um, porque cada um acha uma coisa. Acho que é um pouco essa entrega mesmo, de confiar no que você tá fazendo, mas não descartando a necessidade de ter alguém olhando de fora. Por isso que eu entendi, de uma forma mais profunda, como é massa, como é importante ter uma pessoa, geralmente mais experiente que você, como é o caso do Romulo, que consegue olhar e te dar uns toques mesmo, né, te ajudar a crescer. É aquela coisa da sabedoria, né, que tem sido tão questionado no mundo de hoje, não sei porquê, mas que eu acho demais. Conversar com pessoas que já viveram uma coisa, que já passaram por processos para entender de maneira mais assertiva o que é… E acho que até isso se conecta, de certa forma, com o que eu quero falar ali, dessa coisa das idealizações, da gente tentar entender um pouco mais a realidade das coisas sem deixar de imaginar, sem deixar de sonhar, de fantasiar, mas fantasiar na fantasia, imaginar na imaginação e entender no que é substancial, importante e concreto. Nossa, cresceu demais! Tinha músicas que eu tinha feito algumas coisas, até percussivas, usando um sample, gravando umas coisas em casa, e daí depois eu chamei músicos experientes também pra gravar, que é outra sonoridade… O Gustavo Villas Boas, que é um parceiro meu há um tempo, fez alguns dos arranjos, destruiu em alguns arranjos maravilhosos, daí tem… Músicos têm muitas participações, não é um disco único, juntei três, quatro pessoas e gravei, tem algumas faixas gravadas por certas pessoas, depois outras… Resumindo, eu acho muito importante viver esse processo da solidão pra entender uma coisa, principalmente a nível de cancionista, de poesia e de música, de composição, tentar tirar algo mais seu, mais profundo, que tenha mais identidade, mas claro que depois, quando chega esse momento de "pô, vamos executar isso, vamos"... Eu acho que é isso, a gente precisa, precisamos uns dos outros, né? (Crédito: Divulgação/Reprodução) Você já pensava em fazer um disco antes da pandemia ou ela foi o gás necessário para você sentar e começar? Eu já pensava. Eu tenho vários discos que ficaram na cabeça e nunca foram pra fora e que hoje não fazem mais sentido, mas esse... Assim, eu fui descobrir ele meio nesse período que eu entendi que ia ter um disco aqui, mas tem até algumas músicas que foram feitas antes, a composição em si… Eu sempre fui um trabalhador da música e tenho outros discos de parceria e tal, eu sempre trabalhei com música e eu tava numa correria maluca antes da pandemia; a pandemia foi o primeiro momento, depois que eu já tava com uma carreira com coisas acontecendo, com bastante efervescência, que eu consegui dar uma parada mesmo, né? E nessa parada você olha mais profundo, acho que pra si, pro seu próprio trabalho e pras coisas que mais importam. Eu já tinha essa vontade, mas não tinha conseguido mesmo essa organização e talvez faltava, sei lá, uma certa maturidade para entender esse caminho mais sozinho… Eu perdi esses discos que eu não lancei, nunca consegui organizar, mas acho que eles foram só um caminho de aprendizado pra eu chegar num momento que eu tô mais seguro de falar "isso é meu trabalho, esse é meu trabalho, é isso que eu quero dizer". Você falou mais cedo sobre idealizações e realmente é um disco que você traz muito isso, né. Como foi revisitar essas idealizações que você criou e aceitá-las que foi uma idealização sua, que a realidade é outra? E hoje em dia, você cantando essas canções, você diminuiu essas idealizações? Você consegue sonhar no âmbito de sonho sem ser afetado pela realidade? Ah, consigo, consigo bastante, porque na verdade é isso o paralelo, né? É um disco totalmente cheio de imaginação, muitos timbres, muitas coisas diferentes, uma música meio diferente da outra, é uma coisa doideira [risos] , nesse sentido mais livre, né? E que tem a ver, tem totalmente a ver com eu aceitar a realidade, porque tem totalmente a ver comigo. Eu sou muito entusiasta de diferentes cores, diferentes timbres, e eu tento, nesse momento, entender as idealizações que podem, sei lá, nos levar mais para baixo, que são mais uma armadilha do que uma algo - é uma coisa realmente pejorativa, ruim, que é meio, sei lá… A gente vê a sociedade e a nossa estrutura mundial, dentro do capitalismo, com os olhos "nossa, estamos super dando certo, estamos indo bem", mas não, peraí! Não é bem assim, sabe? Mas não é por conta disso que é tudo ruim, então eu acho que essa complexidade tem que ser vista de maneira mais verdadeira, acho que nesses pontos a gente tem que cair na real para poder realmente fazer algo, contribuir de alguma forma dentro das nossas poucas possibilidades de mudanças estruturais ou não. Eu acho que a outra parte, a imaginação, eu não perdi, e acho que não vou perder nunca, porque eu acho que é isso que nos sustenta. Eu acho que é isso também o papel das artes, da música, a gente conseguir ir além disso tudo. Acho que nesse cair da real, das idealizações que realmente nos fazem mal, que nos fazem sofrer, seja nesse âmbito mais pessoal do amor, que é um clássico, isso acho que a idealização no mundo romântico, na minha opinião, tanto do que eu mesmo vivi e fiz, quanto o que eu vejo nos outros, até nas pessoas ainda mais novas, reproduzindo coisas que até eu olho e falo "é isso". Você usou a palavra liberdade e ela é uma ótima palavra para usar com disco, porque você trouxe todos os assuntos que você tem questões, mas com uma liberdade, você falou sobre absolutamente tudo da sua maneira muito livre. Você encontrou a liberdade que você queria para tratar essas questões? Essa liberdade mudou no decorrer da pandemia para cá? Sim, eu acho que eu encontrei primeiro musicalmente, estritamente musicalmente. Eu acho que eu encontrei nessa coisa que eu até comentei, que eu gosto muito de muitos timbres diferentes, de ideias diferentes de como compor uma música, em certa canção, eu quero brincar com uma coisa, eu vou estudando ali, eu faço umas três… Eu estava falando nesse final de semana que a gente fez umas gravações de uns vídeos para o disco também, eu estava falando para a galera que foi tocar comigo, "ah, essas músicas têm músicas irmãs", então algumas eu faço umas três, quatro que têm alguma coisa em comum, mas lógico que ao invés de fazer um disco com essas quatro músicas, eu gosto de pegar uma delas, pegar uma da outra, porque eu acho que nesse sentido eu estou me encontrando mais com a minha própria apreciação da música. Eu gosto de ouvir uma coisa que me surpreende, eu gosto também desses discos mais fechados, que obviamente tem três pessoas ali que tocam o disco inteiro, mas eu sempre quis fazer essa proposta mais… Que eu estou chamando aqui de mais livre, de pensar só não, "ah, eu quero uma música assim, então vou buscar esse violino, essa coisa, na outra eu quero essa banda, essa bateria, essa coisa pesada." Ah, e como essas coisas se conectam? Muita gente vem com essa questão, isso junta com o trabalho que a gente fez com o Romulo, de escolher as músicas, de pensar no fio condutor também poético que existe ali e exercebar essa liberdade criativa musical, timbrística, essa coisa que é o que eu queria, nesse momento, em outro momento eu vou querer outra coisa, antes eu quis outra coisa… Eu já até em outros trabalhos mais coletivos, já me senti muito podado nessa questão, então foi também uma emancipação de, "ah, vou fazer meu primeiro solo, agora eu vou fazer essa doideira que já me disseram que não ia funcionar", entendeu? Jura? Ah, sim, mas é normal, é isso, cada um vê as coisas de uma maneira, faz sentido, e já ouvi várias vezes essa coisa de fazer um negócio que pode soar meio nada a ver, sabe? Tipo, um exemplo, numa música do meu disco, ela começa em espanhol, numa parceria minha com a Karina, depois eu convidei a Pauline Hanot, uma cantora francesa, não só para cantar, como ela fez também a letra desse verso instrumental que eu tinha, a gente canta uma música, então pode parecer, sei lá, nada a ver… No meio do disco aparece isso, tem tudo a ver com o que a gente estava construindo ali, ela entra de um jeito… E nesse processo da mudança da liberdade nesse lugar pandêmico até agora, nossa, foram tantas sensações vividas nesse momento até agora, que eu tenho até dificuldade de responder, porque eu acho que eu encontrei a liberdade maior. Acho que durante aquela doideira toda, eu vi que precisava daquela liberdade, era urgente eu me conectar com o meu ser artístico mais profundo e dar vazão a ele, não deixá-lo quietinho pelo mundo, pelo mercado, aquela coisa toda… Hoje em dia, penso muito no que é realmente sincero pra mim expressar musicalmente, porque eu acho que de um jeito ou de outro eu não vou saber jogar exatamente esse jogo, então eu vou tentar me comunicar de alguma forma, porque eu quero, obviamente, que as pessoas ouçam, mas eu não acho que eu não sei jogar esse jogo, talvez não seja a minha partida, então acho que eu encontrei essa liberdade de realmente entender isso e não ficar mais com essa mosquinha na orelha, né? Mas depois, no processo até aqui é essa própria não linearidade da vida, que eu gosto também de falar no disco. Depois também me senti menos liberto, tudo voltou, a gente volta pra labuta de tentar, enfim, trabalhar, encontrar coisas, modos, caminhos para realizar as coisas, então já me senti com menos liberdade também… "Não tenho pretensão de fazer algo novo, eu só quero fazer a minha música." A sua música brinca com o imaginário das pessoas: ao cantar uma determinada estrofe, você faz com que o ouvinte relembre de alguma memória esquecida e que se mistura com as suas. Dito isso: o que você espera despertar no ouvinte? No fundo eu espero despertar um senso de admiração pela vida, pelas pequenas coisas… Respondendo com outras palavras - eu não gosto da palavra ensinar -, é como se eu quisesse despertar essa vontade de admirar o mundo e as pequenas coisas em si. O pequeno momento, uma pequena memória. Eu gosto muito da beleza nas coisas sutis e gosto da vibe da gente pensar que saber admirar é uma qualidade, é uma ferramenta que a gente pode desenvolver. Eu acho que a admiração - e eu digo pelo mundo - é trabalhável, ela é uma das chavinhas que se a gente conseguir virar, não tô falando que é fácil, tem muita complexidade de onde a gente vem pra onde a gente vai, a gente consegue entender… E isso pode ajudar muito, muita coisa. Apesar de ser meu quarto álbum e o meu primeiro solo, eu tô descobrindo o que as pessoas vão sentir; há essa intenção pairando… Em "O Brasa", você celebra o cancioneiro e a cultura brasileira. O que a música significa para você e por que celebrá-los é importante? Wow! Essa pergunta é… [risos] Olha, eu acho que a música, até é uma maneira um pouco mais difícil de dizer isso, foi muito uma maneira de entender as coisas, a vida. Acho que a música dá sentido para as coisas, a música é uma das comunicadoras mais potentes pra trazer o sentido e o sentimento nas coisas - e acho que ela é a mais direta. Você vê como ela transforma o momento muito rapidamente… Pra mim, é uma das coisas mais capaz de dar sentido para as coisas mesmo. Acho que essa é uma possível resposta. Sua resposta diz muito sobre "Esperança Equilibrista", onde você canta: "temos muito o que buscar". O que você busca? Acho que a própria pergunta está exposta nessa música, mas é bem isso: essa esperança equilibrista entre a gente sonhar, esperançar esse mundo novo, essa coisa que possivelmente vai chegar; contra entender que a gente errou, a gente perdeu e tá lascado. Esses dois sentimentos vagam em mim, mas o que me conforma neles é pensar que, talvez, a gente viva mesmo essa linha do tempo não linear, que a gente sempre vai tá indo e vindo… Essa idealização do mundo novo que eu trato na música. Eu escrevi essa música em uma viagem - houve uma época, acho que acontece com todo mundo, na minha juventude de imaginar um mundo novo transformador, a gente via até na internet uma ferramenta maravilhosa de expansão… Na hora que eu fui escrever essa música, fui lembrando disso, ainda na pandemia, [e escrevi] "já disseram que é mesmo o fim / tal como dez anos atrás, havia um mundo novo logo ali". Dez anos atrás havia um mundo novo, só que vai acontecendo tantas coisas… Pra ver a dificuldade em responder essa pergunta, eu respondo isso naquele verso "uns falam que basta amar / outros levam minutos para viver". Eu busco entender como a gente pode contribuir para uma mudança estrutural em todas as desigualdades e de um possível olhar mais atento para a natureza. Em "Banho de Sol", você diz que precisa gritar, uma oscilação da vida. O que você grita e o que ele carrega? [breve silêncio] Eu acho que eu grito por a gente se olhar e se olhar de uma maneira com mais compreensão, mais atenta, com maior empatia. Um "Banho de Sol" é isso: eu esperançando uma coisa que a gente pode entender como uma verdade absoluta, que é tão difícil entender verdades absolutas, mas a gente só vai conseguir fazer as coisas de uma maneira unida, de uma forma que a gente consiga se conectar. "Banho de Sol" traz essa ideia de que somos uma coisa, uma coisa que caminha junto. Eu grito pela imaginação, pela fantasia, no lugar delas para irmos além. "Quis fazer um álbum livre, então permiti que sonoridades mais modernas entrassem no som de algumas baterias e synths, mas a música orgânica ainda é o grande centro." Você regravou “Sei dos Caminhos”, música de Itamar Assumpção e Alice Ruiz. O que ela representa para você? Alias, qual caminho você deseja percorrer? Estar acompanhado de outras pessoas fica mais fácil? Sim, sei dos caminhos. É uma das minhas canções preferidas, sou grande fã do Itamar e da Alice. Ela é um grande momento intimista quando eu estava pensando nesse álbum. Eu gravei todos os instrumentos naquele quarto em um tempo pandêmico, então, é uma música pandêmica - a letra já diz tudo, né? Acho que é o despertar da maturidade, tipo, [recita uma parte da música] "eu sei os caminhos, eu conheço como começa e como termina, só não sei como chegar" [risos] Acho muito bonito. Me conectei muito com a poeta nesse sentido de "que bom que as pessoas sentem isso". Os caminhos que eu pretendo chegar também se conectam bastante com a própria letra da canção. Eu tenho uma consciência, uma noção de que tem um largo processo pela frente para comunicar isso, sei que à princípio é muito difícil atingir grandes números, mas sei que vou conseguir dar um próximo passo para comunicar o trabalho de uma maneira diferente - o que já estou sentindo no pequeno público que eu tenho. Tô muito feliz em fazer uma obra íntegra pra mim no que eu quero expressar, isso já me basta, não me preocupa tanto com as outras coisas que são mais difíceis, só não sei como sair da bolha… Mas sei que o caminho é esse, me expressar dessa forma com esse som.
Conheça: Zaina Woz
Em 2021, durante a pandemia de Covid-19, Natalia Hoegen deu voz à Zaina Woz, nome escolhido para o seu projeto artístico. Com a faixa "Não Quero Ninguém", a cantora fez o seu debut com uma nova proposta visual e musical para o cenário pop brasileiro. A veia artística surgiu na adolescência, quando ganhou o seu primeiro violão. Durante os anos, estudou, participou a banda de Mariana Estol, Flerte Gringo, como backing vocal e do duo As Cruellas do Eletrohits, projeto que apresenta versões electropop de músicas brasileiras, no qual Zaina assina como produtora das faixas e diretora musical do show. Todas as experiências contribuíram para a persona que é hoje. Após lançar os singles "Carnaval" e "Tua Pele Nua", em 2022, Zaina Woz retorna com o single "Boneca de Porcelana", o primeiro a antecipar seu disco de estreia. A faixa tem produção musical da catarinense radicada em São Paulo em parceria com Arthur Kunz (Strobo, Os Amantes), e traz uma temática feminista abordada pela letra de Zaina sobre uma relação tóxica. "A imagem da boneca de porcelana, que é rígida e inanimada, me possibilitou explicar o que eu sinto como uma pessoa que se relaciona afetivamente, e que muitas vezes se sente como um objeto na mão do outro", conta. A faixa de electropop experimental foi inspirada por um sample de electro house que levou a artista a criar a linha de baixo, um dos pilares de construção da música. A partir disso, o baterista e produtor paraense Arthur fez a base do beat eletrônico e a partir daí a dupla foi dando forma à música. O lançamento é complementado por um blog criado pela cantora, chamado "madonna is my jesus", com inspiração na onda BRAT. A página traz detalhes sobre o primeiro álbum de Zaina Woz, com informações sobre seu processo criativo, como as criações de figurino. No site é possível se inscrever na newsletter da artista, que trará novidades a respeito do disco intitulado Zaina Woz - [ VOL.01 ] . Dê o play nas músicas e dance com Zaina.
Cinemúsicas, Vol.1
O que você sente quando assiste um filme? A sétima arte tem o poder de nos transportar para universos imaginários, nos fazendo sentir medo, ansiedade, alegria e tristeza. Ela também consegue deixar marcas nos espectadores para sempre. Aliás, esses efeitos (que só a arte proporciona) estão em Cinemúsicas, Vol. 1 , projeto de Marcelo Segreto que propõe um diálogo entre a canção popular e o cinema. Em 2021, Marcelo lançou os primeiros singles, apresentando a ideia. No ano seguinte, Cine Compacto, Vol.1 chegou às plataformas de música com duas canções: "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Bacurau". Agora, com arranjos escritos para quarteto de cordas e violão, Cinemúsicas, Vol. 1 é composto por canções inspiradas nos filmes Cidadão Kane (Orson Welles, 1941), Lost in Translation (Sofia Coppola, 2004), Me Chame Pelo Seu Nome (Luca Guadagnino, 2017) e Dançando no Escuro (Lars von Trier, 2000). Em todos os seus trabalhos - solo, parcerias ou com a Filarmônica de Pasárgada -, Segreto brinca com a sonoridade e as imagens que dialogam com as letras. Inclusive, o EP não tem relação explícita com os filmes, ou seja, é possível ouvi-las sem ter assistido o filme, são dois paralelos que não estão ligados, apenas correlacionados. Leia também: Conheça: Jagunço & Dudu AM Impressões: Assombrações Impressões: Um Antídoto Contra a Solidão (Créditos: Divulgação/Reprodução) Com produção de Marcus Preto e Tó Brandileone, Cinemúsicas, Vol. 1 é um EP que homenageia as principais referências do artista. "Rosebud", inspirado no filme de Orson Welles, abre o disco fazendo uma reflexão sobre o amor e a passagem do tempo. A canção também faz referência ao conto "Nenhum, Nenhuma" de Guimarães Rosa, presente no livro Primeiras Estórias (1962). Acompanhado de Tatiana Parra, Marcelo retrata o acontecimento de um encontro amoroso intenso e o iminente desencontro em "Lost in Translation", repetindo a narrativa do filme de Sofia Coppola. A ideia se repete em "Me Chame Pelo Seu Nome". Já em "Uma Vista da Baía de Guanabara", Paulo Miklos se junta com Segreto para cantar sobre o amor e o filme perdido de Afonso Segreto, tio-tataravô do artista. Em 19 de junho de 1898, ele filmou cenas da Baía de Guanabara ao chegar ao Rio de Janeiro, iniciando a cinematografia brasileira. Por fim, "Dançando no Escuro" explora o universo da imaginação e do sonho, além de abordar a fragilidade da existência. Existem alguns elementos da obra de Lars von Trier, mas não é tão intensa quanto o filme. Cinemúsicas, Vol. 1 reforça a teoria que a música não é apenas o complemento das imagens que surgem na tela, elas intensificam a mensagem que está sendo passada, envolvendo o telespectador no primeiro momento.
Conheça: Franque
O elevador foi o espaço escolhido para Fraque gravar o clipe de "Subsolo D", último single lançado este ano. Numa pegada pop e eletrizante, o músico canta uma sedução implacável, daquelas de tirar o fôlego e viciar no primeiro instante. A melodia acompanha este jogo de prazer vivido pelo eu-lírico, fazendo da música o seu espaço de envolvimento e desfrute. "Eu vinha ouvindo muito Channel Tres e Jamiroquai, e em uma madrugada rabiscando ideias, gravei a demo dessa faixa", comenta Franque. "Mas ao contrário do que faço normalmente, dessa vez já encaminhei a gravação pro Adieu sem lapidar muito, achei ser uma boa oportunidade de ser mais instintivo. Ele não demorou e logo me mandou de volta o que viria a ser o resultado final da faixa. Foi bem rápido e eu adorei como ficou", ele revela. A canção, composta por ele e produzida por Adieu, segue os passos de "Antigo Contigo (AAA)", canção que também ganhou um vídeo exclusivo e foi lançada no mês passado. Estes dois lançamentos completam-se com um terceiro, que será divulgado no próximo mês de dezembro e formarão assim uma trinca de singles inéditos do artista.
A vida real de Juliano Costa
Durante quinze anos, Antônio Abujamra apresentou o programa Provocações na TV Cultura. Em cada episódio, questionava o entrevistado sobre o significado da vida. Muitas respostas foram dadas, sem nenhuma conclusão. Por exemplo, quando perguntado, Wagner Moura diz que nunca teremos uma resolução sobre o tema. Em "Ensaios", Montaigne reflete sobre a existência e a morte; assim como o programa de TV, o filósofo não decifrou o que é a vida, mas diz que "a melhor coisa do mundo é saber como pertencer a si mesmo." Quando pergunto o que é a vida para Juliano Costa, ele me confessa que já respondeu essa pergunta um milhão de vezes em sua cabeça e ri para, em seguida, responder: "Não faço a menor ideia." Mesmo que não tenha uma conclusão, o tema está presente em Vida Real , seu novo disco. O álbum é uma crônica da realidade, misturada com a idealização que fazemos, além de um retrato do dia seguinte da festa, de ressaca e dúvidas existenciais. As doze faixas foram feitas de momentos sinceros e sugestivas de uma experiência terna de vida, das que dão contorno aos sentidos de estar por aqui. Juliano encontrou um caminho percorrer após procurar em Barco Futuro (2021). Em "Glória", décima canção do disco, o músico segue caminhando para encontrar a sua glória, a pulsão de vida que foi retirada durante a pandemia. Uma vez encontrada, foi colocada em Vida Real, trazendo ruídos, imperfeições e excessos, imitando a existência. "Não sei o que é a vida, mas eu só sei que ela é daora pra caralho, vale a pena.", diz. Leia também: As guerras de Flora Miguel Eu Não Sou Tudo O Que Quero Ser A nova utopia de Régis Bonvicino Quando você lançou Barco Futuro , você não tinha uma direção específica para onde ir - e o título escolhido diz muito sobre. Hoje, depois de alguns anos, você acha que chegou em algum lugar? Boa pergunta. Acho que sim, mas num lugar totalmente inesperado do que tava na minha cabeça antes. Barco Futuro era um disco muito de estreia, de carreira solo, né? Eu tava muito, tipo... As composições estavam guardadas ou sendo trabalhadas há muitos anos. Tipo, tinha coisa ali que tinha cinco anos já que eu tinha feito e que eu ainda não tinha gravado e tal. Então ele foi muito um disco meio de, tipo... [olha para frente por um tempo] Vou fazer as melhores coisas que eu acho que eu compus nos últimos anos, vou juntar aqui e tal, então ele é um disco feito com muita calma, foi feito com uma certa ingenuidade. Eu tava também super animado com a ideia de fazer um disco solo e tal. Só que ao mesmo tempo veio a pandemia, então ele foi terminado na pandemia. Toda aquela animação também já foi quebrada… O jeito que eu lancei foi totalmente confuso… Tipo, eu lancei, eu lembro que foi só uma sexta-feira. Lancei e fiquei em casa, assim, parado, sabe? Tipo, nossa, que merda. Mas assim, eu tava imaginando uma outra coisa. Eu nunca elaborei muito o título Barco Futuro, era meio que uma esperança. Tinha gente que falava assim: "seu disco tem uma vibe de esperança, meio uma melancolia esperançosa" e eu acho que a esperança foi frustrada. [risos] Muita coisa na minha vida pessoal mudou desde a época que eu lancei o Barco Futuro pra agora… Então, o Barco Futuro acho que é um disco mais de imaginar mundos, e aí o Vida Real veio, tipo, você toma umas rasteiras, assim, sabe? E aí fica mais pé no chão, assim. É curioso porque tem alguns elementos de Barco Futuro que também dialogam com o Vida Real , né? Você precisou revisitá-lo ou ele ainda estava dentro de você? Tem, assim, o que rolou foi... [breve pausa] Eu amo o disco Barco Futuro , mas como eu lancei ele num contexto muito do tipo… Eu meio que quase não divulguei… Lancei, tipo, fiquei meio com... Fiquei meio travado também, porque eu não gostava também de usar - ainda não gosto, né - mas eu resistia a usar o Instagram e todas essas outras coisas… Então, eu lancei, aí eu compartilhei, não sei o quê e tal… E aí eu fiquei meio que... Deu um bode de ficar divulgando… Foi um erro, foi um vacilo meu - mas foi uma experiência. Então, eu fiquei um tempo meio que afastado desse disco. Fiquei, tipo, um tempo sem ouvir de novo. Ficou uma coisa que, tipo... Ah, tá lá, o disco que eu fiz ali. Gosto muito dele, mas ficou ali, sabe? E aí, quando eu quis gravar agora um novo disco, voltar a me dedicar à música, de um jeito principal, eu também voltei a ouvir esse disco também e voltei a divulgar esse disco, que também é uma outra coisa: quando você fica trabalhando para divulgar umas coisas, você tem que meio que lembrar também [risos] o que você está divulgando, sabe? Então, ele estava fresco na minha cabeça quando eu fui fazer o Vida Real , sabe? Agora, pode ter outras relações que são inconscientes, assim, né? Mas ele estava fresco na cabeça, pelo menos. Uma das relações que eu identifiquei, aí você me disse se existe ou não, foi com a canção "Paz", onde você diz que fez as pazes com o mundo. Após a pandemia, você está pronto para viver a vida real? Legal, eu não tinha pensado nisso, mas é bem legal. Cara, faz sentido, de certa forma, eu fiz as pazes com o mundo, apesar de eu ter ficado bem de mal com ele várias vezes. [risos] Quem nunca? É, exato. Tem essa continuação mesmo. Agora eu estou meio que... não é aceitando, mas é um pouco mais... Estou menos ingênuo, acho, com as coisas. Já não fico fazendo grandes planos para o futuro, de uma forma... Mesmo de carreira artística e tal, eu tô... É um processo que eu tô sacando que, assim, eu faço as minhas músicas porque eu gosto de fazê-las e são mais importantes, sabe? Tipo, eu faço o máximo possível para mostrar essas composições porque eu gosto delas, eu tenho orgulho delas, é um trabalho que eu faço com carinho e com o qual eu me identifico. Mas eu não tenho mais uma coisa do tipo... aquele sonho, assim, do tipo... de até onde a música pode me levar, coisa do tipo, sabe? É mais, tipo, aqui e agora, assim. É a vida real mesmo, sabe? Eu gosto de fazer isso e olha o que eu fiz, sabe? Isso é o que mais importa, sabe? Até de maneira profissional mesmo, sabe? Eu tento me organizar o máximo possível pra fazer com que isso seja a minha atividade principal, mas... A vida é muito grande, tem muitas coisas que acontecem, a gente tem mil coisas para fazer o tempo inteiro que também são importantes. Então é uma coisa do tipo... Ah, eu preciso me organizar profissionalmente para que eu possa continuar compondo sempre e gravando, não necessariamente que seja essa minha atividade profissionalmente principal, mas que eu possa fazer isso sempre, sabe? Eu não sei se você passou por essa fase, mas muitas pessoas passaram, eu inclusive, de que quando você é criança, você idealiza uma vida para você. E aí, conforme você vai crescendo, você percebe que essa vida que você idealizou talvez esteja muito longe. Queria saber se você passou por essa fase e se sim, como tá sendo viver a vida real e se a sua vida é a vida que você criou nesse segundo álbum. Ah, eu passei por essa fase e acho que ela durou tempo demais. A Millena Rosado, que faz os clipes e é uma amigona minha, que é uma parceria total, que faz as fotos sempre, divulgação e tal. Ela fez um fotolivro que chama Os Meus Sonhos Estão Ficando Velhos e Não Estou Pronta Para Dizer Adeus . É muito foda. E eu ainda me sinto aqui também, sabe? Mas acho que faz parte, é uma negociação o tempo inteiro também, sabe? É gostoso ficar idealizando coisas. Então, claro que o tempo vai passando, a gente vai tendo mil outras responsabilidades, mas tem uma partezinha que eu ainda gosto de fechar o olho e ficar idealizando mil situações completamente absurdas que são improváveis, mas que não precisam acontecer, sabe? Então tudo bem, é gostoso imaginar. O que é problemático mesmo, que aí eu acho que é importante ficar ligado, é botar realmente uma expectativa num lugar absurdo. Porque aí tem a frustração na certa e em vez de curtir o passo a passo, os tijolinhos de cada dia que você está fazendo, você não vai ficar nunca feliz, porque a sua expectativa está inalcançável. Então eu já tenho tentativas suficientes para saber que vamos com calma. [risos] Mas ao mesmo tempo eu guardo sempre uma hora dia para dar uma sonhada, que isso tudo bem, sabe? Você consegue sonhar ainda? Consigo, eu faço discurso imaginário para o Oscar toda noite. Tomo banho fazendo discurso, sabe? Mas é nesse lugar da fantasia que é gostoso de brincar mesmo, sabe? É tipo criança brincando de bonequinho, sabe? Tipo nesse lugar. Hoje em dia o meu sonho mesmo é realmente isso: poder ter condições em todos os aspectos financeiros, emocionais, psicológicos, para poder gravar e compor para o resto da vida, sabe? É isso. Isso para mim é um sonho, sabe? Se eu puder fazer isso, eu estou muito feliz. E você conseguia sonhar durante a pandemia, durante aqueles anos de isolamento? Acho que até mais na real, porque como eu estava tendo pouca experiência real, eu ficava com muitas situações hipotéticas na cabeça, sabe? Idealizando mil coisas. Isso até acho que foi uma coisa que deu uma cagada na nossa cabeça, porque depois, quando as coisas voltaram, a gente passou muito tempo sem elas, então... Elas são diferentes do que a gente imagina, né? Ou mesmo do que a gente lembra e tal, né? Então, mesmo a questão de fazer show. Show era uma coisa que eu estava... Eu não tinha feito show, né? Eu lancei o disco durante a pandemia e não tinha feito show, eu ficava imaginando como seria e tal. Depois, quando as coisas voltaram a abrir, quando foi rolando o show e tal, eu comecei a me sabotar para não fazer show, sabe? Inventar desculpas. Por que? Porque deu medo, deu cagaço. Falei "não sei fazer", comecei a ficar com pânico de palco… Cheguei a desmarcar show, inventando mais desculpas, sabe? Até que depois eu fiz, no ano passado, o show e aí foi beleza, sabe? Estamos de volta! Não é mais um bicho na minha cabeça, sabe? Foi feito um show e agora a gente só trabalha de uma maneira objetiva para continuar o que foi bom, melhorar o que foi ruim. Sai do campo das ideias, assim, né? "Eu não quero que essa festa acabe nunca, mesmo que seja uma vida monótona, sem graça e trabalhosa, com problemas e tudo mais." Estamos falando bastante de ideias, imaginação e idealização. Como nasceu a história do Vida Real ? Foi a partir também das suas vivências, das necessidades, da loucura de se tornar um adulto? Cara, o Vida Real foi assim, eu... [breve silêncio] A possibilidade de gravar um segundo disco estava meio longe da minha cabeça, né? Estava, tipo, assim... Tinha uma época que eu não estava nem pegando violão para compor, para tocar, nada assim, tava meio distante. [breve silêncio, olha pra frente] Bom, teve um monte de mudança na minha vida. Eu me separei, eu saí do trabalho que eu tinha e tal, e aí eu comecei a fazer um monte de música e... Nem que eu achava... Tipo assim, geralmente a ideia para mim de um disco é de pegar as músicas que eu acho as melhores e fazer, tentar dar uma unidade para elas, uma coisa nesse sentido. Só que eu comecei a fazer um monte de música e fiquei com vontade de gravar elas o quanto antes, registrar aquele momento, sabe? Tipo, eu sabia que era um momento muito específico da minha vida e que estava rolando essa coisa de... Esse primeiro ano, assim, com o fim da pandemia, de ter meio que uma euforia das pessoas se vendo de novo e eu com uma vida muito diferente da vida que eu tinha antes eram coisas muito imediatas que eu queria registrar, sabe? Então eu peguei e comecei... Eu não sou um cara que sabe tocar todos os instrumentos e tal, eu sei tocar bateria e sei compor, o resto é muito básico, né, só que eu resolvi eu mesmo gravar sozinho porque era uma coisa de "preciso registrar isso agora!", sabe? Porque eu tenho muita aflição de, tipo... Eu faço uma música aqui, acho ela legal, aí ela vai lá pra pilha de músicas possíveis, sabe? Aí vai passar um tempo, aí eu vou gravar um disco, aí até fazer esse disco, vou selecionar, não sei o quê… Sei lá, quando eu vejo, passaram três anos desde que eu escrevi até que eu lance aquela música, sabe? E aí eu tava com a aflição de que... Eu queria que fosse imediato, sabe? Então eu comecei já a gravar do jeito que dava mesmo com os instrumentos que eu tenho aqui em casa, tudo meio tosqueira, sabe? Mas foi meio que essa vontade de registrar o que estava acontecendo ali, sabe? Tipo, essas composições são muito frescas e pela primeira vez não foram muito, tipo... Exercícios de composição, de imaginar situações ou de contar uma história e tal, foi muito autobiográfico, é uma coisa mais rara pra mim. Foi realmente, tipo, o que está acontecendo agora que eu estou pensando, o que está acontecendo com essa turma aqui dos meus amigos, o que está rolando mesmo, e aí eu achei que valia a pena juntar logo isso num disco, como fosse. Não importa se fosse ficar um disco de demos, um disco, tipo caseirão mesmo, que depois eu fosse trabalhar com calma. Isso não estava me importando, sabe? Eu só queria registrar logo, pra depois, passando o tempo, olhar e falar: "ah, foi isso que eu fiz", sabe? Eu queria esse frescor do negócio, sabe? E como foi esse processo de você colocar pra fora tudo que você estava sentindo? Cara, foi bom, porque pude fazer umas coisas que eu pude experimentar qualquer coisa, assim, porque... Se ficasse ruim, o único culpado, o único prejudicado era eu. Então, eu me perdoaria se ficasse ruim. Então, eu fiquei lá, tipo assim, eu não sei direito os acordes, então, eu ficava olhando na internet e gravava um acorde por vez, sabe? Tipo, dava rec e pum, um acorde aí pausava, rec e outro acorde, fazendo umas colagens assim, porque se fosse tentar gravar ia ficar tudo errado, sabe? Então, tipo, sei lá... Vou fazer do jeito que dá, como eu puder. Como era uma coisa que estava realmente sem nenhuma preocupação, eu estava me importando muito com o processo, eu não estava tão preocupado com o resultado. Claro que depois eu fui ficando preocupado com o resultado, mas na hora não. Tipo, eu disse a mim mesmo: "o disco é meu mesmo" e se eu pegar? Teve umas músicas que eu gravei com esse [levanta e pega um fone com microfone embutido] microfoninho super tosco aqui, tipo de call center, de gamer, mas bem tosco, sabe? Tipo: "ah, vamos ver como é que fica", sabe? Tipo, eu gravei com um microfone só, eu usava o celular também… Do piano também, eu até botei o microfone pra cá pra cortar, mas... botei o celular bem na frente, achei que ficou mais legal até do celular. Tem música que era pra ser uma demo, eu... botei no colo, na sala, e no fim, resolvi enfiar ali no meio, dá pra ouvir, tipo, o barulho das portas fechando, dá pra ouvir chuva no fundo, é uma coisa que eu fui experimentando, sabe? Depois eu falei: "não, peraí, tá muito bagunça demais isso aqui, legal que eu experimentei, mas tem que cortar, deixar minimamente apresentável", porque se fosse assim, eu só guardava em casa uma experimentação maluca, né? Aí depois eu me preocupei em dar uma cara apresentável pro negócio, mas ainda mantendo esse frescor, assim, como se tivesse alguém ali vendo eu fazer, sabe? Eu deixei alguns ruídos, eu deixei algumas coisas sobrando, porque eu achei que valia a pena registrar, tipo o microfone na sala que registrou o que estava acontecendo naquele momento, sabe? Aí eu chamei o Renato Medeiros que mixou e masterizou - ele que produziu o Baco Futuro, ele é o cara que eu mais admiro nesse lugar de compositor, desse cara que faz tudo, sabe? Ele compõe, toca e grava e produz tudo, ele é a minha referência. E aí eu pedi a ajuda dele, falei assim: "cara, me ajuda a deixar isso aqui mais bonitinho, porque tá muito bagunça." Aí ele mixou e masterizou, participou, gravou alguns instrumentos e algumas músicas e tal, ele me ajudou a deixar mais apresentado. Como tá sendo expor a sua vida para outras pessoas? Vida Real é um disco muito autobiográfico. Não bate um desespero de estar se expondo demais? Cara, teve uma música que... Algumas músicas... Metade das músicas, por mais que sejam pessoais, são meio generalistas, no sentido de sentimentos coletivos, uma coisa mais... Totalmente verdadeira, mas não especifica, que só caberia a mim, né? Então, essas daí, que foram as que eu fui lançando, algumas delas foram como single, que saíram antes e tal, elas não me deram essa sensação, porque, por mais que fossem pessoais, elas estavam ali numa sensação coletiva, um sentimento de grupo ali, que não me senti exposto, né? Aí teve uma que eu lancei antes, que chama "Tudo Bem" que... Eu nem tava pensando mais nisso, assim, porque eu tava… No processo de lançar, eu tava mais pensando depois nessa parte mais mecânica da coisa, tipo... Tava tratando aquela música mais... já como um produto, eu tava esquecendo o que tinha lá dentro, sabe? Aí depois que eu lancei, as pessoas começaram a falar: "nossa, foi muito corajoso lançar essa música, parece tão pessoal" e aí que deu um pânico, eu falei: "caralho, é verdade!" [risos] Eu meio que tinha esquecido no processo, sabe? Aí deu um cagaço, mas depois relaxei. Fiquei mais calmo e consigo lidar de uma maneira mais… Por mais que seja vida real, eu consigo fazer um distanciamento para eu não me sentir tão exposto, sabe? É uma música, sabe? Tipo, tem um envelope que permite isso. [solta uma leve risada] Mas sim, quando eu me toquei, deu um medo, mas agora tá estabilizado. [risos] Ao ouvir Vida Real , o ouvinte consegue compreender quem é Juliano? Eu acho que sim, eu acho que sim. Lógico que sempre tem uma pitadinha de ficção nas coisas, né, afinal de contas, não é um documentário, é uma obra de ficção, mas com personagens que tem muito a ver com o que eu sou hoje em dia. Acho que dá pra sacar uma postura da vida no meio dessas histórias que é muito próxima da minha postura; o meu olhar tá ali, sabe? São historinhas, é um livro, é uma ficção, cada capítulo tem personagens e tal, mas eu tô ali - eu realmente tô ali! Eu escolhi estar mais ali do que antes, eu estou mais presente nesse disco. Barco Futuro tem a música "Dia de Festa" em que você canta: "eu penso num dia de festa e penso tudo que pode rolar" e no Vida Real , você traz o tema festa novamente. Por que é tão difícil aceitar o término de uma festa e ter que voltar para a realidade? Nossa, boa pergunta. A gente precisa um pouco disso. Esse tema festa é muito presente hoje em dia pra mim, não que eu esteja numa fase muito festeira, mas eu tô valorizando os encontros ainda. Essa música "Dia de Festa" é uma parceira com o Renato, quando ele fez essa parte da letra. Na época, ele tava morando em Minas e fazia tempo que a gente não saia para uma noitada, para o bar e tal, então, ele também fez no contexto de imaginar a gente de novo saindo pra noite, para uma festa, que fosse um bar, porque é sempre uma festa esse tipo de encontro. E aí, agora, nesses dois últimos anos, principalmente, a festa acabou virando também um negócio muito… [silêncio] Tem uma parte da fuga, mas acho que a fuga fica um pouco deprê [risos] , mas não é só uma fuga, é um achado, um lugar. Esse conceito de festa eu acho muito daora, porque é tipo adultos se encontrando pra brincar que nem íamos em casas de amigos, sem pensar no amanhã. Junta, em vez de um monte de criança para ir na casa do Pedrinho, vai um monte de adulto na casa de alguém pra também brincar. [risos] É muito chato a quantidade de problemas que a gente tem, né? É muito chato ter que lidar com isso e a gente tem que lidar, então a gente tem que festejar também, porque se não… Pelo amor de Deus. Vida Real vai além da vida real, ele também traz o dia seguinte da festa, a ressaca, as crises existenciais, talvez, arrependimentos. Como é pra você esse término de festa no álbum? Na parte da produção desse disco, nos instrumentos, na ideal musical mesmo no negócio, como eu tava curtindo muito o processo, teve um aspecto que eu acabei explorando pouco nele que foi o excesso. Acho que tem um pouco disso no imaginário das letras, de que não quer que acabe, de ressaca… Tem uma vontade demais. Musicalmente, eu quis colocar isso em alguns pontos, sabe? Por exemplo, tem em algumas músicas - principalmente em duas - que a parte instrumental é longa, longa, longa, longa, longa porque eu tava querendo passar essa coisa do excesso, porque se fosse editar isso, fazer uma música do jeito mais [há um ruído] , vamos diminuir os elementos, colocar ideias pops, pop não como uma coisa ruim, mas como uma coisa boa, no sentido de objetiva, vamos deixá-la mais direta, teria cortado-a pela metade. Eu tava querendo deixar um pouco de excesso nesse disco também, menos edição, sabe? A vida apresentada geralmente é mais… O que a gente mostra é mais editável, né? A gente edita o que a gente mostra, escolha o que mostrar e o que não mostrar. Nesse disco, até por estar com esse termo vida real, já ia ser assim. Quando eu comecei esse seria o nome do disco, sabia que essa era a abordagem e esse excesso… Às vezes, a gente fala mais do que devia, às vezes bebe mais do que devia, faz uma coisa aqui e ali… Eu quis deixar esse clima, artisticamente falando, no disco. Esse excesso tem alguma ligação com o tempo em que tivemos que ficar trancado na pandemia? Pode ser, pra mim, faz sentido. É meio “eu quero tudo agora.” [faz um barulho com a boca e ri] Na música "Coragem", do Barco Futuro , você aborda o crescimento de duas crianças que se tornaram adultos diferentes do que eram fazendo com que, em algum momento, elas busquem respostas para entender o que aconteceu. Você acha que é necessário coragem para encarar a vida? Acho que sim. Quando eu era criança, minha mãe me acordava, eu sempre atrasava para escola, ela batia na porta do quarto e falava "vamo, coragem!", é uma coisa muito simples, mas no final das contas é fundamental. [risos] Até hoje, quando eu acordo eu falo "puta merda, mais um dia que eu tô fodido" e mentalmente vem um "coragem" e não é brincadeira, tem dias que é difícil sair da cama e [fazer isso] é realmente uma vitória. Tem que ter coragem para várias coisas porque… Eu acho que eu sou muito medroso, por isso, esse tema coragem tá sempre presente no meu imaginário, mas tem que encarar - isso para todos os aspectos, sabe? Mesmo no sentido de trabalho ou uma reunião difícil… Desistir é muito mais fácil e, à princípio, é muito mais prazeroso, alívio imediato… Às vezes é necessário ter coragem para desistir também. Coragem é uma mistura do tipo assim: vamos viver a vida do melhor jeito possível. Não é pra fugir dos medos, mas se tiver que desistir também, tem que ser coragem. Tô parecendo meio dramático, mas tem que fazer. Em "Oração à Música" você literalmente faz uma oração, agradecendo por ela estar presente em sua vida - e mesmo com todas as dificuldades, você segue fiel à ela. Por que continuar quando existem diversos obstáculos? Ela serve com um escapismo da realidade? Cara, acho que sim. O Lourenço Mutarelli disse que a música é uma religião pra ele e aí eu fiquei com isso na cabeça. Tem aquela música "Oração ao Tempo" do Caetano Veloso, dá até raiva de como é boa, e aí eu falei que ia fazer a minha oração à música, resolvi juntar essas ideias, esses conceitos. Eu acho que tem uma coisa de escape, mas tem também uma coisa de… A música, até por ser invisível e por estar por aí, tem uma capacidade de entrar na nossa vida real de uma maneira, como água [utiliza as mãos para exemplificar] , fica difícil de barrar, difícil você passar uns dias sem música, a música chega até você. Então, eu acho que tem uma coisa do escape, mas também tem uma coisa de trazer pra vida, tipo, quando você tá com algum problema - na prática eu acho que é a mesma coisa, mas conceitualmente pode mudar -, em vez de você sair desse problema e fugir para uma música, você traz alguma coisa boa da música para lidar com os seus problemas, sabe? Como a música tem te ajudado nesses anos? Ah, totalmente em tudo. É o que eu mais amo! É realmente o que eu amo fazer - e fazer em todos os sentidos, sabe? Fazer profissionalmente, como hobby ou ouvinte... Ouvir música é bizarro, é uma droga que não tem efeitos colaterais, não te dá ressaca, [risos] não altera o seu comportamento... Quer dizer, altera, mas só de maneiras interessantes, não te traz nada de ruim, é perfeito. Quando você concluiu o álbum, você encontrou uma saída para lidar com a vida real? Eu acho que lidar com os problemas é a melhor solução. Esses dias eu tava falando com o meu pai e ele falou de uma música do Gil [pesquisa no computador a música] , "Retiros Espirituais" [recita-o] : "Nos meus retiros espirituais / Descubro certas coisas tão banais / Como ter problemas, ser o mesmo que não / Resolver tê-los é ter, resolver ignorá-los é ter / Você há de achar gozado ter que resolver de ambos os lados / De minha equação / Que gente maluca tem que resolver" é muito massa! É muito foda! O que o meu pai tava me falando é bem isso: "cara, resolvendo-os ou não, você tem eles", sabe? Em "América do Sul" você diz que encontrou o seu lugar e quer caminhar. Já em "Glória" você diz que caminha sem destino e que pretende encontrar sua glória. Te pergunto: que glória é essa? Eu acho que é meio uma glória da contemplação. [breve silêncio ] Uma coisa que tá muito mais presente nas religiões orientais, uma coisa do tipo "achar esse poder da contemplação", de olhar ao redor e encontrar uma serenidade de reconhecer as coisas boas, sabe? Isso pra mim é a glória. Não é que eu tenho isso, muitas vezes eu não tenho, eu busco. Você começou em um barco sem direção, agora, está na América do Sul caminhando e correndo. Para onde você quer ir? [silêncio, vira o rosto para pensar] Eu quero ficar... Eu quero chegar em uma mistura entre empolgação e serenidade. [risos] É o que eu tô procurando, eu quero ficar em um lugar que eu fique com paz de espírito em relação aonde eu tô, mas empolgado o suficiente pra me mexer também, sabe? Deve ser bem difícil chegar nesse lugar... Existe esse lugar, ainda mais em São Paulo? [risos] Não sei, não sei, acho que deve existir em algum lugar. Dá pra achar na cabeça. Assim como uma festa, a conversa acaba. Lembro, agora, as palavras de Frédéric Gros em Caminhar, Uma Filosofia (Ubu Editora, 2023): "Caminhar é uma questão não apenas de verdade, mas também de realidade. Caminhar é fazer a experiência do real. Não a realidade como pura exterioridade física nem como o que conta como tema, mas a realidade como o que persiste: princípio de solidez, de resistência. Caminhar é experimentá-lo a cada passo: a terra resiste. A cada passo, todo o peso do meu corpo encontra apoio e ricocheteia, toma impulso." Portanto, enquanto existir um corpo cheio de sentimentos vale a pena continuar. Seguimos Juliano Costa nessa vida real.